Tradicionalmente, as pessoas tinham uma alimentação para responder às necessidades, comiam o que tinham disponível e as mulheres consentiam naturalmente que o ponteiro da balança marcasse uns quilos a mais.

«A acção conjunta dos médicos e dos meios de comunicação foi responsável pela modificação da imagem do corpo», afirma a Dr.ª Lyne Mongeau, doutorada em Saúde Pública pela Universidade de Montreal. As pessoas começaram a fazer uma ligação directa entre o que comiam e o seu corpo, cujo padrão genético é incontornável. Por isso, em certos casos verifica-se hoje uma luta constante entre os comportamentos alimentares e as necessidades fisiológicas do indivíduo.

Um pedaço de frango, por exemplo, torna-se num inimigo a quem é preciso tirar a pele e pô-lo em cima da grelha, para lhe derreter as gorduras (poucas). É um objecto de rejeição. Em suma, as pessoas começam a querer perder peso e a achar que é melhor não ter fome nem comer muito.

A «dieta milagre»

Funciona um pouco assim: por vezes pensa-se que podemos perder aqueles pneus inestéticos que estão a mais na barriga, recorrendo a uma dieta miraculosa que restitui, em pouco tempo, uma silhueta elegante. Restringe-se a alimentação, na esperança do emagrecimento. O pior é que tal prática acarreta consequências muito desagradáveis para o corpo.

A corrente de pensamento defendida por Lyne Mongeau aponta no sentido da compreensão dos riscos inerentes a uma dieta restritiva. A contribuição desta especialista foi a de trabalhar de uma maneira muito detalhada e precisa junto dos nutricionistas, a fim de modificar as abordagens. Além de artigos publicados, esta cientista promoveu sessões de formação vocacionadas para aqueles profissionais da medicina.

As «dietas milagre» só dão resultado a curto prazo. «A pessoa está contente porque perde peso, no entanto, as consequências no metabolismo são evidentes e a pessoa vai engordar outra vez», garante.

Os efeitos nefastos entendem-se também ao aspecto psicológico e ao comportamento alimentar. Começam a surgir as fobias em relação a determinadas comidas, elaboram-se listas de alimentos proibidos e alimentos permitidos. Em nome da linha, gera-se uma obsessão quoti-diana, com a qual se vive dia após dia. A ausência, por exemplo, dos hidratos de carbono nas refeições é uma opção extremamente penalizante, porque se verificam perdas de água, massa muscular e não só.

Lyne Mongeau assemelha este mecanismo ao jejum: «O cérebro carece de um mínimo de glucose para funcionar. Quando se afastam os hidratos de carbono, o cérebro perde o seu “carburante”.» Daí até à afecção dos músculos dos órgãos vitais é um passo, que pode inclusive revelar-se letal.

Nos anos 70 registaram-se seis dezenas de óbitos nos EUA devido a uma dieta só à base de proteínas, que enfraqueceu seriamente o principal músculo das nossas vidas: o coração, o primeiro órgão a sofrer as consequências.

Além disso, quando a pessoa engorda outra vez, não há uma reposição de músculo, mas de gordura, o que torna tudo ainda mais difícil. «Ora, a função do músculo no corpo é a de queimar as calorias. O primeiro ponto nestas ideias é dar a conhecer os efeitos do emagrecimento rápido. É preciso reconciliar a pessoa com o seu próprio corpo», avisa a especialista. Aceitar viver com as formas genéticas que não podem ser removidas e respeitar os sinais corporais: a fome e a saciedade.

Se o corpo requer energia para fazer frente às necessidades quotidianas e não é dada uma resposta adequada, nomeadamente através de uma alimentação correcta, são utilizadas as reservas de gordura de uma forma muito económica. Esse processo implica um descontrolo em termos alimentares, pois a pessoa come tudo o que lhe vem ao prato. E Lyne Mongeau acrescenta que «prestar atenção aos sinais do corpo é uma ideia antiga, mas que se perdeu por imperativos da modernidade, que se traduzem numa desorganização dos hábitos alimentares».

«Escolher emagrecer»

O problema da obesidade tem vindo a ganhar um peso significativo nas sociedades contemporâneas. A principal razão que leva ao aumento da obesidade nas populações assenta na diminuição da actividade física e no sedentarismo. Por exemplo, em Praga (República Checa) foi estabelecida uma relação entre o excesso de peso e a subida do número de automóveis.

«As pessoas deixaram de andar a pé. A ideia é levá-las a praticar actividade física, não para emagrecerem, porque não é um meio para emagrecer, mas antes para manterem um bom estado de saúde generalizado», defende a nossa interlocutora.

O projecto «Escolher emagrecer», levado a cabo no Canadá por Lyne Mongeau, é um programa de grupo, para mulheres adultas de idades compreendidas entre os 20 e os 60 anos, com a duração de 45 horas, durante 14 semanas. O estilo intensivo e a sua divulgação vai no sentido de alertar as mulheres que estão obcecadas pelo corpo, mas que também estão fartas de saltar de uma dieta para outra.

São mulheres que tentaram várias dietas e que começam por descobrir, no percurso sinuoso a que se sujeitaram, que algo não está a funcionar como devia. O que as leva a pensar que não é apenas um problema de comportamento pessoal.

Nas sessões de grupo, cada mulher conta a sua história, num espírito de partilha das experiências individuais. Os animadores do programa contribuem com o conhecimento técnico sobre nutrição, atendendo a questões acerca do funcionamento do metabolismo, os comportamentos alimentares obsessivos, por que razões as dietas não proporcionam os resultados desejados.

Além das reuniões em conjunto, cada pessoa tem de efectuar uma série de actividades: ler artigos de revistas especializadas, ver filmes, cumprir um diário alimentar, tomar consciência em relação aos sinais de fome e saciedade do corpo e reflectir sobre as causas dos fracassos das dietas.

Investir na saúde

No final de todas estas etapas, a mulher vai tomar uma decisão. «Vou tentar emagrecer mais uma vez?» Perfilam-se várias alternativas. Uma delas será o investimento na saúde sem uma preocupação exagerada com o peso corporal. Mas investir de que maneira? Em primeiro lugar, uma modificação nos hábitos alimentares. O que não significa proibição no consumo de determinados alimentos, como batatas fritas ou gelados.

Todos os alimentos são permitidos. A partir do momento em que a pessoa não se sente privada, percebe que pode comer de tudo naturalmente em quantidades moderadas. Eis a receita para melhorar a auto-estima e a autocon-fiança.

Em simultâneo, é possível optar por uma actividade física, encarando esse facto não como um processo de emagrecimento, mas como uma prática saudável.
Por outro lado, há quem fique ciente de que o seu metabolismo já se encontra desorganizado e de que o emagrecimento não é possível. Assim, os esforços são canalizados para a manutenção do peso. Mas é sobretudo indispensável apagar de vez as obsessões. Texto de: David Carvalho | Revista ExKlusiva