O consumo de tabaco é uma das principais causas evitáveis de doença e de morte prematura, sendo responsável anualmente pela morte de mais de 8 milhões de pessoas em todo o mundo. Assim, é considerado pela Organização Mundial de Saúde como um problema global e prioritário de saúde pública.

Em Portugal, de acordo com dados apresentados pela Direção-Geral da Saúde, no ano de 2017, ocorreu uma morte a cada 50 minutos por doenças atribuíveis ao tabaco, correspondendo a mais de 13.000 pessoas. No mesmo ano, o tabaco foi responsável por quase metade das mortes por doença respiratória crónica. No que se refere à doença oncológica, contribuiu para uma em cada três mortes por cancro observadas no grupo etário dos 50 aos 69 anos. Estudos longitudinais demonstram que um fumador morre em média 10 anos mais cedo do que um não-fumador.

A pandemia que atualmente enfrentamos veio reforçar ainda mais a importância da cessação tabágica, já que vários estudos demonstraram que os fumadores apresentam um maior risco de contrair infeção por coronavírus e de manifestações mais graves da doença.

Apesar dos esforços e medidas instituídas para prevenção e controlo do tabaco, a prevalência de fumadores na população portuguesa atinge os 20% (1.8 milhões de pessoas). O recente surgimento no mercado de novos produtos de tabaco e de produtos com nicotina, com elevado potencial de atratividade através de poderosas estratégias de “marketing”, colocam novos desafios à prevenção do tabagismo. O tabaco aquecido produz vapor que expõe os seus consumidores a toxinas nocivas, algumas das quais não existentes no cigarro convencional e potencialmente cancerígenas. Assim, a Organização Mundial de Saúde declara todas as formas de tabaco, convencional ou não, como prejudiciais para a saúde humana.

O fumo passivo também é prejudicial

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o tabagismo passivo, através da exposição a ambientes de fumo (por exemplo em casa ou no trabalho), não é inócuo para a saúde. Não existe um nível seguro de exposição ao fumo passivo do tabaco. A este respeito, as mulheres grávidas e as crianças são particularmente vulneráveis. Estima-se que, anualmente, 65 000 crianças em todo o mundo morrem de doenças atribuídas ao tabagismo passivo.

Diga não ao tabaco

O Dia Mundial Sem Tabaco leva-nos a refletir acerca do que podemos fazer para diminuir o impacto do consumo do tabaco na saúde pública. Lutar contra os malefícios do tabaco significa informar, apoiar e acompanhar o fumador no processo de desabituação tabágica. Sabia que a cessação tabágica antes dos 40 anos reduz em mais de 90% os riscos para a saúde que lhe estão associados? E que um ano após o último cigarro, o risco de enfarte do miocárdio é cerca de metade de um fumador?

O consumo de tabaco está também muito relacionado com o aparecimento de cancro do pulmão, uma doença que habitualmente manifesta sintomas numa fase tardia. A deteção precoce é essencial, principalmente em grandes fumadores com mais de 50 anos e ex-fumadores. Por isso mesmo, a CUF tem vindo a reforçar o Programa de Deteção Precoce de Cancro do Pulmão, que consiste na avaliação anual em consulta, associada à realização de uma Tomografia Computorizada do tórax  de baixa dose e onde, em caso de necessidade, é definido um plano de cessação tabágica personalizado.

Parar de fumar mesmo após o diagnóstico de cancro do pulmão pode trazer benefícios como diminuição da mortalidade, complicações pós-operatórias, recorrência da doença e incidência de novos tumores primários. A cessação tabágica contribui ainda para uma maior eficácia do tratamento oncológico e melhor qualidade de vida.

Porque deve procurar ajuda especializada?

Receber ajuda especializada para a cessação é um componente essencial de qualquer estratégia de combate ao uso do tabaco e quadriplica a taxa de sucesso. Existem várias opções de terapêuticas farmacológicas, que são selecionadas de acordo com as características e dependência do fumador. Um estudo do Eurobarómetro revelou que, em 2017, cerca de um terço das pessoas fumadoras já tinha realizado pelo menos uma tentativa de cessação tabágica. Abandonar o hábito de fumar não é apenas um momento, mas sim um processo que passa por diversas etapas. A recaída faz muitas vezes parte do processo de cessação tabágica. Por isso, deixar de fumar é possível, mesmo que já tenha feito tentativas anteriores que não resultaram.

Se é fumador, lembre-se: deixar de fumar traz sempre benefícios, imediatos e a longo prazo, sendo tanto maiores quanto mais precoce for a sua decisão. Procure o seu médico! O primeiro passo é seu.

Um artigo da médica Maria Esteves Brandão, Pneumologista no Hospital CUF Porto - Consulta de cessação tabágica.