Chama-se Alli, é uma versão light do Xenical (o famoso fármaco, sujeito a receita médica, indicado para tratar a obesidade), já conquistou milhões de americanos e já ocupa as prateleiras dos medicamentos de venda livre das farmácias portuguesas.

Este fármaco, que impede que o organismo absorva cerca de 25 por cento da gordura ingerida e promove uma perda de peso na ordem dos «cinco a dez por cento», está indicado para maiores de 18 anos com um índice de massa corporal 28 ou superior.

O efeito deve-se ao seu princípio activo (orlistato 60 mg) que actua apenas a nível intestinal, não interferindo, portanto, ao nível do sistema nervoso central, o que significa que, por exemplo, não diminui o apetite. Os primeiros resultados, pode ler-se no site www.myalli.com, são notados após duas semanas, sendo que «a maior perda de peso normalmente ocorre nos primeiros seis meses».

Xenical, o precursor

Xenical, o precursor

Segundo Manuela Rebelo Carvalheiro, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), «a substância química do Alli é o orlistato, já antes comercializado sob o nome Xenical, um medicamento aprovado há vários anos para a terapêutica da obesidade que permite que a absorção das gorduras fique reduzida a 30 por cento e o restante seja eliminado pelas fezes.

Nos Estados Unidos foi lançado um movimento para que se tornasse um medicamento de venda livre, mas segundo as normas da Food and Drug Administration, para tal cada comprimido teria de conter metade da dose
do Xenical. A Agência Europeia de Avaliação de Medicamentos (EMEA) também deu o seu aval de forma semelhante. Portanto, este produto não é mais do que a mesma substância química do Xenical mas em metade da dose por comprimido».

Metade da dose,
menor eficácia?

Metade da dose,
menor eficácia?

A adopção de uma alimentação baixa em calorias e cuja quantidade de gordura por refeição não exceda os 15 gramas, a prática de exercício físico regular e a toma diária de um suplemento vitamínico são condições essenciais para o sucesso da acção deste fármaco.

Segundo o laboratório GlaxoSmithKline, «os ensaios clínicos demonstraram que o Alli, associado a uma dieta baixa em calorias e com menos gordura, pode ajudar a perder mais 50 por cento de peso do que se estivesse só a fazer dieta». Manuela Rebelo Carvalheiro, contudo, sublinha que «as pessoas devem ter a noção que qualquer medicamento que exista na farmácia sob a forma de venda livre tem uma eficácia muito reduzida, assim como que pode haver situações do foro gastrentrológico em que não deve ser usado e, portanto, deveria requerer controlo médico».

Efeitos secundários

Efeitos secundários

As complicações do orlistato na dose tradicional (120 mg) estão associadas, conta a especialista, a uma alimentação excessivamente rica em gordura que resulta em diarreias «difíceis de controlar. Este medicamento pode ser um fármaco educador pois o facto de o utente ter fezes gordas significa que está a ingerir demasiadas gorduras e que deve corrigir essa ingestão».

Também na sua versão reduzida (60 mg), a combinação com refeições com demasiada gordura (a quebra da regra do valor máximo de 15 gramas por refeição) traduz-se em alterações intestinais, como diarreia ou flatulência acompanhada por secreções gordas involuntárias.

Veja na página seguinte: Os riscos do Alli

Na opinião da presidente da SPEDM, «este medicamento pode ser visto de uma forma positiva se permitir educar as pessoas para uma ingestão mais baixa de gorduras», refere.

«Não devem, contudo, pensar que com ele podem cometer exageros e depois usá-lo para uma depuração», alerta ainda.

Os riscos

Os riscos

De acordo com a GlaxoSmithKline, «o perfil de segurança e eficácia do orlistato está bem documentado e foi estabelecido em dados de mais de 100 estudos clínicos». Manuela Rebelo Carvalheiro refere que «o medicamento tem uma segurança bastante razoável».

«Temos a experiência do Xenical que tem o dobro da dose e cujos problemas estão relacionados com diarreias, gases, mal-estar gástrico, intestinal, flatulência. Se as pessoas verificarem que os sintomas permanecem apesar de reduzirem a ingestão de gorduras devem consultar o médico», sublinha.

A toma deve ainda ser suspensa caso se sintam dores abdominais intensas ou continuadas. O grande desafio de qualquer processo de emagrecimento está na manutenção do peso perdido.

Neste ponto, o site oficial revela
que quando se deixa de tomar este fármaco deve-se continuar a seguir a dieta e a praticar. No entanto, pode acontecer que a pessoa volte a engordar, pelo que, nesse caso, recomenda o site, «para manter a perda de peso, pode ter de continuar a tomar o Alli combinado com uma dieta hipocalórica».

Posso tomar
o Alli?

Posso tomar
o Alli?

Não pode tomar este fármaco quem...

  • Não tem excesso de peso

  • Tiver sido transplantado

  • É alérgico a um ou mais ingredientes da sua composição

  • Toma ciclosporina

  • Sofre de problemas de absorção alimentar, como o síndrome do cólon irritável

  • Está grávida ou a amamentar

    Deve consultar
    o médico antes
    de tomar quem...

    Deve consultar
    o médico antes
    de tomar quem...

    • Tem problemas de bexiga, pedras nos rins ou pancreatite
    • Toma outros fármacos para a perda de peso
    • É medicado para
      a diabetes, tiróide ou tome
      anticoagulantes

      Veja na página seguinte: Suplementos versus
      Alli

      Suplementos versus
      Alli

      Suplementos versus
      Alli

      Questionada pelo «Diário de Notícias» sobre a hipótese do abuso deste novo fármaco por quem não deve de emagrecer,
      Isabel do Carmo, endocrinologista,
      declarou que o Alli é «mais seguro» do que suplementos
      de venda livre que «prejudicam
      a saúde porque contêm
      diuréticos, laxantes e estimulantes».

      Hoje existem, explica
      Manuela Rebelo Carvalheiro, «produtos que surgem como milagrosos, alguns têm diuréticos,
      laxantes e a sua composição
      é muitas vezes desconhecida.
      Neste caso, sabemos qual é a composição.

      Agora, é preciso ter presente que se não há resultados óptimos com os medicamentos com receita
      médica, obviamente que os de venda livre serão sempre meramente um apoio, às vezes psicológico: a pessoa acaba por sentir-se entusiasmada no cumprimento das regras
      alimentares».

      Texto: Nazaré Tocha com Manuela Rebelo Carvalheiro (endocrinologista)