Para o paciente que sabe o que quer, é imprescindível tirar o maior rendimento possível das suas consultas médicas e ter acesso à informação adequada.
Só assim poderá tomar as decisões certas. Em matéria de saúde, para sair satisfeito, tem de esclarecer todas as suas dúvidas.
Será que me estou a tratar no lugar certo e com a pessoa adequada? Existem terapias melhores? Algumas destas questões podem confundir os médicos; outras, no entanto, não têm resposta definitiva, e outras ainda podem abrir-lhe as portas a um tratamento mais eficaz.
Muitos pacientes, quer seja por desconhecimento, vergonha ou medo, evitam fazer perguntas ou manifestar as dúvidas que os assaltam. Contudo, vale sempre a pena colocar as dúvidas sobre a mesa e ir para além do "o que é que eu tenho, doutor?" e do "como é que se cura?".
Algumas respostas podem ajudá-la a esclarecer a sua real situação, ajudá-la a decidir o tratamento, poupá-la de complicações e, até, salvar-lhe a vida. É frequente, durante a consulta, os médicos esquecerem-se de informar os seus doentes sobre os medicamentos, terapias ou efeitos secundários.
Para além disso, não detectam as suas preocupações nem os problemas psico-sociais que os rodeiam. Para piorar a situação, também os pacientes se esquecem de muitas informações importantes, prejudicando o cumprimento terapêutico e aumentando o número de problemas relacionados com a medicação.
São de destacar os que dizem respeito à posologia e à duração do tratamento. Existem mesmo pacientes que não se lembram de quando devem fazer exames, vacinar-se ou consultar outro especialista.
Antes de uma cirurgia, pergunte:
- Como se chama esta operação e em que é que consiste exactamente?
- Por que razão me está a recomendar este procedimento?
- Vou precisar de fazer exames ou ser observada antes da operação?
- Existem alternativas igualmente eficazes?
- Quais são os benefícios desta intervenção e quanto tempo vão durar?
- Quais são os riscos e efeitos secundários da cirurgia e da
anestesia? - Qual a percentagem de pacientes que conseguiu melhorar?
- O que é que me pode acontecer se não for operada agora?
- Vou sentir dor depois de entrar na sala de operações?
- Qual é a duração do pós-operatório?
Faça o seu próprio guia de saúde
A melhor forma de garantir que o seu médico está bem informado acerca do seu estado de saúde é fornecer-lhe todas as informações que o possam alertar sobre eventuais problemas ou doenças. Para isso, elabore um documento, grave-o no computador e imprima duas cópias, uma para ter em casa e outra no local de trabalho.
Quando tiver uma consulta, basta levar o guia consigo. Nele deve incluir:
Dados básicos: nome, idade, peso, altura, contactos do seu médico e da sua farmácia, seguros de saúde...
Dados sobre a sua saúde actual: doenças de que padece (diabetes, psoríase, depressão ou dores nas costas, por exemplo), sintomas e respectiva data de aparecimento, medicamentos que está a tomar, níveis de pressão arterial, etc.
Dados sobre o seu historial de saúde: doenças passadas com data de diagnóstico e características do problema, vacinas e exames a que foi submetida, cirurgias...
Dados sobre o historial clínico da sua família: lista de doenças e problemas que tenham afectado membros da sua família e que possam ter influência genética.
Se lhe receitarem um medicamento novo, pergunte:
1. Vou tomar este medicamento porquê e para quê?
Aproveite bem a sua visita!
Anote as suas perguntas ou dúvidas
Desta forma, garante que não se esquece de nenhuma quando estiver com o médico, a quem deve expor primeiro as questões mais importantes da lista.
Decida quem quer que a acompanhe
Se ficar nervosa com aquilo que o médico lhe possa dizer, o melhor é ir acompanhada de alguém em quem confie e que a ajude a fazer todas as perguntas e a entender o que lhe dizem.
Analise a situação
Repita para si mesma aquilo que vai dizer ao médico: o que é que tem e desde quando. Releia as suas anotações em casa e aproveite o tempo passado na sala de espera para as recordar; se se lembrar de mais alguma coisa, escreva!
Explique e escute
Fale com o seu médico e explique-lhe o motivo da sua visita da forma mais clara e detalhada que conseguir. Não insista em assuntos desnecessários, mas não se esqueça de descrever bem os seus sintomas. Por outro lado, oiça com atenção tudo aquilo que o médico lhe disser.
