«Para prevenir um incêndio, devemos tomar certas medidas, como evitar fumar ou deixar cigarros acesos no campo, mas se já há um fogo podemos, ainda assim, recorrer a um extintor, para evitar graves consequências. A pílula do dia seguinte é o extintor na contracepção: utiliza-se se as medidas anteriores falharam e não se deseja uma gravidez». É desta forma que Maria José Alves, ginecologista/obstetra da Maternidade Alfredo da Costa, ilustra a contracepção de emergência.
A especialista defende que, embora «por vezes se fale da contracepção de emergência como um método menos sério ou para pessoas menos sérias, esta pílula não tem qualquer estatuto moral. Se alguém tiver relações sexuais desprotegidas e depois for procurar contracepção de emergência está a ter a atitude responsável que é suposto ter».
De venda livre, a contracepção de emergência está também disponível gratuitamente, nos hospitais, centros de saúde e centros de atendimento a jovens.
Uma situação positiva, na opinião de Maria José Alves: «É necessário que as mulheres recorram a ela o mais depressa possível e, às vezes, o ter que ir ao centro de saúde, a um médico ou a uma enfermeira pode ser um obstáculo, não só porque pode demorar algum tempo como porque a pessoa pode não querer falar sobre o assunto com um técnico de saúde. Por outro lado, é de venda livre porque é segura. Nunca houve riscos graves para a saúde das mulheres.»
Segundo a especialista, «todas as pessoas, independentemente de algum dia virem a precisar da contracepção de emergência, devem saber que ela existe e que têm um determinado tempo para a tomar.» Aprenda de seguida, com a ajuda desta ginecologista, o essencial sobre este método.
Como actua a pílula do dia seguinte no organismo?
O seu mecanismo de acção consiste na inibição da ovulação.
Se a pessoa já ovulou a falha da contracepção de emergência é grande, por isso esta pílula deve ser tomada o mais rapidamente possível, até três dias após a relação sexual.
A menstruação deve aparecer entre uma a três semanas depois da toma. Caso contrário, a mulher deve fazer um teste de gravidez.
Qual é a sua taxa de eficácia?
A eficácia é de cerca de 95%, se tomada nas primeiras 24 horas, pois quanto mais tarde for a toma menos eficácia terá.
Quais são os efeitos secundários?
A pessoa pode sentir-se um pouco agoniada, vomitar, (se tal ocorrer, no espaço de uma hora, após ter tomado a pílula, terá que repeti-la), cansaço e dores de cabeça. Por vezes pode verificar-se, cinco dias depois da toma, uma pequena perda de sangue, que não é menstruação: deve - se ao facto de ter tomado comprimidos hormonais e parado de seguida.
Em que circunstâncias se deve tomar a pílula do dia seguinte?
Quando há uma relação sexual desprotegida ou porque não se utilizou contracepção ou porque ela foi mal utilizada. No entanto, é importante saber que se a pessoa não quer engravidar deve usar sempre um método contraceptivo regular. Porquê? Porque a contracepção de emergência é menos eficaz do que os métodos de uso regular.
Quando nos esquecemos da pílula, a semana mais perigosa é a primeira e é nessa situação que pode ser necessário recorrer à contracepção de emergência se houve relações sexuais nessa semana ou na semana de pausa.
A pílula de emergência é segura?
Não há nenhum efeito grave numa mulher que fosse causado pela contracepção de emergência.
Não é abortiva e é eficaz, mas não tem uma eficácia tão grande como as mulheres gostariam.
A contracepção de emergência só serve quando falham os restantes métodos que são mais eficazes.
Pode ser tomada mais do que uma vez durante o ciclo menstrual?
Não há nenhuma razão médica, científica, para negar a contracepção de emergência a alguém que a venha pedir duas vezes num ciclo, mas ela pode ser menos eficaz do que na primeira vez. Se a mulher tomar a contracepção de emergência hoje e nos dias seguintes tiver relações sexuais terá que usar preservativo até à próxima menstruação.
Quem não pode tomar a contracepção de emergência?
Mesmo as mulheres que tenham contra-indicação para tomar a contracepção regular, podem tomar esta pílula. As grávidas escusam de tomar a contracepção de emergência. Não faz mal ao embrião, pois não é teratogénico [não produz malformações congénitas], mas a gravidez vai prosseguir.
Como se deve tomar?
Toma-se a qualquer hora, normalmente numa refeição ligeira e com água.
Que cuidados se deve ter antes e depois da toma?
Apenas ter em atenção se se vomitou a seguir.
O que acontece no caso de haver interacção com outros medicamentos?
A eficácia pode estar diminuída em mulheres que tomam alguns medicamentos, (por exemplo anti-epilépticos), em mulheres que estão a fazer tratamento para a tuberculose.
Como é que a pessoa pode retomar a contracepção?
Tem que se continuar a usar sempre o preservativo até ao aparecimento da próxima menstruação. Se a mulher se esqueceu de tomar a pílula pode continuá-la, mas usar também o preservativo durante esse mês.
Se vai iniciar um método contraceptivo, deve fazê-lo logo na próxima menstruação.
Se estiver a usar um método de abstinência periódica, convém que no ciclo seguinte tenha algum cuidado, porque pode haver uma alteração do tempo da ovulação.
Qualquer que seja o método que vá utilizar, até à menstruação seguinte, deve usar um preservativo.
Fique a conhecer as principais diferenças entre as pílulas de emergência disponíveis no mercado aqui.
Texto: Cláudia Vale da Silva com Maria José Alves (Ginecologista/Obstetra na Maternidade Alfredo da Costa)
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