Para a maioria das pessoas, os problemas do intestino são recorrentes e até considerados normais, apesar de afetarem o seu dia a dia e o seu bem-estar. É normal não ir à casa de banho todos os dias, sentir a barriga inchada, flatulência sempre que come um determinado alimento, ter refluxo. Bárbara Marrucho, mestre em Ciências Farmacêuticas e fundadora da página de Instagram Intestinology, alerta-nos: “não é normal”. O intestino tem um papel fundamental na manutenção da saúde e deve ser uma prioridade cuidá-lo. De acordo com a autora, a boa notícia é que a solução para estes e outros problemas está ao alcance de todos. No livro Plano para uma barriga feliz (edição Planeta), é-nos apresentada uma agenda para 28 dias, dividida em quatro fases. Bárbara Marricho propõe-se ajudar-nos a recuperarmos a saúde intestinal, alterando hábitos alimentares e o estilo de vida.

De uma fase de preparação, com a redução de vícios, como o açúcar, há que passar à limpeza, com a subtração dos alimentos inflamatórios substituindo-os por outros ricos em nutrientes. Numa terceira fase, introduzem-se bactérias benéficas, através, por exemplo, dos alimentos fermentados. Por fim, a proposta da autora é a reintroduzir nas refeições de alguns dos alimentos retirados no início do plano, testando a tolerância do organismo.

Bárbara Marrucho
Bárbara Marrucho créditos: Planeta

Inchaço abdominal e flatulência

O inchaço abdominal e a flatulência são dos sintomas gastrointestinais mais frequentes, causando bastante desconforto a quem os tem e afetando severamente a sua qualidade de vida e autoestima. Quem nunca desapertou o botão das calças ao final do dia ou vestiu uma blusa mais larga para que não se note o inchaço? Apesar de o inchaço estar associado a diversas causas e poder ser inchaço sólido, que está mais relacionado com a obstipação, inchaço líquido, associado à retenção de líquidos, ou inchaço gasoso, associado à flatulência, vamos focar-nos agora neste último.

O inchaço gasoso, mais conhecido por gravidez de seis meses, é a sensação de pressão nos intestinos que, geralmente, está acompanhada de gases e flatulência. As causas para esta situação são bastante difíceis de entender. Sabemos que pode estar relacionado com a fermentação de hidratos de carbono, por parte das bactérias, e com a resultante produção de gás. Além disso, comer muito rápido, stress, intolerâncias alimentares e desequilíbrios hormonais também poderão ser algumas das causas para estes sintomas.

Todos nós inchamos e temos mais flatulência de vez em quando, especialmente depois de uma bela feijoada ou de um prato de castanhas. Isto é normal, e significa que a MI está a fazer o seu trabalho a digerir a fibra contida nestes alimentos. Deixa de ser normal quando o inchaço é uma constante no seu dia a dia. Nesse caso, deve ser sinal de preocupação e deve utilizar estratégias e dicas para a sua melhoria. Caso não apresente melhoras com mudanças alimentares e de estilo de vida, recomendo sempre ir ao médico para avaliar a situação.

O caso da Eunice

A Eunice fez um plano de recuperação comigo porque reagia a imensos alimentos e estava cansada de viver com restrição alimentar. Ela chegou a referir que, quando estava mais calor, inchava imenso, porque a fermentação ocorre mais rapidamente com o calor, e disse até que bastava mudar a marca da água que estava a ingerir para lhe causar sintomas. No caso dela, a sensibilidade à fibra era máxima e ela não conseguia tolerar absolutamente nenhuma leguminosa e abolia os produtos integrais.

O inchaço aparece sempre a seguir às refeições. É normal?

Quando os sintomas de inchaço e flatulência aparecem de forma imediata, apesar de os sintomas aparecerem no intestino, o problema poderá estar no estômago. Se for esse o caso, terá de avaliar como está a ser feita a sua digestão no estômago. Assim, poderá avaliar os seguintes pontos:

- Se a mastigação está a ser feita como deve ser;

- Se o ácido e as enzimas digestivas estão a ter uma produção adequada;

- Se está a comer sob stress;

- Se os alimentos que está a consumir podem afetar a sua digestão.

