As células estaminais são células imaturas com capacidade de auto-renovação e diferenciação em formas celulares mais maduras, significa isto que conseguem reparar/substituir células danificadas ou disfuncionais no organismo humano. Existem dois tipos de células estaminais:

- As células estaminais hematopoiéticas, capazes de originar todas as células do sangue e amplamente utilizadas há cerca de três décadas, no transplante alogénico (quando dador e recetor não são a mesma pessoa) de patologias hemato-oncológicas, síndromes de insuficiência medular congénita, imunodeficiências, hemoglobinopatias e distúrbios hereditários do metabolismo.

15 doenças que ainda não têm cura
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- As células estaminais não hematopoiéticas (mesenquimais, endoteliais e “unrestricted somatic stem cells”), com elevado potencial de expansão, capazes de se diferenciarem em células do tecido cartilaginoso, ósseo e nervoso e potencialmente utilizáveis, de forma autóloga (transplantes em que dador e recetor são a mesma pessoa) ou alogénica, para tratar patologias autoimunes, doenças degenerativas do sistema nervoso, patologias isquémicas do miocárdio e doenças vasculares periféricas.

As fontes de células estaminais adultas são várias: o sangue periférico (corrente sanguínea), a medula óssea, a mucosa nasal, o tecido adiposo, o sangue do cordão umbilical e também o tecido do cordão umbilical.

As fontes mais comuns são o sangue periférico, o sangue do cordão umbilical e a medula óssea. Contudo, mais recentemente começou também a ser utilizado o tecido do cordão umbilical como fonte de células estaminais adultas.

Primeiro transplante em 1988

Desde o primeiro transplante de células estaminais do sangue do cordão umbilical, realizado em 1988 para tratamento de uma anemia de Fanconi, muitos bancos públicos de sangue do cordão umbilical têm contribuído para o armazenamento de uma quantidade de amostras de sangue que poderão ser usadas para salvar doentes à procura de um dador compatível.

Ao longo dos últimos 30 anos realizaram-se mais de 35.000 transplantes com sangue do cordão umbilical. Nestes transplantes foram utilizadas células estaminais hematopoiéticas não manipuladas cujo objetivo foi substituir aquelas células que, entretanto, foram destruídas por quimioterapia.

Uma alternativa aotransplante de medula óssea

As células estaminais hematopoiéticas do sangue do cordão umbilical representam uma alternativa ao transplante de medula óssea e são utilizadas no tratamento de muitas doenças hemato-oncológicas, com vantagens evidentes em relação a outras fontes de células estaminais, entre elas o facto de serem recolhidas à nascença e, por isso, serem mais imaturas e com uma maior capacidade de autorrenovação.

Ressalva-se ainda a recolha totalmente indolor e não-invasiva, sem riscos para a mãe ou para o bebé. As células estaminais são 100% compatíveis com o próprio e têm uma probabilidade de serem compatíveis entre irmãos (quando filhos dos mesmos progenitores) de 25%. Por último, a disponibilidade para utilização quase imediata é uma vantagem a ter em conta face às outras fontes.

Quando se fala do tecido do cordão umbilical, este é especialmente rico em células estaminais mesenquimais com um grande potencial terapêutico, graças à sua capacidade diferenciação em diferentes tipos de tecidos e, para além disso, com propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras.

Atualmente, estas células podem ser utilizadas em simultâneo com as células do sangue do cordão umbilical (células estaminais hematopoiéticas) com o objetivo de minimizar os efeitos da doença do enxerto contra o hospedeiro (GVHD). Esta doença ocorre nos transplantes alogénicos (em que o dador é diferente do recetor) e é considerada uma das complicações mais temível e frequente no pós-transplante.

A criopreservação traduz-se na preservação em criogenia (abaixo dos -150ºC) de produtos biológicos, nomeadamente sangue e tecido do cordão umbilical, que têm apenas um momento para ser recolhidos – o parto – e que poderão ser utilizados no futuro uma vez mantidos em azoto líquido a temperaturas abaixo de 150ºC negativos. A estas temperaturas tão baixas garante-se a quase inexistência de degradação celular e, assim, as células, apesar dos anos passados, mantêm a sua viabilidade celular.

Os futuros pais devem, durante a gravidez, considerar um dos três cenários quanto ao momento do parto:

- Recorrer a um banco público e doar as células estaminais do sangue do cordão umbilical, renunciando, assim, a todos os direitos sobre as células do seu bebé. Os bancos públicos estão ligados a uma rede de registos mundial e as células do seu bebé entrarão neste registo, para serem utilizadas por quem necessite. As amostras que não cumpram os requisitos para serem criopreservadas serão utilizadas para investigação ou para controlo de qualidade. Após a doação, as células passam a ser propriedade do banco público.

- Recorrer a um banco privado e guardar as células do sangue e do tecido do cordão umbilical do seu bebé para utilização familiar (para o próprio ou, eventualmente, para os irmãos). As células só serão disponibilizadas mediante autorização escrita dos pais (ou da criança aquando maior de idade) e não serão utilizadas para investigação.

- Tomar a decisão de não efetuar a recolha do sangue e tecido do cordão umbilical e, consequentemente, descartar as amostras que serão encaminhadas como lixo biológico para incineração.

Existem hoje muitas patologias que ainda não têm cura, como doenças oncológicas, neurodegenerativas, metabólicas, entre outras, que poderão encontrar uma eventual janela de oportunidade de tratamento através de terapias celulares avançadas.

Contudo, é importante realçar que a evolução dos ensaios clínicos e estudos complementares é lenta, levando décadas até estarem disponíveis na prática clínica. A decisão de guardar as células estaminais do sangue e tecido do cordão umbilical é, por isso, uma decisão que também se deverá basear no futuro, considerando o potencial terapêutico que um produto biológico colhido no momento do parto poderá vir a ter.

As explicações são do médico Luís Marinho, especialista em Patologia Clínica e Diretor Clínico do Laboratório Bebé Vida.