Existem 500 mil portugueses com diabetes e estima-se que haja mais 400 mil por diagnosticar. Prevenir e controlar são palavras de ordem, não apenas para as pessoas com diabetes como para a população em geral, em prol de uma vida saudável, isenta de diabetes e respectivas complicações.
Praticar exercício físico e ter uma alimentação saudável são dois hábitos que previnem a diabetes. Quem dela sofre deve, contudo, ter cuidados redobrados. Isto porque o sedentarismo, a obesidade e a má alimentação aceleram o aparecimento das complicações resultantes da diabetes. Apesar de poderem ter uma vida normal e desempenhar todo o género de actividades, devem ainda considerar outros aspectos, como seja o controlo rigoroso da glicemia. Não foi por acaso que o tema escolhido para assinalar o Dia Mundial da Diabetes (14 de Novembro) tenha sido “Vamos Controlar a Diabetes. Agora”. “Queremos transmitir mensagens positivas em torno da prevenção da diabetes e da sensibilização, apelando às pessoas para assumir o controlo desta epidemia silenciosa que afecta o nosso planeta em números alarmantes”, indica Jean Claude Mbanya, presidente da International Diabetes Federation (IDF).
“Quem não tem diabetes deve adoptar estilos de vida saudáveis e, dessa forma, diminuir os factores de risco. Já os diabéticos devem prevenir o aparecimento das complicações, quer adoptando hábitos salutares quer controlando os níveis de glicemia, de lípidos e da tensão arterial”, alerta o Dr. José Manuel Boavida, coordenador do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes e Presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD).
Estima-se que existam 900 mil diabéticos em Portugal, dos quais 400 mil estão ainda por diagnosticar. Dos 500 mil diagnosticados, entre 90% a 95% têm diabetes tipo 2. Menos comum, mas mais frequente nos mais novos, a diabetes tipo 1 afecta aproximadamente 3500 crianças e jovens, sendo que, por ano, cerca de 40 crianças com menos de quatro anos desenvolvem diabetes tipo 1. Importa clarificar que esta é uma doença auto-imune, caracterizada pela falência do pâncreas na produção de insulina; os doentes são insulinodependentes e nada podem fazer para evitar o seu aparecimento. Já a diabetes tipo 2 é provocada por hábitos de vida desadequados e evitáveis. Ambos os tipos requerem controlo rigoroso (glicemia, lípidos, tensão arterial), sob pena de aparecerem as complicações.
Actualmente, atendendo à divulgação da informação, sensibilização e aparecimento de novos tratamentos, não se pode dar espaço ao descontrolo. “Novos e melhores conhecimentos acerca da diabetes originaram o desenvolvimento de meios capazes de a controlar. Também levaram ao aparecimento de outras opções terapêuticas, nomeadamente novos fármacos, insulinas e, desde há 2 anos, bombas de insulina”, refere o Dr. Luís Gardete Correia, presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), fundada há 84 anos e onde são acompanhados mais de 15 mil indivíduos com diabetes. Todavia, José Manuel Boavida sublinha que “os resultados positivos dependem imenso do autocontrolo e responsabilidade das pessoas”.
É problemático descobrir a doença mais tarde. Ou seja, “em muitos casos, o diagnóstico é feito oito a dez anos após o aparecimento da doença, altura em que já surgiram complicações”, clarifica o presidente da APDP. E, para José Manuel Boavida, ainda existem lacunas na prevenção: “Continuamos a assistir ao aumento do número de casos e sabemos que 60% podiam ser evitados, se tivessem iniciado atempadamente programas de controlo de peso, através de alimentação adequada e exercício físico.” “Muitas pessoas descuram os sinais de alerta da diabetes, nomeadamente micção frequente, sede excessiva, aumento do apetite, perda de peso, cansaço, falta de interesse e de concentração, vómitos e dor de estômago (muitas vezes confundida com a gripe), uma sensação de formigueiro ou dormência nas mãos ou nos pés, visão turva, infecções e feridas de cicatrização lenta”, completa Jean Claude Mbanya.
