Paramiloidose, Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF), Doença dos Pezinhos  ou  Doença de Corino de Andrade  são os diversos nomes por que é conhecida uma doença rara, hereditária e de transmissão autossómica dominante, que afecta cerca de 600 famílias em Portugal.

Calcula-se que existem dez mil doentes em todo o mundo e Portugal é o maior foco mundial: há 1500 doentes vivos no nosso país e, todos os anos, surgem 100 novos casos, alguns sem história familiar prévia.

É uma patologia crónica e fatal (quando não tratada), descrita pela primeira vez no nosso país no início dos anos 50, onde era mais prevalente entre as populações piscatórias do Litoral Norte.

Os primeiros sintomas aparecem por volta dos 30 anos, afectando o sistema nervoso periférico nas vertentes motora, sensitiva e autonómica. Sendo uma doença degenerativa, quando não tratada, a PAF culmina na morte do doente após 11 anos de sintomas e incapacidade progressiva.

Há 1500 doentes vivos em Portugal, cerca de 600 famílias afectadas, a maior parte das quais nas vilas piscatórias do Litoral Norte do País. Manifesta-se, inicialmente, através de alterações sensitivas e diminuição de força na porção distal dos membros inferiores e tornou-se popularmente conhecida como “Doença dos Pezinhos” .

Causas genéticas

Na origem da Paramiloidose está a deposição nos tecidos, sobretudo nos nervos periféricos, de uma substância fibrilar insolúvel, designada como substância amilóide. As fibras de amilóide são constituídas por sub-unidades de uma proteína do sangue que transporta hormonas da tiróide e Vitamina A. Ao depositar-se nos tecidos, causam morte celular progressiva, com a consequente perda de função.

O erro genético que desencadeia estes fenómenos é uma mutação pontual, que altera a sequência da cadeia de aminoácidos e provoca alterações estruturais da proteína. Existem várias mutações, responsáveis por formas diversas da doença que se encontram dispersas por todo o mundo, por vezes com focos particulares, como os que foram identificados no Japão, na Suécia, na Dinamarca e nos EUA.

Uma doença genética

A causa mais frequente da Paramiloidose é uma mutação no gene da transtirretina (TTR), localizado no cromossoma 18, que transmite uma informação errada. Em consequência desta alteração, vários órgãos (fígado, plexos coroideus, retina) fabricam uma proteína anormal ou variante, em que na posição 30 um aminoácido valina foi susbtituído por um aminoácido metionina, daí a designação TTRVal30Met.

Conhecem-se muitas outras mutações da transtirretina, mas esta é a mais frequente em todo o mundo e a responsável pelos maiores focos da doença, nomeadamente pela quase totalidade dos casos portugueses.

Em situações normais, a TTR que circula no sangue é solúvel. Contudo, quando ocorrem estas mutações, a proteína tende a formar fibras de amilóide que se acumulam nos tecidos, destruindo-os lentamente.

Sintomas

Os sintomas da Paramiloidose são sinais típicos de degenerescência progressiva dos nervos. Manifestam-se inicialmente nos membros inferiores, afectando a sensibilidade aos estímulos (por exemplo, térmicos) e a capacidade motora.

Sintomas típicos da Paramiloidose:

- Perda progressiva da sensibilidade, primeiro à dor, ao calor e ao frio, depois táctil, vibratória e articular;

- Atrofia muscular com perda de força provocando alterações da marcha e dificuldade de utilização das mãos;

- Perturbação do funcionamento dos vários órgãos, com sintomas do foro cardiovascular, digestivo e genitourinário.

Visto ter uma ampla distribuição no organismo, as alterações na TTR afectam também frequentemente o sistema cardiovascular, digestivo e genitourinário.

Na fase final da doença, o paciente encontra-se já acamado ou numa cadeira de rodas, com fraqueza muscular generalizada e atrofias. A morte surge na sequência de caquexia (estado de fraqueza e debilidade geral generalizada com magreza extrema) e/ou infecções.

Diagnóstico pré-sintomático

Sendo uma doença genética, autossómica dominante, os descendentes dos doentes têm 50% de probabilidade de herdar o erro genético presente no progenitor afectado.

Através de análise sanguínea é possível saber qual a situação dos indivíduos em risco, se são portadores (TTRVal30Met positivo) ou não portadores (TTRVal30Met negativo). Esta análise pode ser feita antes do nascimento, o que permite o diagnóstico pré-natal ou pré-implantatório.

Mas a idade de início dos sintomas é muito variável, e sempre na idade adulta, pelo que o diagnóstico do início da doença é só é feito quando as pessoas desenvolvem sintomas concretos, através de exames mais complexos.

PMA - Uma arma para prevenir a propagação

Sendo a Paramiloidose uma doença hereditária autossómica dominante – caso um dos progenitores tenha a doença, metade dos descendentes será também portador – como forma de evitar a transmissão, muitos casais com a doença recorrem à procriação medicamente assistida (PMA) de forma a seleccionar embriões livres da patologia.

Para tal, recorre-se ao diagnóstico pré-implantatório que permite verificar se pré-embriões, com apenas 3 dias, produzidos in-vitro apresentam a mutação específica da doença.

