A obesidade é considerada, de acordo com a Organização Mundial de Saúde e a Direção-Geral da Saúde, uma doença crónica, cuja incidência e prevalência tem aumentado ao longo das últimas décadas. Atualmente, representa uma das maiores pandemias a nível mundial, tratando-se de um grave problema de saúde pública. Apesar da crescente sensibilização da população e das políticas de prevenção, está previsto que a sua prevalência continue a aumentar nos próximos anos. De acordo com o relatório da Federação Mundial de Obesidade de 2023, a obesidade afeta em Portugal cerca de 28.7% da população adulta, o que corresponde a cerca de 2 milhões de pessoas. Por sua vez, o excesso de peso atinge já cerca de 67.6% da população adulta em Portugal.
A obesidade é uma doença heterogénea e multifatorial. Está associada a fatores individuais, genéticos, psicológicos, ambientais, socioeconómicos, hormonais, entre outros. A complexidade desta doença é um dos fatores-chave para a dificuldade da sua identificação e tratamento. No entanto, o estigma presente na sociedade atual relativamente à obesidade ainda é muito comum, o que também dificulta o seu diagnóstico e consequente abordagem terapêutica.
A obesidade é considerada um fator de risco para o aparecimento de outras doenças, nomeadamente cardiovasculares, oncológicas e do foro psicológico. Destaca-se o aumento do risco de diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidémia e síndrome de apneia de sono. Assim, está associada ao aumento do risco de eventos cardiovasculares, tais como o enfarte agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral. A obesidade está também associada ao agravamento da qualidade de vida das pessoas e a um pior desempenho das atividades pessoais e profissionais.
É fundamental abordar este problema de uma forma holística, com enfoque no tratamento da obesidade, mas também das doenças associadas. A abordagem desta doença deve ser multidisciplinar, através de equipas de profissionais de saúde com treino e experiência na área. Deve incluir medidas de alteração de estilo de vida, nomeadamente promover um comportamento alimentar adequado e atividade física regular. A introdução de terapêutica farmacológica também deve ser ponderada. Esta deve ser individualizada e decidida de acordo com prescrição médica. O tratamento deve ser monitorizado regularmente, tendo em conta a cronicidade desta doença. É essencial serem estabelecidos planos de tratamento realistas, cujo principal objetivo é a melhoria da saúde do indivíduo a curto, médio e longo prazo.
Nesta época festiva, deve ser lançado o alerta de que, mais importante do que os cuidados neste período específico, é fundamental que o tratamento desta doença esteja presente no dia a dia. Deve ser salientada a relevância da prevenção da obesidade, da consciencialização da população e da necessidade de um tratamento adequado.
Recentemente, surgiram novos fármacos para o tratamento da obesidade, com aprovação pelas entidades reguladoras. Os ensaios clínicos e estudos de vida real demonstraram uma elevada eficácia, bem como uma grande segurança. É essencial a criteriosa seleção das pessoas com obesidade, com indicação para realizar terapêutica farmacológica. No entanto, para que estas armas terapêuticas possam ser utilizadas com sucesso, o acesso aos medicamentos deve ser facilitado, seja em termos de custos como de disponibilidade.
Presentemente, estamos a viver uma época em que a obesidade é cada vez mais vista como um problema de saúde pública, existindo um maior foco na sua prevenção. Contudo, as previsões continuam a não ser animadoras, o que sugere que a capacidade de resposta na abordagem desta doença está longe de ser a ideal.
Assim, o combate a esta doença deve ser uma prioridade das políticas de saúde, contribuindo para diminuir o risco de aparecimento de outras doenças e melhorar a qualidade de vida das pessoas com obesidade.
Um artigo de Daniel Macedo, do Serviço de Endocrinologia - Hospital da Luz Lisboa.
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