O chamado ritmo circadiano ou ciclo circadiano (do latim “circa diem”, cerca de um dia), que consiste no ciclo biológico diário de todos os seres vivos, oscila entre descanso e atividade ligados ao período diurno e noturno e está presente em todos os seres vivos, e nos humanos, durando cerca de 24 horas e 18 minutos.

Um ritmo circadiano anormal está relacionado com o desenvolvimento de diversas doenças, como a obesidade, a diabetes e o cancro. Assim sendo, um ritmo circadiano normal está associado a uma melhor qualidade de saúde e portanto, uma melhor qualidade de vida.

A novidade recentemente revelada por um estudo da Universidade de Osaka, no Japão, coloca então a dieta alimentar entre os fatores que podem influenciar o relógio biológico central dos organismos, mais concretamente relacionada com a insulina (uma hormona expelida pelo pâncreas para controlar no sangue o nível de glicose, que aumenta especialmente aquando a ingestão de alimentos ricos em hidratos de carbono), que poderá no fundo ajudar a que o funcionamento do aparelho digestivo se sincronize com o horário da refeição, uma vez que o organismo interpreta a insulina lançada no sangue como um alerta para manter-se “acordado”. No entanto, Makoto realça a necessidade de mais estudos e testes clínicos para que se saiba mais a respeito da relação entre insulina e relógio biológico.

Relógio biológico e Maternidade

O desejo de ter filhos é transversal a homens e mulheres, embora o “alarme” possa soar em momentos diferentes, podendo este ser comparado ao “instinto de reprodução”, comum a todos os animais.

De facto, este termo, que inicialmente definimos por ciclos biológicos como o do sono, pode também adquirir este significado relacionado com o desejo de se ter um filho, já desde a década de 70, quando se começou a falar do dilema feminino: filhos ou carreira. Atualmente esta questão persiste e, em parte, a maternidade tardia é cada vez mais frequente.

O atual estilo de vida, o stress, e a correria do dia a dia aliada ao sedentarismo podem ocasionar uma alimentação inadequada e isso, fatalmente, atinge e reflete-se nos potenciais reprodutivos dos casais, podendo mesmo culminar na infertilidade.

Em ambos os géneros, a dieta alimentar afirma um grande potencial influenciador tanto das funções ovulatórias, no caso das senhoras, como no processo de espermatogénese no homem.

Diferentes estudos afirmam que o baixo peso e as condições de excesso de peso ou obesidade em mulheres estão associados a um aumento da infertilidade ou a desfechos gestacionais indesejados. Os efeitos negativos do peso sobre as funções reprodutivas masculinas são menos evidentes e menos explorados, sendo que as pesquisas disponíveis nessa área descrevem um estreito relacionamento entre a obesidade e a infertilidade masculina.

Esses extremos podem ocasionar alterações no funcionamento do sistema reprodutor e interferir negativamente na saúde reprodutiva do ser humano. Distúrbios hormonais, nutricionais, resistência à insulina, dificuldade ou ausência de ovulação e alteração da quantidade ou qualidade dos espermatozoides

Défices nutricionais e o ciclo reprodutivo

As deficiências ou carências nutricionais são definidas como situações em que ocorre a ausência de consumo, ou o consumo em quantidades insuficientes, de um ou mais nutrientes, consequentemente prejudicando funções do corpo dependentes destes nutrientes. Surgem em decorrência de uma alimentação inadequada a curto, médio ou longo prazo. Essas carências encontram-se intimamente relacionadas com a qualidade da alimentação e a frequência com que determinados alimentos são inseridos na rotina alimentar do indivíduo.

Abaixo são apresentados os efeitos de minerais e vitaminas no aparelho reprodutor masculino e feminino, assim como principais fontes alimentares dos mesmos:

Licopeno - Antioxidante muito estudado porque atua na regulação hormonal da atividade ovárica o que pode colaborar na regulação do ciclo ovulatório.

Alimentos: tomate, caqui, pitanga, morango, melancia, goiaba vermelha.

Ômega 3 e 6 – Ação anti-inflamatória e proteção  do aparelho reprodutor feminino.

Alimentos: azeite, oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas, semente de abóbora, macadâmia, etc), linhaça; peixes (salmão, atum, sardinhas, anchovas).

Vitamina E – Melhora as funções do endométrio e do útero, aumentando a vascularização da região. Para o homem esta vitamina melhora a qualidade dos espermatozoides.

Alimentos: oleaginosas, grãos integrais, óleos vegetais, grão de soja, couve, agrião, azeitonas, leite enriquecido.

Ferro – Importante para a formação dos glóbulos vermelhos. Aquando a diminuição dos seus níveis, há o prejuízo da circulação sanguínea, e consequentemente do processo de ovulação, podendo estar relacionado ao mau desenvolvimento do feto aquando da gestação

Alimentos: carne, vegetais verdes escuros, leguminosas. 

Zinco – Mineral importante para o casal, pois é fundamental na produção quer dos espermatozoides (uma vez que a sua deficiência pode estar associada com a diminuição dos níveis de testosterona e da quantidade de espermatozoides), quer dos gâmetas e hormonas femininas.

Alimentos: nozes, carne bovina, gérmen de trigo, ostras, feijão.

Assim sendo, para o sucesso da fertilidade do casal é importante que, caso existam desvios a nível de peso corporal, sejam realizados os devidos ajustes através da aquisição de uma dieta equilibrada, distribuída ao longo do dia e que contenha alimentos de todos os grupos, com a maior variedade possível. Desta forma será feita a correção de eventuais desequilíbrios hormonais e carências nutricionais que possam existir, com impacto positivo na fertilidade.

Tatiana Cunha,

Nutricionista estagiária Holmes Place Arrábida, Porto