Ainda que as causas de doenças degenerativas, como a de Alzheimer, não sejam totalmente conhecidas, a ciência já demonstrou que fatores como a alimentação podem ser decisivos para o seu aparecimento. Fruto de uma investigação realizada nos Estados Unidos da América nasceu um novo plano alimentar que permitiu reduzir até 53 por cento o risco de doença de Alzheimer. A dieta MIND, siglas de Mediterranean-DASH Intervention for Neurodegenerative Delay, como foi designada, é um programa alimentar desenvolvido com base nos alimentos e nutrientes que a ciência tem vindo a provar terem efeitos (positivos e negativos) na função cerebral.
Este novo regime proposto por especialistas mistura conceitos da dieta mediterrânea e da dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), desenvolvida pelo governo norte-americano para baixar a pressão arterial e com foco na redução da ingestão de sal. Segundo um estudo publicado na revista científica Alzheimer's & Dementia, a nova dieta é tão eficaz que mesmo quem não segue o plano à risca baixa em cerca de 35 por cento o risco de vir a sofrer da doença.
O estudo que sustenta a nova dieta
Ao longo de nove anos, uma equipa de investigação da Rush University Medical Center acompanhou 923 adultos através de questionários alimentares e testes neurológicos. Os voluntários que mais respeitaram os princípios da dieta MIND registaram níveis de função cognitiva equivalente a pessoas cerca de 7,5 anos mais jovens. Mas tão impressionante como este resultado é, segundo Martha Clare Morris, professora de epidemiologia e membro da equipa de investigação, o facto de mesmo quem seguiu a dieta de forma moderada ter reduzido o risco de doença de Alzheimer.
«Nem a dieta mediterrânica nem a DASH conferem resultados tão positivos quando a adesão é moderada», afirmou em entrevista ao Science Daily, acrescentando que já os fatores genéticos parecem representar apenas uma pequena responsabilidade no aparecimento tardio do Alzheimer. «O que comemos pode ter um papel bem mais relevante na determinação de quem virá ou não a sofrer da doença», refere.
Combinação de vantagens
No passado recente, tanto a dieta mediterrânica como a DASH revelaram importantes benefícios em termos neurocerebrais como no que toca à proteção cardiovascular. Na sua essência a dieta DASH,centra-se no combate à hipertensão e colesterol elevado, ajudando a emagrecer. A filosofia da dieta mediterrânica aposta na luta contra a obesidade e protege a saúde cardiovascular, controla o colesterol e ajuda a prevenir a doença de Alzheimer e cancro. Basicamente, são dietas que privilegiam a utilização de alimentos integrais, ricas em gorduras saudáveis e especiarias, e incentivam a ingestão de vegetais e fruta.
Mas a dieta MIND vai mais longe ao combinar as vantagens desses planos alimentares, enfatizando as suas particularidades, especialmente no que toca à prevenção de demência graças à maior ingestão de fruta e tendo em conta 15 elementos. A lista inclui 10 grupos alimentares saudáveis para a função cerebral e cinco a evitar.
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A opinião de uma especialista portuguesa
«A dieta MIND foi pensada no sentido de incluir os alimentos certos e nas quantidades que se sabem ser mais protetoras para a saúde cerebrovascular e cognitiva. As grandes inovações da dieta MIND têm reflexos na prevenção da demência e permitem uma melhor função cerebral. A inclusão de bagas vermelhas, por exemplo, permite desacelerar o declínio cognitivo, e a utilização de verduras e de cereais integrais serve de fonte de antioxidantes e inclui vitaminas e sais minerais essenciais para o funcionamento de todas as células do organismo, em particular do cérebro, protegendo-o de vários tipo de danos», refere Belina Nunes, médica especialista em neurologia.
Para quem quer seguir esta dieta, a especialista chama a atenção para a importância de o consumo diário de vinho, de apenas um copo, não ser ultrapassado. «Por vezes diz-se de forma ligeira que o álcool é bom para o coração, no entanto, as doses diárias protetoras são extremamente baixas. O consumo excessivo é totalmente prejudicial em especial para o cérebro, coração, fígado e tubo digestivo», explica ainda a especialista.
