É um dos cinco sentidos e, não tendo um papel tão decisivo na nossa vida como alguns dos outros, acaba por ser muitas vezes menosprezado. A perda total ou parcial do olfato afeta, no entanto, mais de um milhão de portugueses.
Em entrevista à Prevenir, José Saraiva, coordenador da Unidade de Otorrinolaringologia do Hospital Cufdescobertas, aponta as principais causas para estas doenças, descreve os tratamentos e fala sobre as suas implicações na qualidade de vida dos doentes.
A anosmia tem várias causas. Quais são as principais?
A anosmia ou perda total do olfato e a hiposmia, situação bem mais frequente e que corresponde a uma perda parcial, podem ter várias causas. As mais frequentes podem ser agrupadas em vários grupos. Podem ter a ver com as doenças da mucosa nasal em que a hiposmia resulta da irritação temporária ou permanente ou mesmo da destruição da mucosa das fossas nasais. São exemplos destas situações a rinossinusite, a rinite de causa alérgica ou outra, a vulgar constipação ou um síndroma gripal.
Outras das causas podem ter a ver com doenças obstrutivas das fossas nasais onde se agrupam todas as situações clínicas que causem obstrução à passagem do ar que transporta os odores pelas fossas nasais, como é o caso dos polipos nasais, desvios do septo nasal e tumores benignos ou malignos Outras das causas prendem-se ainda com lesões neurológicas em que uma qualquer parte da via olfativa, desde os recetores localizados nas fossas nasais até ao cérebro, é lesada ou destruida.
Neste grupo inclui-se a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson, o envelhecimento, tumores cerebrais, traumatismos crânio-encefálicos e vários medicamentos cuja toma pode causar, como efeito secundário, alterações do olfato.
Em que casos podemos prevenir a perda do olfato e como?
Uma vez que as causas são várias, a prevenção diz respeito a cada uma delas. No entanto, de uma forma geral, podemos falar da importância de uma regular e correta humidificação das fossas nasais, evitar a exposição a fumos ou outros poluentes e apenas aplicar substâncias vasoconstritoras, as vulgares gotas para o nariz, por indicação médica e durante um curto período de tempo.
Quais os exames que permitem diagnosticar a anosmia?
Há um conjunto de testes olfativos que permitem avaliar o olfato.
No entanto é importante não esquecer que as alterações do olfato são um sintoma e não a doença pelo que o mais importante é realizar os exames adequados para o diagnóstico da causa da alteração do olfato, como a observação endoscópica das fossas nasais e os exames imagiológicos.
Que implicações tem a anosmia na qualidade de vida dos doentes?
O olfato tem uma enorme responsabilidade na nossa qualidade de vida. Pensemos no prazer que temos ao sentir aromas tão agradáveis como o das flores, certos alimentos, um perfume, ou o cheiro caraterístico do mar ou do campo, e é de uma enorme importância o papel do olfato no paladar e consequentemente no prazer de uma boa refeição. Por último recordemos a importância do olfato no alerta para vários perigos como o cheiro a fumo ou a queimado, a gás ou a comida estragada.
Como é que se evolui das formas primárias de rinite e de sinusite para uma anosmia?
A evolução pode ser rápida, se a lesão da mucosa ou a obstrução nasal forem graves ou de instalação súbita. É mais lenta se o processo inflamatório ou obstrutivo crónico se for agravando sem ter um tratamento adequado da situação de base.
Que cuidados devem ter os doentes para evitar os riscos associados à anosmia?
Os principais cuidados estão relacionados com o risco de vida associado à não perceção de situações potencialmente perigosas como a fuga de gás ou o cheiro a fumo ou a queimado, pelo que a colocação de detetores de alarme para estes perigos é muito importante. Também a não perceção do cheiro a comida estragada implica um redobrado cuidado na conservação e preparação dos alimentos bem como na verificação dos prazos de validade.
Quais são os principais tratamentos para a anosmia?
O tratamento varia em função da causa que está na origem da alteração do olfato.
É, por isso, importante consultar um médico otorrinolaringologista nessas situações.
Em termos terapêuticos e/ou farmacológicos, quais as lacunas que ainda existem? O que é que, na sua opinião, deveria ser prioritário nessa área?
O mais importante é um diagnóstico correto e o mais precoce possível por forma a que algumas situações não se tornem irreversíveis e para melhorar a qualidade de vida dos doentes.
Depois do diagnóstico, qual a importância de um doente ser seguido por um otorrinolaringologista?
O otorrinolaringologista é fundamental para o diagnóstico, prevenção e tratamento da grande maioria das situações clínicas que estão na origem das alterações do olfato, nomeadamente da sua diminuição e, por isso, é necessário recorrer ao medico especialista e estes doentes devem continuar a ser seguidos na consulta de otorrinolaringologia por forma a encontrar o melhor tratamento para o seu problema.
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