São doenças que se confundem entre si porque, na maioria das vezes, os principais sintomas são semelhantes.

Febre, tosse, nariz obstruído, dores de garganta incomodam-nos no inverno e levam a que, frequentemente, se faça um autodiagnóstico.

«Estou com gripe», é comum ouvir-se, quando a pessoa tem apenas uma constipação.

O estudo «Atitudes e Comportamentos face às infeções respiratórias», apresentado em 2012, revelou que cerca de 30 por cento dos portugueses recorre à toma de chá e mel para prevenir estas patologias e 12 por cento associa-as a ambientes poluídos. Para que tenha uma saúde de ferro no inverno, Carlos Robalo Cordeiro, pneumologista, analisa as principais doenças respiratórias desta época do ano.

Gripe

Doença infecciosa do aparelho respiratório, a gripe predomina nos meses frios de inverno, «causada pelo vírus Influenza e habitualmente limitada no tempo, podendo propagar-se, nomeadamente, através da tosse ou espirros de doentes infetados», explica Carlos Robalo Cordeiro, pneumologista. O seu alvo principal é a população com mais de 60 anos e as crianças com doenças pulmonares crónicas, por exemplo a asma, estão mais predispostas a estas infeções, bem como trabalhadores da área da saúde.

Febre, habitualmente elevada, dores musculares, dores de cabeça e «mal-estar geral, o que, no típico contexto epidemiológico (época do ano, surto gripal e/ou contacto com pessoa infetada), permitem o diagnóstico», são os principais sintomas a que devemos estar atentos, segundo o pneumologista.

«O tratamento pode constar unicamente da toma de antipiréticos e/ou anti-inflamatórios, para a febre e dores já referidas, ou também de xaropes ou comprimidos para drenar as secreções em abundância», explica o pneumologista. O tratamento pode incluir a toma de antibiótico, para prevenir complicações bacterianas que poderiam fazer evoluir para uma situação mais grave ou ainda medicação antiviral, em quadros clínicos mais severos.

Constipação

A constipação é uma doença infecciosa das vias aéreas superiores, mais frequente no outono e inverno, «também conhecida como coriza, autolimitada a um período de dois a três dias, cujo contágio se faz habitualmente através das secreções respiratórias emitidas da população doente» salienta Carlos Robalo Cordeiro. A constipação pode atingir qualquer pessoa, estando mais sujeitas a esta infeção provocada por vírus pessoas com patologia crónica, como a diabetes, doenças cardíacas ou respiratórias.

«Os sintomas mais frequentes são congestão ou corrimento nasal e dor a engolir», exemplifica. «Só com febre alta, maior debilidade ou queixas respiratórias como tosse ou rouquidão arrastadas, se deverá recorrer a cuidados de saúde mais diferenciados e eventualmente realizar radiografia do tórax ou análises», esclarece o pneumologista.

Sendo uma doença habitualmente limitada a três ou cinco dias, «o tratamento pode constar principalmente de medicação para a febre, anti-inflamatórios para as restantes queixas, antialérgicos para o corrimento nasal ou ainda descongestionantes nasais, a utilizar mais raramente e em períodos curtos», salienta.

Pneunomia

Trata-se de uma infeção pulmonar, habitualmente provocada por bactérias. Instala-se de forma súbita, muitas vezes em indivíduos debilitados, «e necessita de diagnóstico através de radiografia do tórax, exigindo um tratamento mínimo de uma semana com antibióticos», explica Carlos Robalo Cordeiro.

As pneumonias são as infeções mais graves do aparelho respiratório, sendo mais frequentes em indivíduos idosos e/ou com doenças crónicas e em indivíduos com diminuição das defesas do organismo, como os doentes com sida ou que fazem quimioterapia. E quais os sintomas?

«Existe habitualmente febre alta, tosse com expetoração esverdeada, por vezes também com emissão de sangue e variável repercussão sobre o estado geral, que pode determinar também diminuição do apetite e emagrecimento», enumera o especialista.

tratamento antibiótico tem de ser iniciado de imediato após o diagnóstico. Carlos Robalo Cordeiro acrescenta que «em idosos com saúde fragilizada, doenças crónicas graves ou com dificuldade respiratória importante, o tratamento deve ser feito em internamento e incluir diversas medidas, entre as quais, a administração de oxigénio», acrescenta ainda.