O papel dos ómegas
Segundo Belina Nunes, um aspeto importante da dieta MIND é o facto de permitir reequilibrar o consumo de ómega 3 e de ómega 6, dois ácidos gordos essenciais para o organismo e que apenas podem ser obtidos através da alimentação. Segundo o The European Food Information Council, «nos últimos 150 anos, o consumo de ómega 6 [fornecido por alimentos como os óleos de milho, soja e girassol e a carne vermelha] tem vindo a aumentar, enquanto o consumo de ómega 3 [presente em cereais integrais, azeite, salmão, cavala, sardinha, sarda, atum, vegetais, sementes de linhaça e fruta] tem diminuido, verificando-se, paralelamente, um aumento das doenças cardíacas».
Como consequência, «a razão ómega 6/ómega 3 que na dieta ancestral era de um para um ou de dois para um, nas dietas ocidentais com predomínio de fastfood com gorduras monoinsaturadas pode atingir 15 para um e até 25 para um. A dieta MIND pretende reintroduzir esse equilíbrio através do predomínio de consumo de gorduras polinsaturadas (peixe, azeite e frutos secos) e da restrição do consumo de laticínios e de carne vermelha pelo seu conteúdo em gorduras monoinsaturadas que fazem desequilibrar a razão ómega 6/ómega 3», explica Belina Nunes.
Quem deve seguir esta dieta?
«Este plano alimentar foi idealizado com um fim específico. Ainda assim, carece de confirmação científica por parte de outros investigadores e da aplicação em outras amostras e tipologias clínicas. Essa é a forma ideal de estabelecer uma relação causa-efeito entre a dieta MIND e consequentes reduções de incidência da doença de Alzheimer», explica a investigadora Martha Clare Morris, em declarações ao Science Daily. Apesar disso, e mesmo não existindo história da doença de Alzheimer na família, é benéfico adaptar os princípios da dieta MIND à alimentação.
Trata-se de um plano alimentar que privilegia o consumo de alimentos naturais, desenvolvido com base em investigação científica sobre nutrição e a saúde do cérebro, «com benefícios não só para o cérebro, mas também para o coração e a saúde em geral», pode ler-se no site WebMD, onde especialistas aconselham ainda, como complemento à dieta, «beber muita água, praticar exercício físico regularmente e reduzir os níveis de stresse para diminuir ainda mais o risco de Alzheimer».
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Os 10 grupos alimentares da dieta MIND:
- Cereais integrais: Três ou mais porções diárias.
- Vegetais de folha verde: Pelo menos seis porções por semana.
- Bagas vermelhas: Pelo menos duas porções por semana.
- Peixe: Uma porção por semana.
- Aves: Duas porções por semana
- Feijão: Pelo menos três porções por semana.
- Legumes: Três porções por semana.
- Frutos secos: Cinco porções por semana.
- Vinho tinto: Um copo por dia.
- Azeite: Deve ser privilegiado em relação a outra gordura na confeção das refeições
Os grupos de alimentos a evitar
- Carne vermelha: No máximo quatro porções por semana.
- Fritos, queijo e fastfood: Até uma vez por semana.
- Manteiga e margarina: No máximo uma colher (de sopa) por dia.
- Doces: Até cinco vezes por semana.
Os benefícios desta dieta para o organismo
Os benefícios deste regime para o organismo são vários, como explica a especialista. «A dieta com predomínio de carne vermelha e alto teor de gorduras (fritos, doces, manteigas e margarinas) é prejudicial para o coração. Melhorando a nossa saúde cardio e cerebrovascular diminui-se, em muito, o risco de demência quer vascular, quer mesmo da doença de Alzheimer, porque os fatores de risco vascular aumentam o risco de desenvolver esta demência», refere Belina Nunes, médica especialista em neurologia e diretora da Clínica de Memória
O que caracteriza a doença de Alzheimer
A sua prevalência duplica a cada cinco anos depois dos 65, tem origem multifatorial, com os fatores genéticos mais relevantes nos doentes com início precoce (antes dos 65 anos). Caracteriza-se por deterioração mental progressiva manifestada por perda de memória, capacidade de planeamento, confusão, desorientação temporal e espacial. As alterações verificadas devem-se a uma atrofia cerebral, inicialmente dos hipocampos e depois difusa, e progridem de modo irreversível. Em Portugal, o número de portadores desta doença ronda os 130.000.
Texto: Carlos Eugénio Augusto com Belina Nunes (médica especialista em neurologia e diretora da Clínica de Memória)
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