Nova terapêutica com resultados promissores

Uma nova esperança para o tratamento da Paramiloidose emergiu de um ensaio clínico de fase II/III em que participaram 74 doentes do Hospital de Santo António, no Porto, e 4 doentes do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

O Fx-1006A, a primeira terapêutica modificadora da amiloidógenese ou formação de substância amilóide, considerado medicamento órfão, tanto pela Agência Europeia do Medicamento, como pela Food and Drug Administration norte-americana.

Neste estudo clínico, duplamente cego e controlado por placebo, a decorrer simultaneamente em oito centros – Alemanha, Argentina, Brasil, Espanha, França, Suécia, além de Lisboa e Porto – foi avaliada a eficácia do composto que, em laboratório, revelou estabilizar a TTR anormal presente no sangue dos doentes.

De acordo com os resultados do estudo, o fármaco permite eficazmente impedir a TTR de se separar nos seus quatro componentes, bloqueando a formação da substância amilóide associada à destruição lenta e progressiva dos tecidos nervosos. O estudo clínico envolveu 128 doentes e provou a tolerabilidade e segurança da terapêutica oral.

Os resultados encorajadores permitiram iniciar o processo para aprovação por parte das Autoridades de Saúde dos Estados Unidos e da União Europeia. Neste momento, a empresa detentora da patente do produto, a FoldRx, está a preparar todo o processo para solicitação de comparticipação do fármaco em Portugal. O objectivo é que o medicamento esteja disponível no mercado europeu no primeiro semestre de 2011.

Centros de tratametno

Portugal tem dois centros nacionais de referência para o acompanhamento e tratamento da doença: o Hospital de Santo António, no Porto, cuja Unidade Clínica da Paramiloidose é dirigida pela Dra. Teresa Coelho; e o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde a Dra. Isabel Conceição, do Serviço de Neurologia, segue os doentes da região sul.

O objectivo destes centros é apoiar os pacientes e respectivas famílias, nas vertentes da informação, diagnóstico, tratamento e apoio psicológico e social.

Hospital de Santo António

O Hospital de Santo António –
onde o neurologista Corino de Andrade identificou os primeiros doentes
nos anos 40 – é uma referência nacional para o tratamento e investigação
da doença.

A Unidade Clínica de Paramiloidose assegura o
acompanhamento regular dos doentes e famílias com Paramiloidose, nas
vertentes da informação, diagnóstico, tratamento e apoio psicológico e
social. Dispõe de uma equipa multidisciplinar que reúne as
especialidades médicas e técnicos de saúde necessários para o efeito:
neurologia, cardiologia, nefrologia, fisiatria, oftalmologia, urologia,
dermatologia, psiquiatria, psicologia, nutrição e enfermagem.

Trabalha,
ainda, em estreita colaboração com o Departamento de Transplante do
Hospital, em especial, com o programa de Transplantação Hepática,
realizando a avaliação inicial dos doentes com Paramiloidose que se
queiram inscrever na lista de espera do hospital.

Associação
Portuguesa de Paramiloidose

A Associação Portuguesa de
Paramiloidose (APP), criada em Junho de 1979, surgiu da necessidade
sentida por doentes, familiares, médicos e outros profissionais de saúde
de se unirem no sentido de melhorar as condições de vida dos pacientes
com Paramiloidose e respectivas famílias.

A APP tem como
objectivos principais: a sensibilização dos serviços de saúde para os
problemas da PAF (Polineuropatia Amiloidótica Familiar ou paramiloidose)
visando a criação de um programa de assistência aos doentes; promoção e
elaboração de legislação que defenda os interesses dos doentes e suas
famílias; levantamento a nível nacional do número de indivíduos e
famílias afectadas em Portugal e informação e esclarecimento junto dos
doentes e respectivas famílias, sobre as características da doença, sua
transmissão e modos de controlo.

Sabia que a paramiloidose foi descoberta...

Em 1939, o
neurologista Mário Corino da Costa Andrade observou, pela primeira vez,
uma doente da Póvoa de Varzim com formigueiros e adormecimento dos
membros inferiores, dificuldade na marcha e diarreias. A mulher, de 37
anos, referia que esta doença era comum entre os seus vizinhos.

Corino
de Andrade iniciou então uma cuidadosa investigação clínica e
patológica, que culminou, em 1952, com a publicação da descrição desta
nova entidade clínica na revista Brain.

A Paramiloidose é uma
doença rara que afecta cerca de 10 mil pessoas em todo o mundo. A
esperança de vida dos doentes de Paramiloidose é reduzida. Sobrevivem em
média 11 anos após a manifestação dos primeiros sintomas;

A
Paramiloidose transmite-se de pais para filhos, com uma probabilidade de
50%. No entanto, a doença não salta uma geração; isto é, se um
indivíduo com história de doença na família não tem este gene anómalo,
não o pode passar para os seus filhos;

A mutação TTRVal30Met é a
mais prevalente, ocorrendo em diferentes países do mundo, tendo o seu
maior foco em Portugal, seguido do Japão, Suécia, ilha de Maiorca,
Brasil e França;

Em Portugal, os doentes de Paramiloidose somam
mais de um terço do total de doentes em lista de espera para
transplantes hepático.