O desafio da sensibilização
A diabetes é uma doença que afecta o sistema circulatório e órgãos vitais. A retinopatia é a complicação mais frequente e a principal causa de cegueira na população diabética. Outras são a insuficiência renal, a neuropatia, as úlceras, que muitas vezes conduzem à amputação dos membros inferiores, os acidentes vasculares cerebrais e o enfarte do miocárdio nos jovens. Para evitar o seu aparecimento, os médicos supracitados insistem na importância da prevenção. Porém, são unânimes em relação à complexidade do processo de sensibilização junto da população. Afinal, envolve mudança não apenas de hábitos mas também de mentalidades.
“Tem havido falta de controlo e de regulação na industrialização da alimentação. Por exemplo, devia ser proibida a publicidade enganosa a alimentos com elevado teor de sal”, aponta José Manuel Boavida, que considera relevante a intervenção da comunidade europeia. “A prevenção tem de ser feita a nível global, em especial junto dos mais novos, nas escolas, através da televisão e nas universidades”, corrobora Luís Gardete Correia.
Na opinião do presidente da APDP, as autoridades responsáveis pela política da saúde deveriam investir mais na prevenção, por ser menos dispendiosa que o tratamento das complicações. “Deveria ser criada uma estrutura programada a nível nacional com o contributo não só do Ministério da Saúde mas também dos Ministérios do Comércio e da Educação”, indica.
O Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes, criado em 2008, é um bom exemplo de uma medida preventiva. Numa primeira fase foi feito o estudo da realidade portuguesa relativamente à diabetes. Agora, estão a ser delineadas estratégias de actuação para atingir as metas determinadas a nível mundial. “A educação tem de começar nas escolas e, felizmente, já está a decorrer (em algumas localidades com o apoio das câmaras municipais). A obesidade está a aumentar nos mais jovens e tanto os pais como os professores são fundamentais nesta mudança de hábitos, que visa combater a obesidade infantil e a diabetes por consequência”, diz o coordenador do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes, para quem o triângulo “saúde, autarquias e escolas” é fundamental para fazer chegar a mensagem a toda a população, que, por sua vez, terá de fazer a sua parte.
Dia Mundial da Diabetes (14 de Novembro)
A efeméride foi assinalada em todo o mundo com actividades alusivas ao tema “Vamos controlar a diabetes. Agora”. Por cá decorreram diversas iniciativas de Norte a Sul que fizeram jus à temática, alertando a população para a importância do controlo e prevenção da diabetes. No dia 14 realizou-se em Lisboa, com forte adesão, a primeira edição da “Corrida pela Diabetes”, promovida pela APDP e pela Fundação Ernesto Roma.
Mas as comemorações começaram nas vésperas. No dia 12 a Livraria Barata, em Lisboa, acolheu o lançamento do livro Sem Açúcar, Com Afecto da autoria da endocrinologista Sílvia Saraiva. No dia 13, decorreu o IV Fórum Nacional da Diabetes, no Parque de Feiras e Exposições de Aveiro. Subordinado ao tema “Todos no mesmo Barco”, foi organizado conjuntamente pela APDP, SPD, Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral (APMCG).
Tudo sobre a diabetes tipo 2
A Merck Sharp&Dohme (MSD) também não deixou passar em branco o Dia Mundial da Diabetes. Com o intuito de facilitar o acesso a informação lançou, em simultâneo com a cerimónia de abertura do IV Fórum Nacional da Diabetes, o site www.controlaradiabetes.com. É o “sítio certo para quem vive com diabetes tipo 2”. Afinal, através desta morada virtual é possível compreender a doença, aprender a controlá-la e saber quais as soluções terapêuticas existentes. Ensina, ainda, a adoptar estilos de vida saudáveis e, entre outras funcionalidades, dispõe de glossário e contactos úteis.
Texto: Sofia Filipe
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