A sonolência durante a condução é uma causa importante de acidentes de viação, em paralelo com a velocidade excessiva, condução sob o efeito de álcool ou a distração pelo uso de telemóvel. Em muitos casos estes acidentes acabam por ser fatais, por se perder a capacidade de reação de travagem prévia ao acidente e por se manter uma velocidade descontrolada secundária ao adormecimento. Por exemplo, na Alemanha, a sonolência foi responsável por 25% dos acidentes fatais.

Denote-se ainda que vivemos numa sociedade em que a pressão social e profissional são responsáveis pela redução do número de horas de sono, trabalho excessivo e por trabalho por turnos sem recuperação do sono nos períodos de descanso. Estas alterações do sono podem afetar a capacidade de alerta, de tempo de reação e concentração durante o dia e consequentemente influenciar negativamente a capacidade para a condução.

Torna-se urgente diagnosticar as principais doenças do sono para o início atempado de tratamento de forma a evitar as consequências da sonolência ao volante, que não é passível de ser medida como a taxa de álcool no ar expirado no conhecido teste do balão.

Qual a realidade em Portugal: acidentes de viação como consequência do sono acontecem?

Um estudo europeu publicado em 2015 e coordenado por uma investigadora portuguesa, realizado em 19 países, dos quais 1093 participantes residiam em Portugal, concluiu que 23% dos participantes já tinham adormecido ao volante pelo menos uma vez nos últimos dois anos e 8% referiram ter tido um acidente de viação como consequência de terem adormecido.

Este estudo revelou que existem grupos mais vulneráveis para a sonolência durante a condução, nomeadamente condutores de sexo masculino, que têm quase o dobro do risco de adormecer ao volante do que as mulheres, condutores mais jovens, indivíduos que conduziram maiores distâncias, trabalhadores por turnos e os condutores sob influência de medicação.

Os doentes com Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono, uma das principais doenças do sono, também apresentam maior risco de adormecer ao volante?

Se a doença não estiver a ser tratada, estas pessoas são um grupo de risco. Por isso, a identificação dos principais sinais e sintomas de apneia do sono é fundamental. Estes sintomas podem ser diurnos e noturnos e podem ser relatados pelo próprio ou pelo parceiro.

Frequentemente os doentes são trazidos pelos (as) parceiros (as), principais testemunhas dos sinais da doença: ressonar, paragens respiratórias durante o sono, engasgamentos ou sono agitado com múltiplos despertares. O próprio doente muitas vezes relata um sono pouco reparador ("acordo mais cansado do que quando me deito"), facilidade em adormecer durante o dia, alterações da memória ou dores de cabeça quando se levanta.

A capacidade para desempenhar as tarefas pode estar comprometida e os acidentes de trabalho ou de viação podem ser uma consequência desta perturbação do sono. Pode ser motivo de problemas conjugais ou sociais muitas vezes relacionados com a irritabilidade e a fadiga que leva a isolamento social.

O tratamento adequado desta doença permite que o indivíduo desempenhe as suas funções sem qualquer limitação e sem risco acrescido para a condução. Ao reconhecerem os sintomas as  pessoas devem procurar resposta clínica. Os doentes não devem atrasar o diagnóstico  - em particular nesta altura de pandemia o receio de vir ao hospital não se deve sobrepor à necessidade de diagnosticar e tratar a apneia do sono. 

Causas que podem ser responsáveis pela sonolência ao volante

Salientam-se os fatores comportamentais. A redução do número de horas de sono, por trabalho excessivo e/ou por períodos prolongados e por trabalho por turnos sem recuperação do sono nos períodos de descanso podem afetar a capacidade de alerta, de tempo de reação e concentração durante o dia e consequentemente influenciar negativamente a capacidade para a condução.

Entre as medidas de uma condução segura deve ser incluída a recomendação de um sono reparador, em quantidade e com qualidade, de modo a evitar a alteração da capacidade de atenção e concentração, fundamentais para a condução.

Que sinais revelam sonolência durante a condução?

- dificuldade em manter os olhos abertos

- pestanejar frequente

- visão desfocada

- dificuldade de atenção e concentração

- lentidão na reação a fatores inesperado

- não se recordar dos últimos quilómetros percorridos

- bocejos frequentes

- sensação de desconforto na cadeira

- pensamentos desconexos.

O que fazer?

Perante estes sinais, aconselha-se uma pequena paragem para dormir uma pequena sesta de 15 a 20 minutos e caso a sonolência seja muito acentuada, ingerir uma bebida com cafeína, de modo a aumentar o estado de alerta.

Um artigo da médica Susana Teixeira de Sousa, pneumologista da Unidade de Medicina do Sono do Hospital CUF Infante Santo e Hospital CUF Descobertas