Falta de energia, queda de cabelo, aumento do peso ou dificuldade em perdê-lo, alterações da frequência cardíaca e depressão são alguns dos sintomas que podem surgir quando a tiroide começa a funcionar mal. Como são comuns a muitas outras doenças e condições nem sempre surge a suspeita de que são causados por esta pequena glândula situada na base do pescoço. No entanto, se estiver atento aos sinais, os problemas podem ser facilmente diagnosticados e têm tratamento.

Em Portugal, estima-se que as doenças da tiroide afetem mais de um milhão de portugueses. Os sintomas são muitas vezes atribuídos a outras situações como gravidez, menopausa, depressão, ou mesmo cansaço e, no entanto, basta uma simples análise ao sangue para confirmar o diagnóstico. O conhecimento das doenças da tiroide e do seu impacto na saúde e bem-estar geral pode ajudar ao aumento do número de casos diagnosticados e tratados com sucesso.

Com a ajuda de Inês Sapinho, médica endocrinologista, respondemos às principais questões. Para saber mais sobre as doenças da tiróide, clique aqui.

O que é exatamente a tiroide?

A tiroide é uma glândula endócrina, isto é, produz hormonas que são libertadas para a corrente sanguínea. As hormonas tiroideias influenciam o funcionamento de todas as células do corpo e, portanto, de todos os órgãos e tecidos. São, não só, fundamentais na regulação do metabolismo, a velocidade a que as células trabalham, como também ao crescimento e funcionamento do organismo.

Influenciam, por exemplo, os batimentos cardíacos, o nível de colesterol no sangue, o peso e a temperatura corporal e a força muscular, bem como o nosso equilíbrio emocional. Quando a tiroide produz uma quantidade insuficiente ou excessiva destas hormonas surgem as disfunções, o hipotiroidismo e o hipertiroidismo.

É possível prevenir as disfunções da tiroide?

Como em quase todas as doenças ajuda ter uma alimentação equilibrada, com o aporte adequado de nutrientes, nomeadamente, de iodo, essencial à síntese das hormonas da tiroide. Em Portugal, foi efetuado um estudo pelo Grupo de Estudos da Tiróide, da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, que demonstrou a existência de défice de iodo nas grávidas e em crianças em idade escolar.

De forma, a evitar as complicações inerentes atualmente a Direção-Geral da Saúde recomenda a toma de suplemento de iodo a todas as grávidas, sem patologia da tiroide. Salienta-se que não há, atá à data, evidência clínica que suporte a toma de suplementos de iodo ou outros para melhorar a função tiroideia na população em geral.

Quem tem especial risco de desenvolver problemas da tiroide?

As disfunções da tiroide são mais comuns no sexo feminino, embora não se saiba exatamente porquê. As mulheres têm também uma maior probabilidade de as desenvolver em idades mais jovens. As alterações hormonais decorrentes da gravidez, parto e menopausa, tornam-nas especialmente vulneráveis ao desenvolvimento de problemas da tiroide.

Independentemente do sexo, está especialmente em risco quem tem história familiar de problemas na tiroide, sofre de doenças autoimunes como diabetes tipo 1, tem mais de 60 anos, esteve exposto a tratamentos radioativos ou a raio-x no pescoço e consome muito poucos ou demasiados alimentos ricos em iodo.

Qual a importância do iodo no funcionamento da tiroide?

O iodo é um elemento essencial na composição das hormonas tiroideias. Uma vez que o nosso organismo não produz iodo, este deve ser fornecido de forma equilibrada e regular através de uma alimentação saudável. Sem iodo suficiente, a tiroide pode diminuir a produção de hormonas conduzindo ao hipotiroidismo, ao bócio e a patologia na gravidez. Por sua vez, em excesso, o iodo pode levar ao hipertiroidismo, a produção excessiva de hormona da tiroide.

Que hábitos alimentares podem contribuir para o bom funcionamento da tiroide?

Uma vez que o iodo é essencial ao bom funcionamento da tiroide devemos fornecer níveis adequados deste mineral ao organismo através do consumo de peixes de água do mar e de outros alimentos naturalmente ricos em iodo como algas marinhas, marisco, ovos e laticínios. Deve também optar por sal de cozinha iodado, o qual deve ser consumido com moderação.

Quais são as principais diferenças entre o hipotiroidismo e o hipertiroidismo?

O hipotiroidismo ocorre quando a tiroide se apresenta hipoativa, não sendo capaz de produzir quantidades suficientes das hormonas tiroideias. O metabolismo torna-se mais lento o que faz com que possam surgir sintomas como obstipação, fadiga, tendência para depressão, aumento de peso ou dificuldade em perdê-lo e redução da frequência cardíaca.

O hipertiroidismo surge quando a tiroide se torna hiperativa e produz quantidades excessivas de hormonas tiroideias, acelerando o metabolismo. Quando isto acontece ocorre a perda de peso, aumento da frequência cardíaca e ansiedade.

Como é feito o diagnóstico?

Em caso de suspeita, ambas as disfunções podem ser facilmente confirmadas pelo médico através de uma análise sanguínea aos níveis da hormona que estimula a tiroide, a TSH, e das hormonas tiroideias presentes no sangue.

Qual o tratamento indicado no hipotiroidismo?

