Num documento que reúne diversas recomendações para que as notícias não tenham um impacto negativo na população e que a transmissão de informação não fomente medo, ansiedade ou preocupação, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) sublinha a importância do equilíbrio, evitando uma cobertura “excessiva, repetitiva e sensacionalista”.
“Por exemplo, as imagens têm impacto e, se têm impacto, é evidente que não se deve apostar em imagens chocantes porque isso não vai ajudar a diminuir o impacto negativo nas pessoas. Para informar não precisamos de chocar”, disse à Lusa o presidente do Conselho de Especialidade - Psicologia Clínica e da Saúde da OPP, Miguel Riçou.
O especialista destaca ainda a necessidade de se manter o equilíbrio, evitando perspetivas dicotómicas: “Não compete aos media falar de bons e maus, de fortes e fracos. Todas as perspetivas em que só há duas dimensões contribuem para a polarização e, sobretudo, o mundo não é a preto e branco, há muitos cinzentos no meio”.
No documento “Dar notícias sobre a guerra”, a OPP lembra que a forma como as notícias são construídas "pode impactar não apenas as vítimas diretas e as pessoas que se encontram no cenário de guerra, mas toda a população”.
O conjunto de recomendações, que pretendem ajudar “a que as notícias estimulem comportamentos pró-sociais e pró-saúde”, os psicólogos destacam igualmente a importância da linguagem, aconselhando a que seja clara, simples, factual e imparcial para “evitar gerar alarmismo, stress e medo”.
A humanização é outra das vertentes sublinhadas pela OPP, que recomenda a dar “rosto e voz a todos os envolvidos na guerra, procurando humanizá-los”.
Focar os danos invisíveis e subtis da violência, a médio e a longo prazo, por exemplo, pobreza e exclusão, migração forçada, desemprego ou problemas de saúde psicológica é outro dos conselhos da Ordem.
Os psicólogos recomendam ainda aos media que “verifiquem cuidadosamente e junto das fontes competentes” informações sobre pessoas mortas, feridas, desaparecidas ou feitas prisioneiras, para garantir “não só a veracidade da informação, mas também tempo para que as famílias possam ser avisadas pelas autoridades competentes”.
Aconselha igualmente a combater o estigma e a discriminação, por exemplo, “verificando se referências culturais, religiosas, de idade ou de orientação sexual são, de facto, relevantes para a notícia em causa”.
Quanto ao uso de imagens e vídeos, apela a que seja verificada a sua autenticidade quando são recolhidos em zona de conflito, a indicar claramente as fontes e a “evitar a exibição e repetição de violência gráfica explícita, nomeadamente em horários nos quais é provável que possam existir crianças a assistir”.
No conjunto de recomendações para a cobertura mediática da guerra, a OPP pede ainda que os media valorizem “uma perspetiva orientada para a resolução não-violenta do conflito e para a construção da paz, tornando relevante aquilo que é comum e objetivos que possam ser partilhados”.
Nesta área, aconselha a incentivar a empatia, compaixão e comportamentos pró-sociais, focando a transmissão de informação sobre os apoios disponíveis, as diferentes formas de contribuir e instruções sobre como proceder em situações de risco.
Destacar depoimentos e iniciativas orientadas para a promoção da sensibilidade à diversidade cultural, por exemplo, “dando voz a protagonistas de ambos os lados do conflito que reclamam por uma solução pacífica” é outras das recomendações.
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