A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que, segundo a Alzheimer Europe, atinge cerca de 7,3 milhões de cidadãos europeus, incluindo mais de 90 000 portugueses, podendo duplicar nos próximos anos.

Trata-se da principal causa de demência nos indivíduos com mais de 65 anos e vai condicionando uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas.

A doença de Alzheimer caracteriza-se pela morte de neurónios em determinadas partes do cérebro e com a acumulação de placas de proteína beta-amilóide. Os sintomas da doença vão-se agravando à medida que a comunicação entre as células cerebrais se vai alterando e à medida que estas vão morrendo. Ao longo destes últimos anos têm vindo a ser detectados diferentes factores de risco para esta doença, alguns deles modificáveis.

Segundo um artigo de revisão do The Lancet Neurology, cerca de metade dos casos de doença podem ser prevenidos através da melhoria de determinados factores de risco, nomeadamente diabetes tipo 2, obesidade, hipertensão, hábitos tabágicos, falta de estimulação cognitiva e sedentarismo. Isto significa que, para muitos casos de Alzheimer, a alteração dos hábitos alimentares e de outros factores do estilo de vida, pode ser suficiente para evitar esta doença.

As evidências mais fortes dizem respeito à associação entre a diabetes, resistência à insulina e a doença de Alzheimer, indicando que os diabéticos têm o dobro da probabilidade de desenvolver esta doença. Alguns investigadores estão a designar a doença de Alzheimer como a diabetes tipo 3. A diminuição dos níveis de insulina parece levar a degeneração ou mesmo morte das células cerebrais.

Mas existem outros factores de risco, passíveis de serem optimizados. Níveis plasmáticos de homocisteína elevados, nomeadamente superiores a 14 estão associados ao dobro da incidência de alzheimer, fazendo com que a medição deste composto através de análises sanguíneas, seja essencial na abordagem preventiva desta doença. Os valores deste composto dependem da ingestão de algumas vitaminas do complexo B e, segundo investigações, uma maior ingestão de ácido fólico diminuiu em 55% o risco de alzheimer.

A presença de uma característica genética, avaliada no teste de nutrigenética, pode explicar a presença de níveis elevados de homocisteína apesar de uma ingestão adequada destas vitaminas, sendo necessário uma abordagem nutricional personalizada. A alimentação pode ainda actuar ainda a nível do perfil genético considerado de risco, atenuando o impacto que este tem no desenvolvimento da doença de Alzheimer.

Teorias mais inovadoras referem o carácter inflamatório e oxidativo da doença de alzheimer, designando-a como uma doença inflamatória degenerativa, permitindo o uso de abordagens anti-inflamatórias.

Diferentes estudos com nutrientes anti-inflamatórios e antioxidantes, incluindo aqueles que actuam a nível genético impedindo a produção de compostos pró-inflamatórios, têm revelado resultados muito promissores, quer na prevenção, quer no atraso do desenvolvimento desta doença.

Um dos exemplos é um estudo publicado no JAMA.

Durante essa avaliação, verificou-se que a ingestão elevada de alimentos ricos em vitamina E foi capaz de diminuir em 67% o risco de Alzheimer. Uma versão ainda mais inovadora é a visão de que placas amilóides consideradas como a causa da doença de alzheimer, possam ser uma resposta do cérebro a infecções.

Estudos recentes revelam que estas proteínas têm capacidades antimicrobianas, o que significa que seriam assim uma tentativa do sistema imune cerebral reagir contra eventuais infeções, o que vem de certa maneira explicar porque é que todos os fármacos concebidos para eliminar ou controlar a ação desta beta-proteina não tenham produzido os resultados esperados, podendo mesmo acelerar a doença.

Outra relação que tem vindo a ser observada é a associação importante entre a infeção crónica pelo virus herpes simplex tipo 1 e a doença de Alzheimer, aparentemente nos indivíduos com o polimorfismo genético APOE4, mas esta hipótese ainda requer mais estudos. «Apesar de estarmos a falar de apenas uma doença, a de Alzheimer, os fatores de risco e mecanismos associados podem ser distintos, não existindo por isso um tratamento ou uma medida preventiva que possa ser generalizada», alerta, contudo, Cristina Sales, médica especializada em medicina funcional integrativa.

«Torna-se por isso essencial avaliar, de forma individualizada, quais os fatores de risco presentes, recorrendo a análises bioquímicas laboratorias, de stress oxidativo e de nutrigenética, e atuar de forma assertiva e personalizada, de maneira a prevenir esta doença, cuja incidência está a aumentar assustadoramente», sublinha ainda esta especialista num texto publicado na newsletter Science News.