O TCE é uma agressão ao cérebro causada por uma ação física externa (como acidente, queda, ferimento com arma, entre outros), que pode originar lesões cerebrais graves, resultando no comprometimento das capacidades cognitivas, físicas e comportamentais.

Anualmente, milhares de indivíduos em todo o mundo sofrem um TCE, sendo esta a principal causa de mortalidade e morbilidade entre os adultos jovens. O TCE constitui, portanto, um problema de saúde pública com elevado impacto económico e social, não existindo até agora uma terapêutica eficaz para muitos destes doentes.

Neste sentido, foi realizado um ensaio clínico que tinha como objetivo estudar a segurança, viabilidade e potencial da terapia com células mononucleadas de medula óssea autóloga no tratamento de doentes com TCE.

Para isso, os investigadores recrutaram 25 doentes com TCE grave: 10 no grupo de controlo e 15 no grupo de tratamento, aos quais foram infundidas células isoladas da medula óssea.

As amostras de medula óssea foram recolhidas nas primeiras 36 horas após o traumatismo. Após o isolamento da fração de células mononucleadas, estas foram infundidas até 48 horas após o traumatismo. Os doentes foram monitorizados nos primeiros dias pós – infusão para avaliar possíveis efeitos adversos do procedimento. Os resultados funcionais e neurocognitivos foram depois avaliados 1 e 6 meses após o tratamento e correlacionados com dados de imagiologia (imagens do cérebro).

Efeito anti-inflamatório

Apesar do grupo de tratamento incluir doentes com lesões mais graves, os autores verificaram a preservação estrutural de regiões críticas do cérebro que se correlacionaram com os resultados funcionais. Observaram ainda que os níveis de citocinas inflamatórias (substâncias libertadas por células do sistema imunitário que promovem a inflamação) relevantes foram reduzidos após a infusão das células da medula óssea, sugerindo um efeito anti-inflamatório. Não foram registados efeitos adversos graves associados à recolha e/ou infusão das células.

Perante os resultados, os autores concluem que o procedimento é seguro e viável e que as células estaminais infundidas reduzem a resposta inflamatória do organismo ao trauma, preservando os tecidos cerebrais.

Os investigadores referem que estes resultados estão de acordo com outros obtidos em estudos em modelos animais e planeiam realizar novo ensaio clínico para confirmar os efeitos observados neste estudo.

Por Teresa Matos, PhD, Investigadora Crioestaminal