É uma mulher do mundo: nasceu em África, viveu em vários países, fala cinco línguas, e foi a primeira autora portuguesa a escrever um livro de pilates. Concebeu-o pensando na comunidade médica portuguesa, dá aulas no seu próprio estudio, construído de raiz para si e a sua equipa no Clube de Ténis do Estoril, e ensina o método há 12 anos a quem quiser aprender com ela.

Maria Larsen, de 48 anos, mãe de um rapaz de 19 anos que está a estudar música em Copenhaga, e de uma rapariga de 14, ama profundamente o que faz e contagia tudo e todos com o seu entusiasmo.

Tem um apelido que não é português. Qual é a origem Larsen?

Do dinamarquês e de um casamento que já terminou.

Como começa o seu percurso profissional?

Comecei a fazer dança quando era muito pequenina com a Maria Helena Coelho, em Luanda (nasci em Angola) e o balé tornou-se algo muito sério na minha vida, até que em 1975 vim com a minha família para Portugal

Quando chegou cá, continuou a dançar?

Sim. Dancei na Gulbenkian e fiz dança jazz com o Rui Horta, que foi um dos pioneiros da dança jazz em Portugal. Aos 16 anos decidi ir para os Estados Unidos um ano com a AFS (American Field Service) uma bolsa de estudo intercultural.

Deve ter sido uma experiência fabulosa para uma jovem de 16 anos?

Foi embora estivesse convencida que ia fazer um ano de Maria Mendes Larsen pausa porque nesta altura saía de casa para as aulas em Lisboa às 7h e regressava às 23h ou meia-noite. Isto porque depois do liceu ia aprender francês e inglês nos institutos de línguas que havia na altura, e ainda tinha as aulas de dança.

Viveu onde nos Estados Unidos?

No local mais improvável: em Little Rock, no Arkansas, onde, na altura o Bill Clinton era governador. Conheci bem o Bill Clinton e até privei com a família dele durante algum tempo. Fiz o liceu como qualquer jovem da minha idade e acabei por ter aulas de dança na Universidade de Little Rock onde estagiei com uma companhia de bailado contemporâneo muito boa. E lá se foi o descanso...

Já não volta mais a Portugal?

Voltei nesse ano já com algumas lesões. E foi por causa de uma dessas lesões que tive o meu primeiro contacto com o pilates ainda nos Estados Unidos por recomendação de um professor de dança. Tive a perfeita noção que o pilates era o método que melhor ensinava o movimento e que me poderia dar as ferramentas que precisava para conhecer melhor o meu corpo e a forma de o trabalhar sem o magoar

O pilates foi uma agradável surpresa?

Foi. Percebi de imediato que o pilates me ia trazer material para compreender o movimento de uma forma completamente inovadora. E isso teve um impacto enorme na minha vida. Sendo o pilates um método corretivo que ensina biomecânica e ensina movimento dentro daquilo que é a nossa capacidade de estabilizar, mobilizar e fazer força sem magoar, só então percebi que a relação que eu tinha com o meu corpo era de esforço e excesso.

Dedicou-se logo ao pilates?

Ainda não, mas ficou guardado numa caixinha. Continuei a dançar mas as lesões foram-se agravando até que chegou uma altura em que tive de abandonar a dança. Fui então tirar Relações Internacionais, o curso que menos me comprometia porque era, basicamente, um curso de cultura geral.

Estudou em Portugal ou no estrangeiro?

Estudei cá mas viajava muito entre a Dinamarca e Portugal porque o meu ex-marido, que eu tinha conhecido nos Estados Unidos, já estava a morava lá. No final do curso mudei-me para Copenhaga onde continuava a fazer dança mas já de uma forma menos séria... Simultaneamente, e, como fui sempre muito estudiosa, tirei um MBA em Marketing e Gestão.

E identificou-se com o curso?

De facto, não tinha nada a ver comigo mas como naquela altura estava a trabalhar para uma empresa de Marketing em Copenhaga, achei que fazia sentido. Entretanto, mudámo-nos para Portugal, onde já nasceu o meu primeiro filho, e, nesse mesmo ano, decidi ir fazer o curso de Pilates para Londres.

E percebeu que era mesmo isto que queria fazer na vida?

Desde aí nunca mais me liguei a mais nada a não ser ao pilates. Fiz a certificação toda

atravésda Body Control em Londres, pela Associação de Pilates inglesa, e através da Body Control Europe de Gordon Thomson. Passei oito anos da minha vida a ir e a vir a Londres onde acabei por fazer a certificação do pilates todo. Ainda estive nos Estados Unidos a fazer workshops que me permitiram conhecer outras escolas e outras tendências.

Onde abriu o seu primeiro estúdio de Pilates?

Aluguei um espaço na Rua de Inglaterra, no Estoril, e, de um dia para o outro, a Maria, sem uma única máquina, tinha o Estoril inteiro à porta. Pouco depois já tinha um professor a trabalhar comigo e nunca mais parei de crescer. Acho que passei pelo processo normal de uma pessoa que começa um projeto com paixão e que depois vem a constatar que acaba por construir uma carreira inteira com base nessa mesma paixão!

Nessa altura não teve mais dúvidas de vocação?

Nunca mais tive. Senti que era mesmo aquilo que eu queria fazer a minha vida toda. E já tinha mais de 30 anos... Fui comprando as máquinas, e, pouco tempo depois, tinha o estúdio todo montado e agora já é o maior estúdio de pilates em Portugal. Entretanto, fiquei a representar a Body Control Europe de Gordon Thomson em Portugal.

Do primeiro estúdio veio logo para o Clube de Ténis do Estoril?

Ainda passei para a Rua Camões para um estúdio muito maior, e, nessa altura, a Contramargem contacta-me para escrever um livro de Pilates, e entregaram-me um projeto para escrever o meu livro de Pilates sem qualquer condicionalismo, e, durante dois anos, fiz este livro para a comunidade médica portuguesa, onde arrumei tudo o que aprendi ao longo de 12 anos. O livro foi publicada há dois anos. Tem um prefácio do Professor Jorge Mineiro, um cirurgião muito reconhecido, presidente da Associação de Ortopedia na Europa, o que me enche de orgulho. Ainda tenho um texto da Fátima Menino, presidente da Associação de Osteopatia, e o nome sonante do Pilates, o Gordon Thomson, que é um dos autores mais vendidos em todo o mundo.

Está realmente feliz com o que conseguiu?

Estou e tenho o privilégio de ter a única equipa certificada em Portugal.  Mas onde reside a maior satisfação é na quantidade de pessoas que ajudamos diariamente quase 365 dias por ano e que são desde crianças e adolescentes até aos cidadãos seniores, atletas, ou simplesmente pessoas normais que encontram a forma mais inteliente de treinar os seus corpos e de se manterem saudáveis e móveis.

Quantas pessoas tem a equipa?

Somos sete.

Qual é o seu próximo projeto?

Fazer a certificação da formação em Portugal. Queremos formar professores de pilates com a metodologia body control, na minha opinião, a mais moderna e revolucionária no mundo do pilates com a maior equipa de especialistas reconhecidos em todo o mundo.

Como ocupa os seus tempos livres?

Faço meditação há dois anos e meio, um método de ioga da mente Indiano chamado Sahaj Marg, gosto imenso de correr porque o ar livre é muito estimulante, de ler, estar com outras pessoas e viajar. A Índia é muito especial para mim e é onde eu sinto que carrego baterias a sério.

Está feliz?

Sou completamente apaixonada por aquilo que faço.