«Na fábrica produzimos cosméticos. Na loja vendemos esperança». Não poderia estar mais atual esta frase dos fundadores da Revlon, que data de 1932, numa altura em que tanto nos preocupa a nossa imagem e, sobretudo, aquilo que ela transmite aos outros. De facto, adquirimos produtos de beleza não por aquilo que, efetivamente, são mas por aquilo que nos fazem sentir. Mais jovens, sensuais, elegantes, glamorosas, charmosas, ativas, confiantes…Neste território do significado, o que procuramos? Perfeição?
Talvez esta seja uma das nossas maiores ambições. Sermos perfeitos. Neste domínio, não cabem as rugas nem os quilos a mais, nem a celulite, nem os cabelos brancos, nem sequer as olheiras por não termos dormido o suficiente. Ao questionarmos a forma como somos, em função de escalas de perfeição impostas, corremos o risco de nos tornarmos prisioneiras do nosso corpo. E isso faz-nos prisioneiras das emoções que sentimos em relação ao nosso aspeto e às ideias que os outros possam ter sobre nós.
Na perspetiva existencial, o nosso desejo de perfeição está enraizado no medo de desiludir o outro, criado pela necessidade de nos sentirmos incluídos, amados e reconhecidos. Este reconhecimento que tentamos obter ao longo da vida torna-se um preço que pagamos para podermos ter valor para o outro, quer este seja a família, o chefe, os colegas ou qualquer pessoa ou situação que consideremos importante para nós. Qualquer outro do qual necessitemos para nos dar a noção de que somos efetivamente alguém.
Neste sentido, a questão fundamental que devemos colocar-nos é a de perceber se a nossa necessidade de sermos perfeitos, belos ou bem-sucedidos está a inviabilizar o nosso projeto de ser. Que esforço é que isso nos está a exigir? Que lutas travamos nesse caminho? Onde é que isso nos está a levar? Será que temos, efetivamente, de estar sempre a provar que conseguimos? Provar que somos aquilo que esperam que sejamos? Será que viver assim não é uma espécie de punição que impomos a nós mesmas?
De facto, a exigência relativa ao que esperam de nós faz-nos viver em permanência sob padrões de luta e esforço para alcançarmos sempre mais relativamente a nós mesmas. No entanto, quanto mais pensamos no que não somos ou no que ainda nos falta para sermos alguma coisa (belos, jovens, felizes e por aí fora), mais aumentamos a nossa sensação pessoal de carência. O confronto com aquilo que ainda não temos, ou que pensamos não ter, faz com que necessitemos de controlar tudo. O nosso coração, os nossos desejos, as nossas emoções e o nosso próprio corpo…
Somos, nesta perspetiva, seres constringidos e amarrados a padrões de beleza pré-determinados. Deixamos de respeitar os ritmos naturais da vida, ao invés de confiarmos no seu sábio processo. Privamo-nos da coragem de levar em frente a intenção genuína de cuidarmos de nós, de sermos carinhosas connosco próprias, de sabermos aceitar o nosso processo de crescimento. Damos aos outros a liderança daquilo que desejamos para nós.
Deixamos que liderem o nosso sentido e que conduzam o nosso propósito. Sendo assim, o que está a fazer por si neste momento? De que forma está a responsabilizar-se pelo que deseja efetivamente? O que vai comprar à perfumaria que já não tenha? Já parou para pensar nisso?
Texto: Teresa Marta (mestre em relação de ajuda e consultora de bem-estar)
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