É do Porto, mas divide a sua atividade entre o Porto, Braga e Lisboa.

Tem 48 anos e quando se olha para ela percebe-se que é o melhor exemplo da especialidade que pratica: o anti-aging. É médica por paixão e está feliz por sentir que consegue realmente ajudar as pessoas a ficarem mais saudáveis.

Fomos ouvir Paula Vasconcelos falar de uma especialidade ainda pouco conhecida em Portugal e que se centra nas melhores práticas: tomar antioxidantes, fazer uma alimentação cuidada, praticar exercício físico, ter um sono reparador, optimizar as funções de todos os órgãos e sistemas, entre outras medidas.

Ser médica era o seu sonho de criança?

Ainda bastante jovem fiquei impressionada com a personagem João Semana, nas Pupilas do Senhor Reitor, por isso decidi que ia ser médica de família, e, apesar de já haver números clausus, tive a sorte de entrar em Medicina logo na primeira tentativa, e escolhi o hospital de São João porque era o mais conceituado.

Quando acabou o curso ficou a trabalhar no São João?

Decidi fazer o internato geral no hospital de Santo António, porque era, então, um hospital mais pequeno, mais humano e, na minha perspetiva, uma instituição em que o médico estava mais próximo do paciente.

Essa proximidade com os doentes reforçou a sua intenção se ser médica de clínica geral?

Sem dúvida. Quando tive de fazer o exame da especialidade, há mais de 20 anos, não hesitei em optar pela medicina geral e familiar e assim fiz os três anos de especialidade.

E onde começou a trabalhar depois de acabar a especialidade?

Em Famalicão. Voltei a mudar de local de trabalho e fui para uma zona mais rural. Foi uma experiência muito interessante porque tive contacto com várias realidades e isso fez-me sentir um bocadinho a personagem que me inspirou quando era catraia. Passei a fazer visitas domiciliárias e foi muito bom poder exercer medicina numa abordagem do paciente como indivíduo integrado na sua família.

Sentia-se realizada nesse trabalho?

Com o passar do tempo comecei a ficar frustrada porque apercebia-me que as minhas intervenções na perspectiva da promoção da saúde eram muito limitadas. Aprendemos na faculdade a ir ao âmago da questão no que diz respeito às várias patologias, mas na prática acabamos por não ir, e, na clínica geral, quando é preciso aprofundar um pouco mais, manda-se o doente para o especialista.

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Começou a sentir que tinha um papel passivo de mais para o seu gosto?

Foi aí que decidi que tinha de fazer mais alguma coisa para atender melhor os meus doentes. Tentei perceber o que tornava as populações cada vez menos saudáveis. Com o tempo fui percebendo que o estilo de vida das pessoas e a alimentação que faziam estavam completamente errados, e que teria que intervir mais nessas áreas.

Quer dizer de má qualidade?

Na maior parte dos casos não era por não terem dinheiro, mas por não saberem o que comer. Cheguei a ver famílias paupérrimas a mandarem bolicaos e comidinha de pacote, caríssima, para os lanches das crianças, quando podiam substituir por coisas preparadas em casa muito mais saudáveis.

E foi vendo as pessoas a engordar?

É verdade. Assisti ao aumento da obesidade, ao aumento das doenças cardiovasculares, diabetes, etc., e isso foi-me dando consciência de que tínhamos de fazer mais na prevenção e insistir muito na informação que dávamos aos casais na fase pré-concecional, no acompanhamento da grávida, e depois aos cuidados a ter com a criança; a sua alimentação era terrível! Ao fim de pouco tempo as crianças só comiam de boião e pacotinhos.

As pessoas desabituaram-se de fazer comida em casa?

E quando faziam em casa poupavam nos ingredientes essências e gastavam dinheiro em croissants e pastéis.

Começou a interessar-se verdadeiramente pela nutrição?

Pela nutrição e pela psicoterapia e comecei a frequentar cursos. Até que um dia falei com uma amiga que andava a fazer um mestrado em anti-aging, em Espanha, e nessa conversa percebi que anti-aging e a medicina preventiva eram praticamente a mesma coisa. Desde que não levássemos o anti-aging para a parte estética, mas sim para a medicina funcional e nutrição.

E decide aprofundar os conhecimentos nesta área?

Passei a andar de armas e bagagens: ia todos os meses ter aulas a Madrid para fazer o mestrado, e, de mês e meio em mês e meio, aos Estados Unidos, fazer a pós-graduação na mesma área. Procurei as duas escolas porque são diferentes e complementam-se.

Os portugueses estão recetivos à sua especialidade?

Nem por isso. Percebi cedo que era difícil ficar instalada só no Porto e ter lá clientela que justificasse o meu trabalho, até porque não é exatamente como os cuidados continuados. A pessoa vem três ou quatro vezes à consulta numa fase inicial e depois vem uma ou duas vezes por ano, conforme está mais ou menos equilibrada.

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Por isso decide trabalhar em Braga e em Lisboa?

Sim, essencialmente em clínicas que têm predominância de especialidades médicas, pois entendo que o anti-aging metabólico que pratico fundamenta-se na medicina convencional, integrando conhecimentos de outras áreas das ciências da saúde.

Está novamente de partida para os Estados Unidos?

Vou fazer mais uma atualização. Desta vez vou aprofundar os meus conhecimentos na desintoxicação dos metais pesados, nomeadamente, mercúrio, chumbo, alumínio.

Estas atualizações custam uma fortuna?

É um investimento enorme que eu faço e não é subsidiado por ninguém.

Acabou por encontrar o seu caminho?

Encontrei. Agora sinto que posso ajudar realmente as pessoas a ficarem mais saudáveis.

Quando vem a Lisboa o seu filho já fica sozinho no Porto?

Já tem 18 anos e até fica feliz quando a mãe vem a Lisboa por um dia ou dois. As minhas vindas a Lisboa são semanais e geralmente venho em dias isolados, ou seja, vou e volto. Só quando tenho congressos ou simpósios é que passo cá o fim-de-semana.

Não é muito cansativo trabalhar em locais tão distantes uns dos outros?

Como gosto muito de viajar, não me custa nada. Prefiro a estar fechada no sempre no mesmo sítio, além de que tem a aliciante de trabalhar com populações bastantes distintas umas das outras.

Também viaja por lazer?

Viajar sempre foi um dos meus maiores prazeres. Aliás, quando vou aos Estados Unidos, fazer actualizações, aproveito para ficar mais um ou dois dias para ir conhecer qualquer coisa nova.

Sobra algum tempo para si?

Muito pouco. Estou a organizar-me para ter pelo menos um dia por semana para mim. É muito frequente não ter fins-de-semana.

Consegue ir ao ginásio?

Vou no mínimo duas vezes por semana e em casa faço outras duas vezes.

Relaciona-se com muita gente ou é uma pessoa fechada na sua concha?

Estou no meio desses dois extremos. Tenho uma amiga de infância, amigos da faculdade e alguns mais recentes. Mas o núcleo duro, aqueles com quem me encontro semanalmente, tem cerca de 20 anos de existência.

É uma mãe atenta e preocupada?

Faço um esforço enorme para não ser mãe-galinha, até porque quis muito ter mais filhos e só consegui ter um. Este meu filho é uma dádiva! É um privilégio que eu quero aproveitar ao máximo todos os dias.

Texto: Palmira Correia