O trabalho desempenha um papel significativo nas nossas vidas, influenciando a nossa saúde mental para além de fatores genéticos, fisiológicos e ambientais. Idealmente, os locais de trabalho devem criar ambientes que elevem os níveis de serotonina e oxitocina, enquanto minimizam o cortisol. Esta mudança encoraja os funcionários a abordar os desafios laborais com uma mentalidade orientada para soluções.
Nahal Yousefian, Vice-Presidente de Recursos Humanos da Netflix, fala-nos sobre isso numa entrevista a propósito da sua vinda a Portugal para participar na 3.ª edição do Happiness Camp, que se realiza a 17 de setembro, na Alfândega do Porto.
Sentada à mesa das grandes decisões na Netflix, líder no mercado de streaming ao nível global, Nahal Yousefian remete-se à sua experiência no terreno a lidar de muito perto com colaboradores, para apontar 5 áreas-chave que os líderes inspiradores devem priorizar e gerir eficazmente de forma a promover a saúde mental nas empresas.
1. Alinhar Palavras e Ações
Um comportamento da liderança inconsistente, com promessas não são cumpridas ou desfasamento entre as experiências de clientes e colaboradores, cria stress e frustração. “Para apoiar verdadeiramente os colaboradores, as organizações devem garantir que as suas ações estão consistentemente alinhadas com os seus valores declarados.”, explica.
2. Priorizar as Pessoas em Detrimento dos Processos
Criar espaço para o pensamento critico é um ponto enfatizado por Nahal Yousefian afirmando que: “Os processos devem melhorar, e não substituir, o pensamento crítico e o julgamento. Workflows excessivamente complicados podem sufocar a criatividade e fazer o local de trabalho sentir-se mecânico. Processos e tecnologias eficazes devem capacitar os colaboradores, promovendo um ambiente onde a criatividade e a inovação prosperem.”
3. Despedimentos em Nome da Preparação para a Mudança
Reorganizações e despedimentos frequentes, muitas vezes justificados em nome da agilidade, são contraproducentes, defende. “A verdadeira agilidade surge de uma equipa estável e bem apoiada, que pode adaptar-se sem o medo de perder o emprego. Disrupções constantes corroem a confiança e sufocam a produtividade, criatividade e inovação. A estabilidade, aliada a uma gestão da mudança intencional, é essencial para construir uma força de trabalho resiliente e ágil. Os despedimentos devem ser a exceção, não a regra.”, destaca.
4. Responder às Necessidades Fundamentais
Outro ponto importante será priorizar o acesso a cuidados de saúde e recursos de bem-estar, colaborar com os colaboradores nas adaptações necessárias e promover a inclusão. “Quando estas necessidades não são satisfeitas, contribui para o aumento do stress e para uma capacidade reduzida, impactando tanto a saúde mental como física.”, esclarece. Coloca a inclusão como um fator preponderante, considerando a necessidade de criar um espaço seguro e inclusivo que envolva uma aprendizagem contínua sobre as pessoas, processos estruturados e políticas para garantir equidade, e avançar para além de ver as pessoas como gostaríamos que fossem, apreciando-as como realmente são.
5. Curadoria de Conteúdo de Formação
“Em vez de criar constantemente novos materiais, foque-se em selecionar recursos relevantes.”, remata. Acredita que o futuro do trabalho depende de desbloquear o potencial dos colaboradores e prepará-los para se adaptarem a novos desafios e tecnologias.
Medo, o maior obstáculo à felicidade
Quando questionada sobre qual será o maior entrave à felicidade no trabalho, Nahal sublinha que, seja no trabalho ou na vida pessoal, o obstáculo é o mesmo: o medo. Quer o medo de perder, quer o medo de não ter. Ambos têm um efeito esmagador sobre a dita felicidade.
Clarifica também que a felicidade pode ser um conceito enganador, na sua opinião. “Quando pensamos em felicidade, muitas vezes imaginamo-nos a sorrir de orelha a orelha, como se estivéssemos sempre num estado perpétuo de euforia. Pessoalmente, a satisfação reflete de forma mais precisa o que eu procuro. A satisfação é sobre um sentido profundo de paz e realização que não depende de fatores externos constantes. Também é ingénuo pensar que podemos eliminar completamente o medo ou estar totalmente livres dele.”, explica.
Saúde Mental e o Happiness Camp
De acordo com dados da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, 16,5% da população em Portugal sofre de perturbações de ansiedade, as perturbações do humor têm uma prevalência de 7,9%, e as doenças mentais e do comportamento correspondem a 11,8% da carga total das doenças no país — uma percentagem que supera a das doenças oncológicas e fica apenas atrás das doenças cérebro-cardiovasculares, refletindo o agravamento da saúde mental em Portugal.
Foi com o objetivo de enfrentar esta realidade e contribuir para um futuro mais promissor nas empresas, surgiu o Happiness Camp.
Na sua 3.ª edição, a realizar-se a 17 de setembro na Alfândega do Porto, são esperados mais de 15.000 participantes de mais de 50 nacionalidades, incluindo profissionais e empresas, todos com o interesse comum de promover a sustentabilidade humana nas organizações.
A intervenção de Nahal na conferência Happiness Camp 2024 irá apresentar estratégias práticas para fomentar uma mentalidade de inovação contínua nos colaboradores, destacando a inclusão como um fator essencial para o desenvolvimento de perspetivas diversificadas e criativas. A oradora abordará como capacitar a força de trabalho para desafiar o status quo e pensar para além dos limites convencionais, explorando técnicas que incentivam um ambiente de trabalho favorável à resolução criativa de problemas e à tomada de riscos, de forma a garantir que a inovação e a inclusão se tornem mais do que meros chavões, mas sim pilares essenciais nas organizações.
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