Nunca utilizou o apelido de casada, Prates, mas de solteira, Silvano. Responsável pela direção de galerias e edições do Centro Português de Serigrafia, Alexandra Silvano expõe até final de Dezembro, nas Twin Towers, alguns dos nossos melhores artistas plásticos, numa mostra denominada “Felizmente há a Arte”. Apesar de lidar com pintura contemporânea, Alexandra cultiva a tradição. “As minhas origem e coração estão em Vila Nova de Foz Coa!”, assegura.

Como foi o seu percurso académico e profissional?
Sou licenciada em Arquitetura de Interiores, pelo IADE, e tirei o curso de modelista. Iniciei a minha carreia no ateliê Fernando Jorge Correia, na altura com o projeto de remodelação do Casino do Estoril. O meu percurso conta com vários projetos de espaços comerciais e reabilitação de prédios para habitação, em Lisboa. Lecionei na António Arroio, e, mais tarde, fui, durante sete anos, júri convidada para as Provas de Aptidão Profissional do curso de Design da Casa Pia.

Só a seguir é que surge o seu trabalho nas galerias?
A minha ligação às artes plásticas iniciou-se há 20 anos quando conheci o meu marido, António Prates. Comecei pelo ateliê, onde são produzidas as edições apresentadas aos sócios CPS e depois seguiram-se as galerias. Contamos com cinco espaços em Lisboa: A Galeria São Bento, com 30 anos, a Galeria António Prates, inaugurada em 1996, e o Centro Português de Serigrafia (CPS), com 27 anos, que conta com três espaços: em S. Bento, nas Galerias Twin Towers e no CCB.

O objetivo foi democratizar a arte?
Sim, sem dúvida! O CPS quer proporcionar o acesso à arte a um público mais vasto, convidando artistas de todo o mundo. Posso dizer-lhe que a edição número um foi de Manuel Cargaleiro, que, nessa altura, já tinha grande projeção em Portugal, seguido de Maluda, Lima de Freitas, Cesariny e Cruzeiro Seixas que nos tem acompanhado ao longo da nossa existência.

Mas também têm artistas jovens?
Claro que sim. Jovens artistas que pensamos sejam os mais promissores. Com a abertura da galeria António Prates abrimos o canal da internacionalização. A partir daí o CPS começou a editar obras de artistas internacionais de grande relevo.

Os nossos artistas também se impõem lá fora?
Infelizmente não. Só os grandes nomes que todos conhecemos, Paula Rego, Vieira da Silva, e agora Joana Vasconcelos.

As pessoas compram serigrafias com a mesma alegria que compram originais?
É um público diferente. Normalmente o cliente que não é conhecedor inicia a sua coleção por paixão e por valores mais baixos, a obra gráfica. Como trabalhamos com mais de 300 artistas, e até agora já editámos mais de mil serigrafias, 400 gravuras e litografias, é mais fácil a escolha. Só mais tarde e de forma mais racional é que o cliente dá o salto para a aquisição de originais.

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E têm a vantagem de ter o próprio atelier que produz as vossas obras...
O ateliê, é a nossa mais-valia. Qualquer artista fica apaixonado pelo ateliê.
Desde serigrafia, gravura, litografia passando pela impressão digital, são técnicas que dominamos na perfeição. E depois tem a outra componente que é permitir ao artista acompanhar todo o processo de desenvolvimento da sua obra, interligando várias técnicas.

Isso deve ser muito gratificante para os artistas...
A maioria dos pintores só fez litografia e gravura quando da sua formação académica. Agora, têm a oportunidade de terem um atelier para trabalhar e poderem desenvolver os seus projetos com todo o apoio e conhecimento do Mestre Marçal e seus filhos.

Nesta iniciativa “Felizmente há a Arte”, contam com artistas muito consagrados.
E não só. Com este evento, mais uma vez estamos a apresentar artistas consagrados - Cruzeiro Seixas e Noronha da Costa, mas também artistas que já contam com um notável currículo - Gracinda Candeias e Sofia Areal, e um jovem artista - Gabriel Garcia, que nos recorda Bosh através de um imaginário contemporâneo muito criativo e algo irónico.

Gosta genuinamente de arte?
Nasci rodeada de Arte, é uma tradição que vem de família!

Sai de Portugal para ver museus?
Viajo com mais frequência em trabalho. Visito os ateliês dos artistas e essa é sem dúvida a experiência mais gratificante e enriquecedora. Quando não tenho reuniões agendadas então procuro visitar museus e exposições.

Já alguma vez pintou?
Não. Era incapaz, sou tão crítica que nunca chegaria a concluir qualquer obra dado a minha exigência. Prefiro ficar pela organização de exposições nas nossas galerias, com a escolha das obras e paginação dos catálogos. É esse de facto, o trabalho que eu mais gosto de fazer.

A crise está a dificultar o negócio da arte?
A crise é geral, dificulta e muito este negócio.

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É verdade que nas crises é a melhor altura para investir em arte?
Sem dúvida, o nosso conhecimento e experiência em arte como é vasto, existem vários colecionadores que se aconselham e estão a aproveitar a oportunidade para fazer alguns investimentos.

Trabalha com pintura e escultura.
Trabalhamos mais com pintores. A escultura é mais difícil de vender. Normalmente os valores também são mais elevados o que dificulta a procura.

Como é um dia típico?
O meu dia começa às 7h. Como tenho duas crianças de 6 e 14 anos, primeiro faço o percurso dos colégios chegando à galeria por volta das 10h. Articulo o tempo o melhor possível para o rentabilizar. Termino às 17.30h. Faço questão de ser uma mãe presente acompanhando o crescimento e formação dos meus filhos.

Os seus filhos gostam de arte?
Gostam desde pequeninos. De tal forma que o meu filho mais velho quando era bebé sempre que trocávamos um quadro em casa ele notava. O mais novo com quatro anos, levei-o a visitar a casa das histórias da Paula Rego, e chamaram “boneco” a um porco, ele corrigiu a pessoa e precisou: “Isto não é um boneco, é uma escultura!”

Tem algum hobby?
Gosto muito de jardinagem e de cozinhar. São atividades que exigem muita criatividade.

O que a descansa?
A música e o convívio com amigos.

Onde passou a infância?
Em Vila Nova de Foz Côa, onde todas as minhas raízes influenciaram de uma forma muito positiva a minha vida. O contacto com a terra quando era criança é que me deu esta estrutura e o gosto por cultivar a tradição.

Está preocupada com o futuro do país?
Como qualquer pessoa. Mas tenho muita esperança no futuro e acredito que vamos mudar para melhor!

 

Texto: Palmira Correia

“FELIZMENTE HÁ ARTE”

Exposições
Cruzeiro Seixas (pintura e escultura)

Noronha da Costa (pintura)

Sofia Areal (pintura)

Gracinda Candeias (pintura)

Gabriel Garcia (pintura)

Exposições posteriores a 8 de dezembro
Óscar Alves (pintura)

Domingos Oliveira (escultura)

Sessões de Dedicatórias
1 de dezembro

Ana Ventura

Paul Mathieu

Marçal

Pedro Calapez

Rodrigo Germano

Carlos Barroco

Ana Fonseca

8 de dezembro
Gonçalo Salvado

José Pádua

Laura Cesana

Silva Palmeira

Maria João Fernandes

Gracinda Candeias

David de Almeida

15 de dezembro
Jayr Peny

Niuka Bou e Raonel

Mafalda d’Eça

Tiago Pimentel

Sofia Areal

Mónica de Miranda

22 de dezembro
Mena Brito

Gabriel Garcia

Telmo Alcobia

Domingos Oliveira