Pergunte se pode tirar notas
Aponte tudo num caderno para depois recordar em casa (dias em que tem de tomar o medicamento, quando deve deixar de ingerir algum tipo de alimentos, quando tem de fazer exames, a data da próxima visita...). No entanto, não se esqueça que os Centros de Saúde, por exemplo, são locais muito procurados e que os médicos têm muitos pacientes ao seu encargo, pelo que não deve demorar muito tempo a fazê-lo.
Saiba quais são os próximos passos
Veja com o seu médico tudo o que tem de fazer a seguir: como tomar a medicação, pedir uma hora para fazer exames, consultar outro médico, etc.
Resuma o plano de acção
Quando estiver esclarecida acerca do que tem e do que deve fazer a seguir, repita ao médico as informações que assimilou para se certificar de que percebeu tudo na perfeição.
Saiba como resolver as suas dúvidas
Questione o seu médico sobre o que deve fazer se esquecer alguma coisa ou se lhe surgirem dúvidas, quando já estiver em casa. Como por exemplo, se faz consultas telefónicas, uma vez que, no nosso país, não é costume os Centros de Saúde e Hospitais terem Serviços de Informação pelo telefone.
Marque a próxima visita
Antes de abandonar o centro de saúde ou o consultório, saiba se tem de marcar uma hora para voltar a ver o seu médico ou outro profissional, se precisa de fazer algum exame ou análise e se tem de tomar providências para essa visita, se precisa de algum atestado, etc.
Depois do diagnóstico de alguma doença, pergunte:
- Qual o grau de confiança e a margem de erro do diagnóstico?
- É preciso fazer algum exame adicional para confirmar o diagnóstico?
- Corro o risco de morrer ou de ter complicações durante o tratamento?
- A minha doença vai ter impacto na minha qualidade ou esperança de vida?
- Que características tem a minha alteração, lesão ou tumor, em que etapa se encontra e como é que progride?
- O meu risco genético é maior e devo fazer check ups periódicos?
- Qual é o melhor tratamento para o meu caso?
- Vou precisar de uma terapia pontual ou é para toda a vida?
- Este é o melhor local para tratar a minha doença?
- Existem terapias ou alternativas mais promissoras que me possam curar?
Invista na alfabetização da saúde
De acordo com a organização norte-americana Partnership for Clear Health (Sociedade para a Comunicação clara sobre Saúde), as investigações demonstram que ao melhorar a alfabetização da saúde de um indivíduo também se pode melhorar a sua saúde, porque se este compreender o seu problema e respectivo tratamento, é mais provável que siga as instruções do médico, que melhore mais depressa e com menos complicações.
Para esse efeito, esta organização criou o programa Pergunte-me 3: um trio de perguntas fundamentais que deve fazer sempre ao médico, enfermeira, farmacêutico ou outro profissional sanitário, quando se estiver a preparar para um procedimento médico ou quando lhe prescreverem um medicamento:
As três perguntas chave:
- Qual é o meu maior problema?
- O que é que tenho de fazer?
- Por que é importante seguir o tratamento?
Pergunte sem medo
Se fica angustiada por ter de fazer estas perguntas, lembre-se que a equipa médica que trata de si quer que compreenda bem o problema de saúde de que padece e as instruções do tratamento. Para além disso, os médicos querem que os seus pacientes saibam o máximo possível sobre a sua condição, porque o que fazem é importante para a própria saúde e para manter tudo sob controlo.
Pergunte sem hesitar
Se não percebeu bem as respostas que lhe deram ou se lhe resta alguma dúvida, peça para repetirem a informação e explique que não percebeu o que querem que faça, ou quais são as características do seu problema, dizendo "Isto é uma novidade para mim. Pode explicar-me outra vez?" ou "Há um ponto que ainda não está bem esclarecido".
Em todos os casos deve averiguar...
1. Se tem mais opções. Mesmo que só lhe apresentem uma opção de tratamento, deve saber se existem outras possibilidades e que terapias se adequam ao seu caso.
2. O que é que se pode esperar do tratamento. De que forma vai afectar as suas actividades diárias e o que pode fazer para evitar maiores danos. É fundamental para que tenha consciência da dimensão real da sua situação.
3. O tempo que vai passar até que os sintomas desapareçam e se possa considerar totalmente curada.
5. Que mudanças no seu estilo de vida, em matéria de alimentação, hábitos, exercício físico e higiene pode seguir para reduzir o seu risco de saúde.
6. Que vacinas, imunizações, exames e outras medidas preventivas pode usar para se manter saudável e prevenir incómodos.
7. Qual a origem, diagnóstico, tratamento e prognóstico do seu problema. Estar informada é um direito seu.
Texto: Madalena Alçada Baptista com Sandra D'Abril (médica de clínica geral e membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia Preventiva)
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