Paula Laranjo tem 45 anos, é casada e tem dois filhos com 8 e 15 anos. Vera Moreira tem 41, e também tem dois filhos com 15 e 11 anos.

A organização profissional reflete-se em casa, onde vivem intensamente a vida familiar, e não tem dúvida em se considerarem super mulheres.

O Branco sobre Branco nasceu há 11 anos por iniciativa destas duas amigas, Paula Laranjo e Vera Moreira, que até tinham carreiras diferentes. Paula, embora tivesse estudado na escola António Arroio, trabalhava como secretária numa empresa de arquitetura e construção civil, enquanto Vera estudou na Fundação Ricardo Espírito Santo e trabalhou durante vários anos com Graça Viterbo. “Deixámos os nossos trabalhos e mergulhámos neste projecto de alma e coração”, afirmam as duas.

Embora não fossem amigas íntimas, conheciam-se há muitos anos por intermédio dos respectivos maridos. “Surgiu a oportunidade de juntar o útil ao agradável. Ambas tínhamos interesse em criar a nossa própria empresa e desde sempre percebi que a Paula tinha imenso jeito comercial. Um dia, muito antes de abrirmos a empresa, disse-lhe: Ainda vamos ser sócias”, recorda Vera. E não se enganou. O negócio já tem mais de uma dezena de anos.

Tudo o que estas duas mulheres mais queriam era que as peças de decoração fossem feitas em Portugal. “Os portugueses são muito inseguros, mas ao contrário do que nós pensamos, a nossa mão de obra e a qualidade dos nossos produtos são muito bem vistos no estrangeiro. Temos é alguma dificuldade em pôr em prática e em inovar, porque conhecimento e experiência nós temos”, assegura Paula Laranjo, a mais faladora das sócias.

Orgulham-se da marca que criaram e de a assumir em tudo o que criam. “Tudo o que vendemos aqui e exportamos é desenhado por nós e feito em Portugal, e vai para o estrangeiro com o nome Branco sobre Branco em português”, diz Paula para acrescentar que apresentam duas coleções por ano de mobiliário, iluminação e acessórios em Paris, na Maison et Objects, um salão direcionado a profissionais na área da decoração, arquitectos, decoradores e empresários ligados a esta área.

As coleções saem de Lisboa num camião TIR e até o stand é construído em Portugal por uma equipa portuguesa que acompanha as decoradoras a Paris. “Os nossos clientes são lojas, arquitetos, decoradores, hotelaria e restauração. Aí os nossos clientes são 99 por cento estrangeiros, nomeadamente dos EUA, Rússia, Japão, a Europa toda e até alguns países africanos”, esclarece Paula.

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Actualmente, cerca de 90 por cento do trabalho destas duas decoradoras é absorvido pela exportação. “Isto só é possível com uma dedicação exclusiva e total à empresa”, afirmam as duas. Segundo as empresárias, o Branco sobre Branco tem duas vertentes: a comercialização e a decoração de interiores, da responsabilidade de Vera Moreira. “Essa é a parte mais nacional e aí as pessoas estão mais receosas de investir”, sublinha a decoradora para acrescentar que fazem projectos para hotelaria, restauração, escritórios e também particulares.

A crise deixa as pessoas numa grande expectativa e nos últimos tempos a indecisão é enorme. “Há uma grande dificuldade em conseguir empréstimos bancários e talvez por isso os empresários estão mais cautelosos. No entanto, e apesar de alguma recessão, estamos com bastante trabalho, sublinha Vera que faz questão de respeitar a história de cada cliente em cada decoração que faz e de fazer de cada trabalho um acto específico.

As peças Branco sobre Branco são fabricadas no Norte mas também em Lisboa. “Este trabalho de fidelização de clientes exige uma enorme dedicação. Começamos a fazer feiras logo no início, primeiro em Portugal, no Porto e em Lisboa, depois em Madrid, até que decidimos que podíamos internacionalizar mais a marca e fomos para Paris. Mandamos o nosso portfolio para a Maison et Objects, fomos aceites e há oito anos que estamos lá.” Hoje Paula e Vera orgulham-se de ter clientes fidelizados em toda a parte do mundo.

O sucesso internacional da dupla deve-se à forma original como apresentam os produtos. “Os nossos clientes quando chegam ao nosso stand, não compram só uns móveis, uns acessórios ou uns candeeiros, compram também um conceito. E muitos querem transportar para a sua loja ou para um projecto que estão a fazer, a forma como as coisas estão expostas”, afirma Paula Laranjo para sublinhar que a imagem é importantíssima: Nos stands de Paris ou no showroom da Rua de São Paulo nada está posto ao acaso.

Paula gosta de dizer que não trabalham à portuguesa: “Somos muito organizadas. É uma questão cultural e ao fim de tantos anos de experiência, vemos isso. Os portugueses têm alguma tendência a deixar as coisas para o fim, e lá fora é diferente. A concorrência é enorme e nós temos de marcar a diferença. Se não formos cumpridoras, se não entregarmos as coisas a tempo e horas, não dermos respostas rápidas, se não formos simpáticas e agradáveis para os nossos clientes, perdemos competitividade”, admite.

Cientes de que a empresa começou do zero, Vera e Paula sabem que a Branco sobre Branco tem crescido à custa do empenho e dedicação das duas, por isso uma grande fatia do lucro é reinvestido todos os anos na empresa. “Passo a passo essa é a única hipótese de uma empresa poder crescer”, afirmam.

O trabalho que fazem dá-lhes tanto prazer que até quando viajam nunca descuram a observação. “Para além do lazer, tentamos ir jantar a um restaurante diferente, visitar um hotel diferente ou até mesmo ficar num determinado hotel para sentir o que os outros decoradores andam a fazer pelo mundo”, contam as empresárias para acrescentar que as viagens não servem só para relaxar mas também para aprender. “Tudo nos inspira”, garantem.

Os maridos de ambas têm outras actividades profissionais e não interferem na empresa das respectivas mulheres. O máximo que fazem é dar-lhes apoio nas feiras em Paris. “Passam o fim de semana connosco, visitam-nos na feira, dão opinião sobre os stands e levam-nos a jantar fora. São solidários só para a parte boa”, comentam a rir.

Texto: Palmira Correia