Asma

Segundo a Associação Portuguesa de Asmáticos, «a asma é a doença crónica mais frequente nas crianças, atingindo cerca de 15 por cento da população pediátrica. Caracteriza-se por um processo inflamatório crónico que leva a uma hiperatividade brônquica e, consequentemente, a uma obstrução variável das vias aéreas, com períodos de agudização que revertem total ou parcialmente.» A asma é habitualmente de causa alérgica, afetando pessoas com antecedentes familiares de alergias.

«Muitas vezes, na evolução da doença alérgica, a primeira manifestação dá-se na pele, na infância, depois no nariz, com rinite alérgica e mais tarde com asma», explica o pneumologista. Esta doença provoca crises de falta de ar, «pieira e sensação de aperto torácico, habitualmente após contacto com as substâncias a que o doente é sensível, como o pó, os pólenes, os pelos de cão ou gato, mas também certos alimentos ou medicamentos».

A identificação da doença e da alergia associada exige a realização de estudos alergológicos especializados. «O tratamento consiste na inalação de medicamentos dilatadores dos brônquios e anti-inflamatórios (corticoides), mas pode recorrer-se à tentativa de dessensibilização do doente às substâncias a que o organismo reage através de imunoterapia específica», diz Carlos Robalo Cordeiro.

Regra geral a doença é controlável com medicação regular ou apenas para as crises, mas em casos mais graves pode haver necessidade de administração de oxigénio ou de hospitalização.

Bronquite

A bronquiolite é uma doença que se caracteriza por uma inflamação nas vias aéreas de menor dimensão, os bronquíolos e que, geralmente, é causada por uma infeção viral. É uma doença sazonal, mais frequente nos meses de outono e de inverno, e afeta crianças até aos dois anos de idade, sendo que a maioria dos casos ocorre entre os três e os seis meses de idade.

O vírus sincicial respiratório é o principal microrganismo envolvido, podendo causar infeções pulmonares também em adultos saudáveis. Tosse intensa, febre baixa, dificuldade respiratória, com pieira, irritabilidade e vómitos nas crianças pequenas são os principais sinais a que que se deve estar atento. O diagnóstico é realizado através do exame do doente e descrição de sintomas.

A radiografia ao tórax poderá ajudar a confirmar o diagnóstico ou a excluir outras patologias, como por exemplo a pneumonia. «Os adultos e as crianças mais velhos geralmente precisam apenas de medicação para alívio dos sintomas», diz o pneumologista. Normalmente, os sintomas desaparecem numa semana e a dificuldade respiratória melhora ao terceiro dia. Denote-se que «a repetição destas crises pode ser um indicador do início de doença asmática», alerta.

Algumas crianças pequenas podem necessitar de internamento hospitalar para tratamento e acompanhamento. Carlos Robalo Cordeiro acrescenta que «há a possibilidade de se utilizar broncodilatadores, corticoides e mesmo adrenalina por via inalatória. Em situações graves pode recorrer-se a antivirais.»

Agentes protetores

Seis estratégias para passar o inverno sem problemas:

- Evite grandes diferenças de temperatura, nomeadamente, a exposição prolongada ao frio.

- Não permaneça em ambientes confinados em presença de pessoas com infeção respiratória.

- Promova a boa educação respiratória. Tape a boca ao tossir ou espirrar para evitar a contaminação.

- Siga também uma dieta equilibrada, com a ingestão de alimentos da época e ricos em vitaminas, como as laranjas ou kiwis.

- Recorra, se necessário, à toma de suplementos vitamínicos e antioxidantes, nomeadamente vitaminas A, C, E ou selénio, por exemplo, ou ainda acetilcisteína, que tem a vantagem de facilitar a expulsão de excesso de muco acumulado nas vias respiratórias.

- Para aumentar as defesas respiratórias poderá tomar as chamadas vacinas orais, medicamentos extraídos das bactérias da flora do aparelho respiratório e com espetro mais alargado, sob a forma de comprimidos ou solução oral. Informe-se junto do seu médico assistente.

Texto: Cláudia Pinto com Carlos Robalo Cordeiro (pneumologista)