O tratamento consiste na toma diária de medicação que forneça ao organismo as hormonas tiroideias que a tiroide deixou de produzir. A terapêutica permite uma vida sem sintomas e na maioria dos casos é definitiva. Realça-se a importância de informar as mulheres em idade fértil para a necessidade de otimizar a terapêutica e serem vigiadas no decorrer da gravidez.

E qual o tratamento indicado no caso de hipertiroidismo?

De acordo com a causa do hipertiroidismo, a idade e o estado geral do paciente, o médico endocrinologista irá escolher o tratamento mais adequado. As opções disponíveis incluem:

- Fármacos anti-tiroideos

Atuam diminuindo a produção de hormonas pela tiroide e podem permitir o controlo ou a remissão do hipertiroidismo.

- Tratamento com iodo radioativo

É, geralmente, administrado por via oral, que destrói as células da tiroide podendo permitir resolver o hipertiroidismo. Na maioria dos casos, induz um hipotiroidismo.

- Tratamento cirúrgico

Indicado para remoção de parte ou da totalidade da glândula da tiroide. Em todas as situações, a vigilância deverá ser feita para o resto da vida. Mais uma vez, as mulheres em idade fértil devem ser orientadas para evitar complicações.

O aparecimento de um nódulo é sempre sinal de cancro da tiroide?

Em geral, os nódulos são de pequena dimensão e benignos. Apenas 5% a 10% dos nódulos da tiroide são malignos. Idade inferior a 20 anos ou superior a 70, ser do sexo masculino, ter história familiar de cancro da tiroide, ter antecedentes de radioterapia do pescoço ou exposição a grandes doses de radiação são fatores que aumentam esse risco.

Porque surgem os nódulos?

Não há um fator isolado que cause o aparecimento de nódulos. No entanto, são mais frequentes no sexo feminino e em quem tem história familiar de nódulos, deficiência de iodo ou idade avançada. Por volta dos 60 anos, cerca de 50% da população tem nódulos da tiroide.

Na maioria dos casos são assintomáticos e habitualmente podem ser detetados através da palpação do pescoço, sendo depois confirmados através de ecografia. A benignidade do nódulo é confirmada por citologia. Na maior parte dos casos o nódulo não tem indicação para ser tratado, mas impõe a vigilância clínica ao longo dos anos.

Em que casos é necessário remover a tiroide?

Um nódulo benigno só necessita de cirurgia se for muito volumoso e causar compressão das estruturas adjacentes. A cirurgia também pode ser uma opção para os nódulos tóxicos [que provocam hipertiroidismo], especialmente se o doente for jovem. Os nódulos malignos ou suspeitos de malignidade requerem obrigatoriamente a remoção total da tiroide.

O que acontece após a cirurgia?

Após a remoção completa da tiroide é necessário iniciar o tratamento para o hipotiroidismo, através da toma diária de hormonas sintéticas em substituição das que eram anteriormente produzidas pela tiroide. Desta forma, fica assegurado o bom funcionamento do organismo e a manutenção de uma vida normal.

Os aliados da tiroide

Uma vez que o iodo é essencial na composição das hormonas tiroideias mas não é produzido pelo nosso organismo, este deve ser fornecido através da alimentação. Eis algumas das principais fontes a que deve recorrer para o absorver no quotidiano:

- Peixes do mar

- Algas marinhas

- Leite

- Camarão

- Mexilhão

- Ovo

- Cerveja

Os sinais a que deve estar atento

As mulheres têm um risco quatro a sete vezes superior aos homens de vir a sofrer de uma disfunção da tiroide. Gravidez, parto e menopausa são as principais fases da vida em que estes tendem a surgir. Estes são, segundo a Associação das Doenças da Tiroide e o organismo Thyroid Aware, os sintomas que devem merecer a sua atenção:

Hipotiroidismo

- Obstipação

- Sensação de cansaço permanente

- Tendência para depressão

- Aumento de peso ou aumento da dificuldade em perdê-lo

- Períodos menstruais anormais (abundantes ou mais frequentes)

- Cãibras e rigidez muscular

- Baixa frequência cardíaca

- Queda de cabelo

- Falta de energia

- Aumento da sensibilidade ao frio

- Pele e cabelos secos

Hipertiroidismo

- Evacuações frequentes

- Olhos fixos e proeminentes

- Nervosismo ou irritabilidade

- Perda de peso sem que tenham havido alterações na dieta

- Períodos menstruais mais ligeiros ou menos frequentes

- Fraqueza muscular

- Aumento da frequência cardíaca

- Cabelos finos e frágeis

- Mãos trémulas

- Aumento da transpiração

- Pele macia e fina

Um apoio para os doentes

Cerca de 10% da população portuguesa é afetada por uma doença da tiroide. Em todo o mundo, cerca de três milhões de pessoas  têm problemas no funcionamento da tiroide. No entanto, pensa-se que mais de metade desconhece a sua condição. Para defender, apoiar e informar os doentes da tiroide e seus familiares surgiu a Associação das Doenças da Tiróide (ADTI).

"É uma associação de âmbito nacional, sem fins lucrativos, que coopera com os profissionais de saúde no tratamento da patologia da tiroide. Os associados da ADTI têm acesso ao melhor acompanhamento e informação personalizada. Uma mais valia para quem tem de lidar diariamente com a doença", explicou à Prevenir Celeste Campinho, presidente deste organismo.