O que é esta alergia? É frequente?
É uma reação exagerada do sistema imunológico contra as proteínas do leite de vaca, podendo ocorrer pela ingestão, contacto ou inalação do leite. Existe uma sensibilização por contacto prévio (na maioria das vezes o primeiro biberão na maternidade!) e quando ocorre uma nova exposição o sistema imunológico reconhece o leite como algo estranho, desencadeando a alergia a cada novo encontro...
Em Portugal, a alergia às proteínas do leite de vaca é a principal causa de alergia alimentar e de anafilaxia na criança.
Como se manifesta a alergia ao leite?
Na maioria dos casos as reações são imediatas e ocorrem entre poucos minutos a 2 horas após o contacto. Pode apresentar-se desde manchas ou pápulas vermelhas na pele com comichão (urticária), inchaço, comichão na boca, vómitos, diarreia, cólica abdominal, até à anafilaxia sendo esta a reação alérgica mais grave.
Mas também podem ocorrer reações mais tardias, com início várias horas ou dias após a ingestão do leite. Nestes casos, os sintomas digestivos são os mais frequentes, como os vómitos, a diarreia e/ou o sangue nas fezes.
Que devo fazer perante a suspeita de alergia? Como é feito o diagnóstico?
A criança deve ser observada por um médico especialista em doenças alérgicas. O diagnóstico exige uma história clínica detalhada complementada, quando indicado, por exames tais como testes cutâneos e análises específicas. Os resultados têm que ser sempre relacionados com a história clínica e, em casos de dúvida, só a prova de provocação oral poderá confirmar a alergia alimentar. A prova com o alimento deve ser sempre realizada em meio hospitalar e por equipas especializadas e experientes nestes procedimentos.
Qual o tratamento?
O tratamento consiste em cumprir uma dieta sem leite de vaca. Ensinar a ler os rótulos de ingredientes, a estar atento a alergénios ocultos e ao risco de contaminações. O leite está presente em muitos alimentos como sumos de fruta, pastilhas, pastas de dentes, entre muitos outros. É verdade, até pode estar presente em medicamentos e em cremes hidratantes.
Um plano de tratamento escrito deve ser entregue indicando como agir rapidamente nas reações alérgicas que decorrem da ingestão acidental. As crianças com história de anafilaxia devem ter a “caneta” para autoadministração de adrenalina, e é fundamental o ensino de quando e como a usar.
Quais são as alternativas ao leite de vaca, qual o leite indicado?
Os leites de substituição mais seguros são as fórmulas extensamente hidrolisadas. A hidrólise intensa consegue transformar as proteínas do leite em pequenos péptidos que assim não causam alergia. No entanto, em casos raros, pode haver mesmo alergia a estes leites especiais, podendo estar indicadas fórmulas compostas exclusivamente por aminoácidos, de custo extremamente elevado.
O leite de soja é uma alternativa segura? E outros leites de origem vegetal?
O leite de soja pode ser uma alternativa nutricionalmente equilibrada, de sabor agradável e mais económico. No entanto, existem restrições no seu uso, não estando indicado para crianças menores de 6 meses ou como primeira opção em casos de alergia grave ao leite, devido ao risco de desenvolver alergia concomitante à soja.
Outros leites de origem vegetal, como o leite de arroz ou outras bebidas vegetais, poderão ser indicados em situações particulares.
O meu filho tem alergia ao leite, posso dar leite de cabra ou de ovelha? E a carne de vaca?
Não, a maioria das crianças irão reagir com o leite de outros mamíferos, pois as proteínas são muito semelhantes às proteínas do leite de vaca e o risco de reatividade cruzada entre essas proteínas é muito elevado.
Já o risco de reatividade cruzada da proteína do leite com as proteínas da carne de vaca é muito baixo, sobretudo se a carne estiver bem passada. A carne de vaca só deverá ser retirada da dieta se for confirmado que a criança apresenta reação após a sua ingestão.
Estou grávida e um filho meu tem alergia ao leite… O que devo fazer?
Na maternidade deve ser evitado alimentar os lactentes com fórmulas lácteas, promovendo o aleitamento materno. A exposição precoce às proteínas do leite é uma das principais causas de alergia quando o mesmo é reintroduzido como suplemento, semanas ou meses mais tarde. Quando não é possível o aleitamento materno exclusivo, deve ser recomendada uma fórmula hidrolisada.
E durante a gravidez, foi comprovado que a evicção de alimentos que possuem as proteínas do leite não previne a alergia na criança. Ao iniciar a amamentação também não é preciso fazer dieta, exceto se a criança começar a apresentar sintomas suspeitos de alergia. Nesse caso é muito importante comunicar de imediato com o médico assistente.
A alergia ao leite pode desaparecer?
Esta alergia tende a ser transitória e a resolver na maioria dos casos até à idade escolar. É preciso seguir o tratamento corretamente, pois a ingestão inadvertida de alimentos com leite pode atrasar o desenvolvimento da tolerância.
Nas formas mais persistentes e graves, o risco de ocorrerem reacções acidentais graves e potencialmente fatais é grande, nomeadamente a partir da idade escolar e em especial na adolescência. Nestes casos poderá haver a indicação para a indução de tolerância oral ao leite. É uma abordagem terapêutica que deve ser criteriosamente utilizada, sempre com a supervisão de imunoalergologistas em centros diferenciados, de forma a garantir a segurança e o sucesso do procedimento.
As explicações são da médica Graça Sampaio, imunoalergologista no Centro de Alergia do Hospital CUF Descobertas, Clínica CUF Alvalade, Hospital CUF Cascais e Hospital CUF Santarém.
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