Geralmente, estes episódios são uma consequência da asfixia perinatal, que pode ocorrer em recém-nascidos e se deve, entre outras causas, à compressão do cordão umbilical ou à hipotensão materna. Apesar dos avanços nos cuidados neonatais, a incidência destes acidentes é ainda elevada e uma grande parte dos sobreviventes sofre sequelas graves e permanentes, como a paralisia cerebral.
A abordagem terapêutica atualmente utilizada passa, essencialmente, pela hipotermia induzida, ou seja, a redução da temperatura corporal do recém-nascido. Esta abordagem, contudo, não consegue responder aos casos mais severos. Para dar resposta a esta necessidade médica, estão a ser realizados vários ensaios clínicos no sentido de desenvolver uma técnica mais eficaz no tratamento das lesões cerebrais causadas por HI.
Recentemente, um grupo de investigadores japoneses realizou um estudo em modelo animal com ratos recém-nascidos, para avaliar o efeito da infusão de sangue do cordão umbilical no tratamento de HI neonatal. Nesta experiência, as células estaminais do sangue do cordão umbilical foram expandidas em laboratório, gerando um maior número de células e, seguidamente, infundidas nos ratos recém-nascidos com HI. Após a infusão, foi avaliada a evolução da função motora e da morfologia cerebral.
No final, observou-se, nos ratos infundidos com células estaminais, uma melhoria significativa na função motora e uma diminuição eficaz da extensão da lesão cerebral. Os investigadores referem que os efeitos positivos se devem, provavelmente, à secreção de moléculas que promovem um ambiente anti-inflamatório em torno da lesão, diminuindo os danos cerebrais.
A utilização de células do sangue do cordão umbilical no tratamento da hipóxia-isquémia está relacionada com as diversas vantagens que estas células apresentam. Em primeiro lugar, estudos em modelos animais têm sugerido que estas células têm propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras. Para além disso, estão disponíveis logo após o nascimento e, como tal, as células da própria pessoa podem ser utilizadas na realização de transplantes. Por outro lado, as células do sangue do cordão umbilical podem ser administradas por via intravenosa, atravessando a barreira que protege o sistema nervoso de substâncias neurotóxicas presentes no sangue, e não induzem a formação de tumores dentro do próprio organismo.
Este estudo fornece evidências científicas do potencial terapêutico das células do sangue do cordão umbilical na abordagem a este problema, o que justifica a realização de ensaios clínicos em recém-nascidos. O sucesso destes ensaios pode, no futuro, dar lugar a novos e mais eficazes tratamentos que permitam diminuir o número de crianças que sofrem sequelas graves decorrentes destes episódios.
As explicações são de Bruna Moreira, investigadora da Departamento de I&D da Crioestaminal
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