Já foram três. Este ano ficaram apenas duas: Rosário Telo e Carmo Aranha são as responsáveis pelo atelier de decoração Sá Aranha & Vasconcelos, um dos maiores de Lisboa.

Rosário Telo é engenheira, Carmo Aranha não tem nenhuma licenciatura mas nasceu com um talento raro para a decoração. As amigas começaram por criar peças que vendiam em lojas e hoje são uma marca incontornável na arquitetura e decoração de interiores.

Rosário Telo, que os amigos tratam carinhosamente por Rosarinho e que adquiriu por casamento o apelido Sá, é atualmente com Carmo Aranha a dupla de decoradoras de Sá Aranha & Vasconcelos, uma marca de referência da decoração de interiores em Portugal.

Engenheira civil, Rosário recorda que queria seguir arquitetura mas no 25 de Abril as Belas Artes fecharam e como o pai era engenheiro e em casa eram todos engenheiros, optou por matriculá-la no Técnico. “Não me arrependo nada. Adoro engenharia”, afirma satisfeita.

Depois de 20 anos a trabalhar em estruturas e de ter dado aulas de estruturas no ISEL, Rosário Telo ficou com uma ligação muito forte à engenharia. “A Sá Aranha & Vasconcelos nasceu por acaso, quando nós tínhamos pouco mais de 20 anos e o mais curioso é que nem eu nem a Carminho temos qualquer formação como decoradoras, somos ambas autodidatas”, sublinha.

A engenheira admite que o facto de a mãe ser antiquária e de o pai da sócia e amiga ter uma forte ligação à arte as ter influenciado. “Começámos por fazer umas peças para nós, mas como não era possível fazer tão poucas, arranjámos uma fabriqueta e aí as peças já eram demais. Chamámos as nossas amigas que nos fizeram tantas encomendas que tivemos de mandar fazer mais, e, pouco tempo depois, já estávamos a vender para lojas.” No início eram apenas objectos decorativos mas foi assim que a empresa nasceu.

O sucesso foi tal que de um momento para o outro começaram a exportar. “Era tudo feito fora de horas mas dava-nos muito gosto”, conta Rosário Telo para acrescentar que a empresa começou a adquirir um volume tal que não era possível mantê-la sem a disponibilidade total das sócias. E decidiram fazer disso a sua vida.

Pouco tempo depois já estavam a fazer arquitetura e decoração de interiores. “Éramos muito criativas e aparecemos com materiais inovadores. Fomos nós que lançámos em Portugal aqueles sabonetes miniatura às cores feitos em Portugal. Só num ano vendemos 100 mil. E foi assim que a empresa foi tomando conta das nossas vidas”, conta Rosarinho.

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Quando os projetos se começam a multiplicar, as decoradoras foram pondo de parte os objetos para se dedicarem exclusivamente aos projetos de arquitetura de interiores e de decoração, atividades que são hoje em dia a coluna vertebral da Sá Aranha & Vasconcelos. “Há cerca de três anos voltámos a criar as nossas próprias peças.”

Afinal foi o que fizeram ao longo da vida. “Fomos sempre colocando nos nossos trabalhos peças desenhadas por nós”, e mostra os estofos, mesas e peças de decoração que preenchem o showroom inaugurado há três anos na Rua do Vale Formoso de Baixo, em Lisboa. Agora o objetivo é fazer essas peças em série para exportar.

Com uma equipa de mais de 20 pessoas, Carmo e Rosário orgulham-se de ter alguns fornecedores que trabalham quase em exclusivo para a Sá Aranha & Vasconcelos. “Temos duas fábricas do Norte, uma de mobiliário e outra de estofos, que trabalham praticamente só para nós, para além de estofadores de Lisboa e outras empresas que trabalham só para a nossa empresa”, e reconhece que é uma responsabilidade enorme.

As empresárias fazem questão de enlevar a qualidade dos nossos artesãos que é, aliás, reconhecida fora de Portugal, com a vantagem de não haver dificuldade em fazer pequenas quantidades. “As nossas fábricas permitem fazer remessas mais pequenas para testar o mercado sem obrigar a um grande investimento inicial.”

Referindo-se aos clientes da Sá Aranha & Vasconcelos, Rosário e Carmo revelam que todos procuram um nicho de diferença, nomeadamente, qualidade, conforto e beleza. “Pegamos em peças insignificantes e damos-lhe vedetismo e é isso que as pessoas procuram para os seus espaços e para as suas casas.” Apesar de trabalharem para empresas, lojas e hotelaria, as decoradoras tem-se dedicado quase exclusivamente à decoração de casas.

As sócias e amigas reconhecem que as viagens que começaram a fazer ainda crianças com os pais, sensibilizou-as para a diferença. “A observação é muito importante. As empresas de tecidos que vêm ao atelier dizem-nos que temos um olhar rapidíssimo e o melhor é que esse olhar é convergente”, afirmam para acrescentar que tudo o que fazem é com muita paixão.

As filhas por enquanto não seguem o caminho da mãe, já que só Carmo Aranha tem duas raparigas. “Uma estuda Estudos Europeus e outra está entusiasmada com o mundo da Gestão de Moda. Para já não estão interessadas nesta atividade, mas quem sabe mais tarde mudem de opinião”, desabafa a mãe.

Sobre as próximas novidades, as empresárias revelam que vão ter moda misturada com os objetos de decoração já a partir de Outubro. “Uma cliente está a ver as nossas coisas e como tem pouco tempo, dá uma olhadela nas peças de roupa e nos acessórios, e, se gostar, compra logo aqui”, informa Carmo Aranha, visivelmente entusiasmada com as inovações da sua empresa.

Sobre o trabalho que lhes deu mais prazer fazer, as duas referem o projeto de arquitetura de interiores da Eclaire, “uma loja fantástica com tudo o que é fashion último grito” e que está prestes a abrir no Forum Tivoli, em plena Avenida da Liberdade.

Para as empresárias inovar é uma forma de terem mais polivalência e mais abrangência e de estarem abertas às coisas com a sua experiência e o olhar maduro.

Texto: Palmira Correia