Para quem vê o mundo desfocado, deixar de usar óculos ou lentes de contacto é um sonho. E é justamente isso que a medicina permite realizar.
Com uma operação que dura dez a 15 minutos é possível corrigir miopia, astigmatismo e hipermetropia, as mais comuns doenças dos olhos. No dia seguinte, a pessoa passa a ver bem. Assim, tão simples.
Cirurgia refractiva com laser é o nome técnico desta intervenção, mais conhecida como LASIK. A Saber Viver foi ver como tudo se processa, no Hospital CUF Infante Santo, guiada pelo médico oftalmologista Luís Gouveia Andrade, que
iniciou esta técnica há cerca de 20 anos.
Os preparativos
À hora certa, na sala de espera, uma assistente começa a anestesiar os olhos do paciente com gotas. Se este usasse lentes de contacto, deveria tê-las retirado um dia ou dois antes da cirurgia. Ao fim de alguns minutos, está pronto para entrar para a sala de operações.
Espera de bata vestida enquanto a enfermeira ultima os preparativos. As peças são montadas, os equipamentos são verificados em voz alta pelo médico e pela enfermeira e vou sendo guiada pelos procedimentos. Tal como o médico faz, pouco depois, com o paciente.
No bloco
O paciente entra e deita-se, com o equipamento do laser posicionado por cima da sua cabeça. O médico começa por afastar as pálpebras, com um afastador, e por marcar o olho com uma estrela que, no final, servirá para orientar a reposição da camada superior da córnea no sítio certo. Depois, recorrendo a sucção, cria vácuo em torno do olho, o que vai facilitar a criação de uma superfície perfeita para a aplicação do laser.
Segundo o médico, o olho tem de estar mais tenso para poder ser devidamente preparado. «A sucção é o momento de maior desconforto da operação», explica Luís Gouveia Andrade.
Passo a passo
A evolução da tecnologia é fulcral. Actualmente é possível operar os dois olhos no mesmo dia e recuperar em algumas horas. Há poucos anos, o pós-operatório era demorado e doloroso.
Nessa altura, o laser era aplicado directamente sobre o olho. Hoje, é feita uma incisão circular minúscula na superfície do olho, que permite abrir uma espécie de tampinha gelatinosa. É sob esse perfil micro-milimétrico que é activado o laser, que rapidamente elimina as imperfeições e repõe ou potencia a qualidade da visão.
A imagem que passa no ecrã em frente do equipamento é de uma beleza fora do normal. Um olho, depois o outro, despojados dessa película superior, vistos com um aumento enorme. O laser é muito rápido a actuar. Uns quantos disparos, definidos antes da operação, vão polir a superfície, retirando a imperfeição do olho que provoca a doença. Neste caso, miopia.
Gestos precisos
Uma vez aplicado o laser, é feita a limpeza do olho com soro, um procedimento mais demorado do que a operação propriamente dita. O médico usa esponjas que parecem saídas do mundo dos brinquedos e, minuciosamente, tudo é limpo e a fina camada de córnea é reposta no seu lugar.
Depois é a vez do outro olho. Verifica-se todo o equipamento em voz alta, reiniciar o processo com rapidez idêntica. Em menos de meia hora, os dois olhos são tratados e o doente sai de óculos escuros e com um frasco de gotas na mão.
Aconselha-se que regresse acompanhado a casa. «Descanse, ouça música clássica, se conseguir durma. Não mexa nos olhos. Amanhã pode ir trabalhar», diz o médico. Assim, tão simples.
A quem se destina
A operação só pode ser feita a partir dos 18 anos, a idade legal para consentimento e também de estabilização normal do desenvolvimento do olho.
O oftalmologista faz a avaliação e se, no intervalo de um ano, não se verificaram alterações no olho, pode avançar para a cirurgia.
Antes disso, é preciso fazer um conjunto de exames.
Algumas condições pré-existentes inviabilizam a operação, como infecções por herpes. «Mas a principal contraindicação é a córnea não ter espessura suficiente, porque a operação vai polir, vai modelar a córnea. A taxa de potenciais candidatos que não pode ser operada por este motivo ronda os 15 a 20 por cento», frisa o especialista.
A operação custa, sem recurso a seguros de saúde, 1 300 euros (cada olho), e é mais procurada por pessoas entre os 25 e os 35 anos, sobretudo do sexo feminino.
Taxa de sucesso
«A satisfação dos doentes ultrapassa os 99 por cento» aponta Luís Gouveia Andrade, explicando que o restante se deve à «margem de erro do laser, casos em que a visão fica ainda com algum ligeiro desequilíbrio, mas menos do que o que motivou a intervenção. O doente fica sempre melhor do que estava antes».
Apesar da elevada taxa de sucesso, convém salientar que após os 40 anos surge uma situação intratável com o laser, o cansaço para ver ao perto. Este problema não está relacionado com a córnea, mas com o cristalino. Por isso, «uma pessoa míope mais jovem, que seja operada, quando chegar aos 40 anos, terá de usar óculos para ver ao perto», alerta o especialista
Sabia que...
Entre oito a nove dioptrias é o máximo que Luís Gouveia Andrade regista ter corrigido a um doente. Contudo, tal depende de cada caso e da avaliação prévia.
Texto: Joana Andrade com Luís Gouveia Andrade (médico oftalmologista)
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