É brasileira do Rio Grande do Sul, tem 35 anos, e conheceu o marido, Armando Garcia, um conceituado oftalmologista português, numas férias no Rio de Janeiro. O amor falou mais alto e, menos de um ano depois, Betina Garcia aterrava em Lisboa para construir a família com que sempre sonhou e dar inicio à sua carreira profissional como médica oftalmologista. Abriu em Cascais a Laserocular, uma clínica que é um projecto do casal e onde Betina se sente muito bem.
Está em Portugal há quantos anos?
Fará em Janeiro oito anos. Cheguei aqui médica com a minha especialização totalmente feita no Brasil.
E chegou aqui porquê?
Quando estava a terminar a pós-graduação, um dia fui de férias para o Rio de Janeiro e conheci o meu marido à beira mar.
É uma coincidência muito curiosa…
É verdade, estava à beira da praia com uma amiga que tinha sido minha colega no Rio. De facto, formei-me no Rio Grande do Sul, na Universidade Federal de Pelotas, depois fui para o Rio de Janeiro fazer dois anos de oftalmologia e depois fui para São Paulo fazer mais dois anos. Estava no último ano da minha formação em São Paulo quando decidi ir passar férias ao Rio.
Onde o seu marido é surpreendido com a presença de duas colegas da mesma especialidade?
Acho que ele nos ouviu falar de oftalmologia e por isso meteu conversa connosco. No Brasil é o amor de Verão que sobe a serra. Como o litoral brasileiro tem quase sempre montanha, nós costumamos dizer que o amor que sobe a serra é o que dá certo. Foi o nosso caso.
Veio logo de seguida para Portugal?
Não. Conhecemo-nos no carnaval mas como ainda estava no último ano da especialização, namorámos à distância até Janeiro do ano seguinte. O meu marido ia ao Brasil quase todos os meses e eu vim duas vezes a Portugal.
O namoro estava a sair-lhes caro…
Como empresários empreendedores achámos que valia mais a pena iniciar este projecto e optámos por vir eu para Portugal porque o meu marido já tinha aqui uma carreira consolidada de mais de 10 anos como oftalmologista, enquanto eu ia começar a minha vida profissional.
Veio apaixonada. É uma grande razão.
É verdade. Vim atrás do homem que eu amo e com quem acreditava que ia ser feliz.
Adaptou-se bem a Lisboa ou morre de saudades?
Adaptei-me muito bem. Mas também porque eu sou uma pessoa que se adapta bem a qualquer coisa e me adaptaria a muitos lugares. Sou uma pessoa fácil que não gosta de dramas nem de valorizar de mais as coisas. Claro que ajudou a forma como fui recebida, desde as oportunidades de adaptação que o meu marido me proporcionou até à família dele, nomeadamente as minhas cunhadas e sogra.
Assim é mais fácil.
Também ajudou o facto de eu morar sozinha desde os 16 anos. A minha família morava numa cidade pequenina no interior do Rio Grande do Sul, estado fronteira com a Argentina e com o Uruguai, e para estudar medicina fui obrigada a sair da minha cidade e fiz toda a faculdade e a especialização a morar sozinha.
O que a fez escolher esta especialidade?
Quando entrei achei que ia ser pediatra, mas percebi cedo que o facto de gostar de crianças não significava que fosse tratar delas. Uma coisa é gostar de crianças, outra é ter força e energia para as ver doentes umas atrás das outras. Vi logo que não tinha estofo para isso.
Teve outras opções pelo meio?
Passei pela medicina interna nos estágios normais na faculdade e fiz grandes estágios em nefrologia, intensivismo (UTI) e percebi que aquilo era uma vida muito sacrificante e muito dura, que envolvia bancos, emergências e casos muito graves, e, por mais que sentisse que a medicina é uma coisa muito importante na minha vida, sempre tive planos maiores: queria ter uma família, filhos saudáveis, e um casamento feliz!
Aí surge a oftalmologia como opção para ter essas coisas todas?
Inscrevi-me em estágios de dermatologia, otorrino e oftalmologia e o primeiro que fiz foi o de oftalmologia e adorei. Fiquei tão fascinada que já nem experimentei as outras especialidades. Foi um amor à primeira vista!
Quando chegou a Lisboa foi fácil conseguir as equivalências?
Foi, porque as universidades federais brasileiras têm um convénio com as universidades portugueses. Resolvido o problema burocrático, um ano depois, comecei a trabalhar numa clínica em Algés.
Têm uma filha com cinco anos?
A Laura vai fazer cinco anos em Setembro. E é sensacional. O grande feito da vida é isso!
Não há nada melhor na vida do que ser mãe?
Não, não há. Compreendi o que é ser mulher e todas as opções da minha mãe no dia em que fui mãe. Emociono-me sempre que falo disso porque muitas vezes questionei as opções da minha mãe e no dia em que a minha filha nasceu, olhei para a minha mãe e tudo fez sentido.
Vê a sua mãe com regularidade?
Trouxe-a para Portugal. Depois de 20 anos, tenho a minha mãe de volta.
Por isso também custam menos as saudades…
As saudades não são fáceis. E quando me perguntam se tenho saudades do Brasil, claro que não. A saudade não é do país, da cultura ou da beleza, é da minha mãe, do pai, dos meus irmãos, das avós e tias, das minhas amigas. Das pessoas que eu amo.
Vai regularmente ao Brasil?
Vou muitas vezes. Comecei a levar a minha filha com cinco meses e ela tem uma relação muito próxima e afetiva com a família do Brasil. A minha filha ainda tem duas bisavós.
A clínica Laserocular é um projecto seu e do seu marido?
Abrimos a clínica em Cascais há três anos e é um local maravilhoso. Tem muito empenho nosso e julgo que conseguimos criar uma equipa que compreende muito bem a nossa intenção de prestar um serviço de muita qualidade, não só de qualidade técnica nas consultas, exames e cirurgias oftalmológicas, mas também de satisfação global dos nossos pacientes. Adoro trabalhar aqui.
Está bem com a vida?
Muito bem. Tenho muita sorte e até costumo dizer que tenho um anjo da guarda sensacional.
Tem algum hobi?
Adoro música especialmente bossa nova e jazz e coleciono tudo.
Um gosto?
Tenho tendência a ter hábitos de vida muito saudáveis e julgo que consegui transmitir isso ao meu marido e à minha filha. Treino em casa três vezes por semana e alimentamo-nos bem.
Texto: Palmira Correia
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