A Direção Geral da Saúde (DGS) está a preparar a vacinação de jovens adultos para combater o “inesperado aumento” de casos de tosse convulsa, encontrando-se neste momento em estudo fatores como o prazo e a eficácia dessa vacinação.

Em 2012 já foram notificados 189 casos de tosse convulsa e registaram-se três mortes, números anormalmente grandes comparativamente com os anos anteriores, mesmo tendo em conta que os picos de incidência da doença são cíclicos e que neste ano era esperado um aumento do número de casos.

Em declarações à Lusa, Ana Leça, diretora dos Serviços de Prevenção da Doença da DGS, especificou que a tosse convulsa tem registado picos de aproximadamente três em três anos, como se verificou em 2005, 2008 e 2012.

“O que aconteceu este ano foi um aumento inesperado do número de casos, não só em Portugal mas à escala global”, explicou, afirmando que o facto de o país estar em pé de igualdade com outros preocupa mais as autoridades, no sentido de perceber o que está na génese da situação.

Se fosse só em Portugal bastava ver o que fazíamos diferente para perceber a origem do problema, acrescentou.

Sendo assim, a única coisa que é certa e comum a todos os países é que a incidência se verifica essencialmente em crianças com idades abaixo dos seis meses – e em que o quadro clínico assume proporções mais graves – altura em que completam a vacinação primária, que confere o mínimo de imunidade.

Em causa não está a falta de vacinação de algumas pessoas, já que a cobertura vacinal em Portugal é de 97%, mas não está afastado o cenário de uma possível alteração da bactéria (Bordetella pertussis).

O atual esquema de vacinação prevê cinco doses administradas aos dois meses de idade, aos quatro meses, aos seis meses, aos 18 meses e aos cinco anos.

No entanto, hoje já se sabe que os adultos perdem a imunidade com o passar do tempo, sendo muito provavelmente os responsáveis pelo contágio de crianças, embora eles próprios não desenvolvam a doença com o quadro típico.

“A última dose é tomada aos 5/6 anos e há uma perda progressiva da imunidade que se vai estendendo. Os adultos podem adquirir a bactéria e adquirir doença, mas não é típica e é difícil de diagnosticar”, pois manifesta-se como uma tosse seca e arrastada de pouca intensidade.

Para os especialistas, esta não é propriamente uma novidade, pois de cada vez que há um pico de incidência, a hipótese de reforço da vacinação na fase adulta é colocada em cima da mesa.

Quando em 2008 foram notificados 73 casos da doença, a DGS estudou a possibilidade de vacinar jovens adultos, da mesma forma que em 2005 tinha sido apontada essa possibilidade.

A questão é que há uns anos “não havia vacina para jovens e adultos e agora já há”, assim como a epidemiologia registada anteriormente não fazia prever que se tivesse efetivamente de ir por esta via, explicou Ana Leça.

“Aqui [na DGS], sempre tivemos atenção sobre a tosse convulsa, é uma questão sempre em cima da mesa e as vacinas estão sempre a ser estudadas. Neste momento já temos com que vacinar e o que pretendemos agora avaliar é em termos de prazo e de sustentabilidade de resultados, e outros fatores”, afirmou.

A responsável alerta ainda para a necessidade de adotar medidas de prevenção de higiene respiratória, como evitar a aproximação exagerada entre bebés pequeninos e adultos ou a sua exposição a grandes aglomerados de pessoas, como os centros comerciais.

27 de novembro de 2012

@Lusa