É pintora por convicção e paixão! Estudiosa compulsiva, nunca perdeu a vontade de saber o porquê das coisas. Por isso, prepara-se exaustivamente para os temas que quer pintar.

Isabel Nunes orgulha-se de fazer parte do espólio do Vaticano e de estar representada em instituições oficiais em Macau.

A sua pintura está, aliás, espalhada pelos quatro cantos do mundo, os mesmos onde já fez exposições de grande sucesso.


Quando começou a pintar?

Andava no liceu, tinha 11anos, quando me entusiasmei a pintar. Todos os momentos eram um bom pretexto para poder exercitar, mas era sobretudo nas férias escolares que me dedicava a ler e a estudar para saber "como pintar".


Em adolescente pintava o quê?

Em adolescente, altura que designo pela fase do despertar, só pintava retrato, foi por essa altura que descobri que o meu bisavô e trisavô eram retratistas, o trisavô com obra no Museu Soares dos Reis e no Palácio da Bolsa no Porto.


Para si a formação artística era importante?

Absolutamente. Há razões que não se explicam no momento, somos levados com determinação, só sei dizer-lhe que sentia uma enorme vontade de aprender mais e mais.


Sentiu logo uma grande adesão e entusiasmo à sua pintura?

Foi em Macau, onde vivi cerca de cinco anos, que realizei a primeira exposição, com mais dois colegas da Academia de Artes Visuais. A minha pintura teve realmente uma enorme adesão, tendo sido toda vendida num repente, e, a partir daí, começaram a telefonar-me a pedir mais quadros.Foi então que decidi, ainda em Macau, fazer a minha primeira exposição individual.


E depois de regressar a Portugal?

Depois fiz estágios em Itália, em Inglaterra, na Slade School of Fine Arts, e também fui aluna do mestre Lagoa Henriques. Continuei a fazer exposições individuais e a participar em coletivas.


A história está sempre presente na sua pintura?

Digamos que sim, na medida em que funciona como um veículo de inspiração. Conjugo a investigação, a história e a pintura para criar as minhas próprias histórias carregadas de sonho e de mistério.

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É inquieta. Está sempre à procura de uma razão para as coisas?

Sou inquieta porque preciso de entender o ser humano e o seu mundo, aí se explica, em parte, eu recorrer à história conforme traduzem as minhas palavras do texto do catálogo da "A Geração de 500": "Em frente à tela, de pincel na mão, num gesto guiado pela emoção, lanço as cores dos sentimentos, em movimentos de vai-vem entre o passado e o presente. Represento aquilo que fomos, o que somos, a face do passado, o rosto do presente (...)".


Até que surge a sua obra no Vaticano. É a sua coroa de glória?

Sem dúvida que é para mim uma grande honra, no entanto considero que a "coroa de glória" de um artista é construída ao longo da sua carreira por vários momentos de excelência, e ter um S. Bento pintado por mim no Vaticano faz parte dessa coroa.


Pinta o dia inteiro? Como é o seu dia?

Costumo ocupar a manhã com a pesquisa, investigação e o estudo dos conteúdos temáticos que quero trabalhar. O resto do dia dedico-o à pintura, muitas vezes pela noite fora.


Pinta pela noite dentro sem se aperceber do tempo a passar?

Sim, mas não é obrigatório. Diria que acontece quando tem que acontecer, no entanto perco-me no tempo, como um diálogo infinito.


A maior angústia do pintor é saber quando o quadro está pronto. Sabe sempre quando termina o quadro?

Nunca se sabe quando um quadro termina, sente-se. Não sou uma pintora de acabar e voltar a pegar no mesmo trabalho, consigo, sem angústia, decidir o momento de pousar o pincel.


Qual é o tema privilegiado da sua pintura?

A minha pintura traduz a alma lusa, e traduzo a sua identidade através de temas relacionados com a nossa história e com o mundo das arquiteturas materiais e espirituais.


Também pinta muito a mulher...

A mulher faz parte desse denominador comum, sendo um tema constante da minha pintura. A mulher que eu recrio é sensual, misteriosa transmitindo ao mesmo tempo força e doçura, direi a essência da mulher lusitana!


Qual foi o momento alto da sua carreira?

Os momentos mais altos vão acontecendo. Neles incluo, entre outros, ter feito parte das celebrações dos 500 anos da Cidade do Funchal; das celebrações Oficiais do Dia de Portugal em Macau; e mais recentemente, em Braga, Capital Europeia da Juventude, no Átrio dos Gentios, e a publicação do livro com a minha pintura, " Crer, Imagens de Uma Aventura" da autoria de D. Carlos Azevedo.


As suas últimas exposições têm sido em Lisboa?

As últimas exposições, ainda este ano, para além de Lisboa foram também em Macau e em Braga.


Quando não está a pintar o que a diverte?

Depende do tempo disponível. Gosto muito de ler, viajar, visitar museus, assim como de ir a um espetáculo e de estar com amigos.


Viaja com o propósito de ver determinado museu ou determinada obra?

Sim, já o tenho feito, contudo em todas as ocasiões em que viajo a arte é sempre contemplada.


O que a comove?

Comove-me o bem e o mal. Tanto me pode emocionar profundamente uma manifestação boa e bela, como com uma tragédia.


Quem a inspira?

Eu. Encontro-a na cor e no mundo que me cerca como reação às emoções que me desperta.


Está de bem com a vida?

Estou. E posso dizer-lhe também que me sinto feliz enquanto pinto.

 

Texto: Palmira Correia