De entre os alimentos de maior consumo no mundo, a batata é aquele que dá mais nutrientes e refeições por hectar.

Curiosamente quando os espanhóis descobriram este tubérculo no Peru, ainda não estava disseminado pelo resto da América do Sul. Quando foi introduzida na Europa, a batata era apenas uma curiosidade botânica, sendo utilizada para alimentar porcos.

Porcos e outro tipo de gado! Foi até considerada venenosa em França e outros países, pois acreditava-se que causava lepra e outras doenças. Existiam muitas crenças e superstições que afirmavam que se tratava de uma produção subterrânea e maléfica que nem sequer vinha citada na Bíblia, por isso não poderia ser boa para os humanos. No século XIX, a batata era o alimento mais importante dos operários das grandes indústrias.

Propriedades nutritivas

Têm a fama de que engordam mas esse mito tem vindo a ser desmistificado ao longo dos últimos anos. Fonte de vitaminas B1, B3, B6, C e ácido fólico, este tubérculo contém ainda cobre, ferro, potássio e fibra. Apesar de ter um índice glicémico elevado, este alimento tem, no entanto, uma carga glicémica baixa. Deve, contudo, evitar comê-las (fritas ou assadas) com a pele, uma vez que esta triplica a carga glicémica deste vegetal.

Origem, rotas e destinos

Os peruanos já cultivavam e comiam batatas há 4000-7000 anos. Foram encontradas pinturas em peças de cerâmica, que indicavam que este povo venerava e adorava esta planta. Uma recente pesquisa baseada no DNA, comprovou que todas as variedades de batata descendem de uma única variedade de planta originaria do sul do Peru. O povo inca cultivava este tubérculo juntamente com o milho, sendo depois trazido para a Europa quando Pizarro (conquistador espanhol) descobriu e destruiu esta civilização.

A primeira plantação foi feita na segunda metade do século XVI na região de Sevilha por missionários, que fizeram o primeiro puré, que foi distribuído aos pobres famintos com muito sucesso. Segundo Salaman (1937), a primeira referência à batata, vem descrita por Juan Castellanos na «Historia del Nuevo Mundo», que relata como em 1537 viu uma espécie de «trufa branca», como se lhes refere, nas cabanas dos índios na aldeia de Sorocotá na Colômbia, descrevendo-a como uma «raiz farinhenta de bom paladar, muito apreciada pelos indígenas e um bom manjar para os espanhois».

Em Portugal, a batata foi inicialmente cultivada em meados de século XVIII, segundo Barbosa (1884). Aranha e Graça (1942) dizem que a batata foi introduzida no nosso País pouco antes de 1760, sendo cultivada em Trás-os-Montes, passando para o Minho e Beiras. Segundo Almeida (em Aranha e Graça, 1942), «as primeiras batatas foram vistas em Bragança nas provisões dos soldados de Napoleão».

Aspetos agrícolas

Inicialmente, a batata foi rejeitada porque os primeiros agricultores que a comeram não retiraram a casca e esta ficou com um sabor a terra, bastante desagradável. Na época de 1800, a Irlanda estava a desenvolver-se, chegando a 4, 5 milhões de pessoas, que viviam à custa da batata, que era tratada contra o míldio todos os anos com soluções de cobre, mas nos anos 1845 e 1846 a doença alastra-se, originando uma quebra de produção enorme que provocou a morte (mais de 1 milhão) e a emigração de muitos irlandeses (2,5 milhões) para a América do Norte.

A batata é uma das culturas que mais contribui para a alimentação mundial (mais de 314 milhões de toneladas/ano), ocupando o quarto lugar (alguns autores afirmam que ocupa o terceiro), atrás do trigo, do arroz e do milho. A Rússia, China e Índia são os principais produtores mundiais. A nível da Europa, Ucrânia, Alemanha e Polónia são os maiores produtores (dados de 2006). Em Portugal, as regiões que produzem mais são Trás-os-Montes, Beira Litoral e Ribatejo Oeste.

Histórias e lendas

Uma versão histórica diz que Sir Francis Drake, ao voltar da Virgínia em 1586, trouxe umas batatas da Virgínia, que foram entregues a um empregado de Sir Walter Raleigh, que as plantou na sua herdade, na região da Irlanda. Quando a plantação floriu e deu o fruto venenoso, ele colheu-o e cozinhou-o, dando-o ao seu patrão que adoeceu em consequência disso. Esta é uma das teorias do modo como a batata foi introduzida em Inglaterra. Outra, mais provável, diz-nos que foi trazida pelos Espanhóis e expandida pelo resto da Europa.

Na Alemanha, a população da Prússia vivia num estado de pobreza e fome. O Rei Frederick mandou um grupo de soldados distribuir batatas pela população, livrando o povo da morte. Os cidadãos de Offenburg ficaram tão agradecidos que ergueram uma estátua a Sir Francis Drake, o responsável pela introdução das batatas neste país. Em 1743, a população da Escócia vivia um período de grande fome, que foi combatida com a plantação da batata pelas Ilhas Britânicas. A partir desta altura, esta cultura passou a ter um grande desenvolvimento no resto da Europa.

Na II Guerra Mundial, a Inglaterra fez uma campanha «Cada homem um agricultor», de modo a levar a população a plantar legumes e hortaliças. Até o rei mandou substituir os canteiros de gerânios do Palácio de Buckingham por batatas e couves. Em 1918, no fim da guerra, os famosos relvados de Kew (relvados reais), em Londres, produziram 30 toneladas de batatas, para ajudar a combater as carências de alimentação provocadas pela guerra.

Curiosidades

Os agricultores do País de Gales pagavam a renda dos terrenos aos senhorios, em batatas. O farmacêutico Antoine Augustin Parmentier (1737-1813) teve a ideia de deixar a população francesa, que estava a morrer de fome, comer as «pommes de terre» (maçãs da terra) ou batatas.

Parmentier estava determinado a introduzir esta planta em França e apresentou-a ao Rei Luís XVI, tendo até confecionado uma refeição completa, usando sempre a batata. Convenceu mesmo a vaidosa Maria Antonieta (rainha) a usar no seu cabelo uma flor da batateira.

Em 1770, o rei Luís XVI deixa plantar, secretamente, uma zona só com batatas, colocando guardas à volta do batatal. Isto fez despertar a curiosidade dos camponeses que durante a noite conseguiram roubar alguns exemplares e foi assim que a batata se espalhou pelo resto da França.

Texto: Pedro Rau (engenheiro hortofrutícola)