“No entardecer da terra,

O sopro do longo outono

Amareleceu o chão.

Um vago vento erra,

Como um sonho mau num sono,

Na lívida solidão.”

- Fernando Pessoa

No dia 22 de setembro ocorreu o equinócio de Outono. Podemos finalmente (ou infelizmente) dizer olá ao tempo mais fresco. Esta estação, definida pelas suas cores e frutas variadas e pelas roupas aconchegantes, vem acompanhada pela nostalgia. Com a chegada do outono chega também o frio, a chuva, os dias cinzentos, cada vez mais curtos e com menos sol. Surge a depressão afetiva sazonal.

A luz tem um efeito importante na regulação do nosso relógio biológico, controlando a produção de substâncias no nosso cérebro que nos permitem regular vários processos. Uma das hipóteses que relaciona a depressão com a baixa luminosidade, está relacionada com a baixa produção de serotonina, uma dessas substâncias que falava acima, associada à falta de vitamina D. A serotonina é um neurotransmissor, conhecido como “hormona da felicidade”, cujo propósito é ajudar na regulação do humor. Ao existir uma concentração menor deste neurotransmissor, dificuldades como o cansaço, tristeza, e falta de concentração e energia, começam a surgir.

Este tipo de depressão, tal como o nome indica, surge devido à mudança de estação e de condições ambientais, afetando maioritariamente os países do hemisfério norte. Apesar de Portugal fazer parte dos países com grande possibilidade de surgimento desta depressão, a verdade é que continua a ser um país com uma percentagem de dias de sol muito mais elevada que os seus vizinhos mais a norte, como a Irlanda ou a Inglaterra.

Os sintomas da depressão sazonal não diferem muito dos que estão normalmente presentes numa depressão típica. E entre eles estão:

  • Falta de energia e apatia,
  • Irritabilidade,
  • Vontade de isolamento,
  • Sono e cansaço,
  • Aumento do apetite, e por consequência, do peso,
  • Dificuldades de concentração,
  • Desesperança, tristeza e ansiedade.

Se começa a sentir alguns dos efeitos do mau tempo ou como forma de prevenção pode:

  • Aproveitar ao máximo os dias de sol para estar na rua,
  • Arejar a casa sempre que possível para a luz natural poder entrar,
  • Fazer exercício físico de preferência na rua,
  • Criar rotinas de sono que não o permitam ficar na cama até tarde. Quanto mais cedo acordar, “maior” será o seu dia,
  • Manter-se ativo e contrariar a apatia,
  • No emprego, se possível, manter-se perto de janelas,
  • Alimentar-se de forma saudável e nutritiva, aproveitando os alimentos da época,
  • Consumir vitamina D que neste caso não está a ser tão produzida devido à falta de sol.

Porque é que a terapia é importante? E como nos pode ajudar?

Apesar de muito deste estado ser despoletado por questões ambientais, a verdade é que, muitas das dificuldades já estavam presentes. Quando os dias diminuem e a produção de certas substâncias se alteram, isto surge como um gatilho (trigger) que auxilia o surgimento do estado depressivo. A Terapia Cognitivo-Comportamental atua nestas dificuldades trabalhando a área comportamental, ou seja, nas rotinas, motivação e energia, como atua na parte cognitiva, fortalecendo a mente a combater as suas dificuldades ao nível mais emocional. Desenvolvendo outras estratégias para lidar com os desafios, será mais difícil a falta de sol, ativar um estado depressivo.

O outono chegou hoje, e o sol aos poucos vai estando menos tempo do nosso dia no céu e contra isto não podemos lutar. Se isso inevitavelmente nos vai deixar em baixo é sempre uma decisão nossa. Cuidarmos de nós e fortalecermo-nos emocionalmente é uma decisão de todos os dias, durante todo o ano.

Um artigo da psicóloga clínica Sara Cruz.