«Potência cerebral/mental óptima». A expressão está longe de ser um mero conceito abstracto. Como explica Nelson Lima, neuropsicólogo e presidente do Instituto da Inteligência, «a potência cerebral óptima representa o máximo que podemos obter das nossas faculdades, aptidões, competências e sobretudo do bem-estar geral do nosso sistema nervoso e da nossa mente».
Olhando para cada um de nós, isto significará que desperdiçamos actualmente grande parte da nossa potência cerebral? Sem dúvida. De acordo com o presidente do Instituto da Inteligência, «utilizamos 15 a 30 por cento das nossas capacidades». Porquê? A resposta torna-se clara se olharmos para o nosso dia-a-dia.
O estilo de vida urbano a que nos subjugamos está repleto de antagonistas do nosso intelecto. A começar pela rotina que, basicamente, torna o nosso cérebro preguiçoso. Segundo o neuropsicólogo, «a rotina faz com que o cérebro não necessite de grande desafio para resolver o que já está resolvido. Quebrá-la significa desafiar o cérebro a ver para além do habitual».
E podemos consegui-lo através de estratégias muito fáceis: fazer trajectos diferentes, ler revistas e livros de temas variados, inscrevermo-nos em clubes de leitura, astronomia. Ou seja, fazermos tudo o que aguce o intelecto e a curiosidade.
Inteligência à mesa
Não é, contudo, apenas a rotina que nos impede de usufruir o máximo das nossas capacidades. Olhemos para a nossa alimentação. Comemos cada vez mais e pior, o que evidentemente se reflecte na nossa performance intelectual. Por exemplo, as refeições pesadas «obrigam a um maior esforço do coração, acabando por implicar uma certa lentidão do corpo, preguiça, sonolência, o que vai afectar o nosso estado mental», ilustra Nelson Lima.
Por outro lado, sabe-se que o excesso de calorias provoca um envelhecimento celular mais rápido. Não espanta, portanto, que, como conta o neuropsicólogo, existam «dietas para o revigoramento mental que incluem a restrição calórica que favorece a longevidade, a destreza e a flexibilidade mental. Os especialistas em medicina anti-envelhecimento defendem que deveríamos ingerir entre dez a 25 por cento menos calorias do que o que está previsto, compensando a nossa alimentação com nutrientes mais ricos». E aqui entram as vitaminas, os minerais e os aminoácidos, que estão presentes nos vegetais, frutas e legumes.
O papel do exercício
Como já terá percebido, o dinamismo do nosso cérebro depende da vitalidade do nosso corpo. Assim, o sedentarismo vai promover uma inacção geral do organismo e prejudicar a destreza muscular.
Na prática, «também o cérebro, enquanto órgão, acaba por ser, de alguma forma, danificado pelo sedentarismo. Contrariamente, a prática de exercício físico permite uma maior oxigenação, um melhor trabalho do coração que, por sua vez, vai bombear mais eficazmente o sangue para o cérebro», diz Nelson Lima.
Depois, claro, há ainda o stress: quando extravasa a fasquia considerada necessária e normal, debilita o nosso sistema nervoso, provocando a libertação de substâncias (radicais livres) que vão conduzir a uma diminuição da capacidade do cérebro para se manter em forma.
Quer um conselho que o pode ajudar a controlar os níveis de stress? Em vez de ocupar a sua mente com preocupações passe-as para o papel. «Ao fazê-lo não só estamos a libertar a memória de preocupações escusadas como a dar-lhes uma ordem de prioridade», comenta Nelson Lima.
Neurónios enferrujados
Se deseja rentabilizar a sua potência cerebral/mental, há ainda dois factores a evitar: noites em branco e tabaco. Vamos ao primeiro. Talvez não saiba mas precisamos de dormir não apenas para descansarmos. Como elucida Nelson Lima, «dormir é determinante para que qualquer aprendizagem possa ser elaborada, durante a noite, e passar para outros sistemas da memória. Quem dormir mal tem o processo de memorização muito mais afectado».
Por isso, o ideal é que todas as noites ofereça entre sete a oito horas ao seu «computador central» para que ele possa arrumar informações e libertar espaço para futuros «armazenamentos».
Quanto ao tabaco, nunca é demais lembrar que possui contaminantes que afectam as funções cognitivas. A enorme quantidade de substâncias tóxicas que contém, conta Nelson Lima, «prejudica, a nível das trocas celulares, uma boa ligação entre neurónios».
Só mais uma nota: tenha também presente que as emoções interferem na sua performance cerebral. Diz Nelson Lima que «os factores emocionais negativos, como a depressão e a ansiedade, são altamente bloqueadores da cognição, do pensamento, da inteligência». A boa notícia é que a ultrapassagem deste tipo de cenários pode ser beneficiada também pela prática de exercício físico.
Conhece o seu cérebro?
- 100 mil milhões é o número de diferentes tipos de neurónios que possuímos.
- 126 é a quantidade de informações que o nosso cérebro consegue processar por segundo, ou seja, mais de 7500 por minuto.
- 185 mil milhões é o número de dados que somos capazes de processar até alcançarmos 70 anos.
- 5 milhões de células receptoras distribuídas pelo nariz são utilizadas pelo sistema cérebro/mente para distinguir mais de dez mil odores diferentes.
- 20 milhões de livros de 500 páginas é a quanto equivale a nossa capacidade para reter informações, na memória, ao longo da vida.
- 1000 quilómetros é o comprimento que teria de ter a prateleira para guardar os «livros» da nossa memória.
Fonte: Centro Português de Neurofitness – Instituto da inteligência
Texto: Nazaré Tocha com Nelson Lima (neuropsicólogo)
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