Em Portugal estima-se que até à data se tenham registado cerca de 960.000 casos de COVID-19, que resultaram em 17.320 mortes e 891.000 recuperações.

A pergunta pertinente é esta: estarão mesmo recuperados? Estudos recentes apontam para que a infeção esta longe de ser apenas uma questão localizada e momentânea, com cerca de 17% dos “recuperados” a necessitar de novo internamento e 7% a falecer 6 meses após a alta, como resultado de efeitos num vasto leque de patologia orgânica e problemas autoimunes.

Embora a síndrome pós-Covid continue a evoluir tem sido sugerido pela comunidade científica, na definição pela persistência de sintomas 3 a 4 semanas após o fim da replicação viral.

Várias são as manifestações clínicas pós-Covid, as mais persistentes são nível respiratório, pois é o órgão habitualmente mais afetado pela infeção, podendo manifestar-se com uma panóplia de sintomas, como fadiga, falta de ar, tosse persistente, dor torácica, superinfeção bacteriana, entre outros sintomas.

Na área cardiovascular, também podem surgir, queixas como dor no peito, palpitações, enfarte agudo miocárdio e miocardite e fenómenos tromboembolicos. A área neuropsiquiátrica tem uma importância acrescida com distúrbios do sono, perda do olfato e paladar, formigueiros, falta de memória e concentração, acidentes vasculares cerebrais, aumento da ansiedade e sintomas depressivos. Também podem surgir queixas gastrointestinais como náuseas, vómitos, diarreia e perda do apetite. Tem sido referido a presença de diabetes, assim como diminuição da função renal, a pele pode também ser envolvida com vários tipos de erupções cutâneas e perda de cabelo.

Estamos ainda numa fase inicial da caraterização da síndrome pós-Covid sendo necessário uma ativa e continua pesquisa que inclua a identificação e caracterização clínica, laboratorial e imagiológica do mesmo.

Dai a necessidade de uma avaliação clínica pós-Covid através de uma consulta geralmente efetuada por um clínico generalista, mas que tenha uma abordagem multidisciplinar com as várias especialidades médicas envolvidas e com apoio de meios complementares diagnostico apropriados, como análises, ecocardiograma, angiotac, etc.

A deteção precoce de sintomas ou sinais silenciosos, que numa primeira fase, o doente e até mesmo o clínico não ligam imediatamente à COVID-19, é fundamental.

O diagnóstico destas condições é de uma importância extrema para uma adequação terapêutica eficaz, evitando problemas de maior para o doente no futuro.

A comunidade médica tem uma responsabilidade acrescida em alertar a sociedade para este problema, ainda numa fase muito inicial e em parte desconhecido, criando consultas pós-Covid nas unidades de saúde e promovendo uma campanha de comunicação séria sobre este assunto.