Nessa altura, eu disse-lhe que tínhamos de fazer uma limpeza inicial para dar tempo para o seu corpo desinflamar e recuperar, e depois disso iríamos reintroduzir os alimentos com muita calma ao ritmo dela. Não foi um processo rápido, até porque o seu caso não era fácil de resolver do dia para a noite, mas ela esforçou-se imenso por cumprir as minhas indicações e, ao longo das semanas e meses, ia-me enviando mensagens dizendo que já tinha conseguido introduzir arroz integral sem ficar inchada ou que tinha introduzido leguminosas e que, pela primeira vez, tinha muito pouco inchaço. Algumas experiências não corriam tão bem, mas ela foi continuando a insistir e sempre a melhorar.

O mais importante é que ela começava a conhecer o seu corpo, a conhecer as estratégias mais eficazes para recuperar e a recuperar cada vez mais depressa, já que esse também era um problema grande que ela tinha. Quando comia algo que não lhe fazia bem, demorava semanas a voltar ao estado normal. A sua qualidade de vida tinha aumentado exponencialmente e fiquei muito feliz por ela.

Soluções SOS para quando está muito inchado:

- Chá de hortelã-pimenta ou de funcho;

- Exercício físico, com preferência para o treino cardiovascular;

- Tomar enzimas digestivas, caso o inchaço esteja associado a refeições pesadas ou digestões lentas. Tome as cápsulas 15 minutos antes da refeição (se prevê que a refeição lhe vai causar inchaço) ou depois da refeição (caso não tenha previsto). Para encontrar enzimas digestivas, pode procurar um suplemento com esse nome ou pode procurar por pancreatina ou bromelaína;

- Experimente algumas poses de ioga;

- Experimente umas cápsulas para absorção do gás, como simeticone ou carvão ativado. Pode encontrar na farmácia;

- Tome um banho quente ou coloque um saco de água quente no fundo da zona abdominal, já que o calor promove o alívio do inchaço;

- Faça uma massagem intestinal: coloque o punho da sua mão acima da anca direita e faça um movimento ascendente, até à parte inferior direita das costelas, criando alguma pressão e fazendo pequenos movimentos circulares.­ Faça os mesmos movimentos, lateralmente, em direção à parte inferior esquerda das costelas. Faça os mesmos movimentos descendentes, de forma lenta, até ao cimo da anca esquerda. ­Repita os movimentos durante cinco minutos. Pode colocar óleo de coco ou azeite morno para ajudar ao movimento. Como o calor ajuda, pode fazer esta prática no banho;

- Fale primeiro com o seu médico se estiver grávida, se tiver doença inflamatória intestinal, cancro do cólon, hérnias ou problemas anatómicos ou se tiver feito alguma cirurgia abdominal.

Como reduzir o inchaço?

- Faça refeições mais pequenas;

- Consuma gorduras saudáveis em quantidades moderadas;

- Coma mais devagar e mastigue bem os alimentos;

- Reduza temporariamente os alimentos ricos em FODMAPs;

- Pratique exercícios de respiração antes de iniciar uma refeição;

- Evite bebidas refrigerantes;

- Evite usar roupas justas;

- Evite mascar pastilha;

- Não esteja sempre sentado;

- Hidrate-se adequadamente;

- Prefira legumes cozinhados em vez de crus;

- Evite alimentos processados e alimentos diet com adoçantes artificiais;

- Pratique movimento diariamente;

- Beba água morna com gotas de limão todas as manhãs;

- Descubra as suas intolerâncias alimentares (ex.: laticínios, glúten);

- Mastigue sementes de funcho às refeições;

- Beba chá de hortelã, camomila ou funcho durante o dia;

- Consuma ananás e papaia frequentemente (têm enzimas digestivas naturais).