30 de julho de 2013 - 07h22

Toxicodependentes e pessoas viciadas em jogo vão passar a integrar uma rede de referenciação de comportamentos aditivos, já aprovada pelo Governo, em que centros de saúde, hospitais e unidades especializadas trabalharão em conjunto para uma intervenção mais precoce.

A Rede de Referenciação/Articulação no âmbito dos Comportamentos Aditivos e das Dependências “está feita”, carecendo apenas de “algumas afinações”, revelou hoje à agência Lusa o diretor do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).

João Goulão explicou que esta rede é “uma reformulação” do documento aprovado em 2010, ainda na vigência do antigo Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), para referenciação das pessoas com problemas ligados ao álcool, que envolvia os cuidados de saúde primários, unidades de toxicodependências, alcoologia, saúde mental e serviços hospitalares.

“Agora, com a passagem das unidades do IDT para a dependência das Administrações Regionais de Saúde (ARS) houve uma reformulação desse documento”, feita pelo SICAD e as ARS.

O documento, já aprovado pelo secretário de Estado adjunto e da Saúde, Fernando Leal da Costa, “estabelece os níveis de intervenção dos cuidados de saúde primários, das unidades especializadas e ultra especializadas e quais deverão ser os circuitos dos doentes em cada região”, explicou.

“O que se pretende é que a curto prazo haja também a referenciação de pessoas com outro tipo de problemas como o jogo patológico”, avançou.

O documento servirá como “um manual de referenciação perante uma determinada situação e diagnóstico e estabelece a quem compete a responsabilidade de abordar as situações”, explicou João Goulão.

Por outro lado, adiantou, pretende-se que os médicos de família tenham um papel ainda mais relevante, apesar de já serem ”os principais identificadores” das situações.

“O que pretendemos é que sejam dotados de mais conhecimentos nesta área, através de formação específica, e que sejam capazes de constituir verdadeiramente a primeira linha não só encaminhamento mas também na abordagem da terapêutica destas situações de adição”, sustentou.

Para José Rocha Almeida, da Associação Portuguesa de Adictologia, esta rede irá “melhorar o nível de intervenção” juntos destes doentes.

“Durante muitos anos este problema esteve praticamente confinado aos serviços de tratamento do IDT” e os ”médicos de família não entravam muito nestes tratamentos, porque havia serviços próprios”, disse o psiquiatra.

Neste momento, sublinhou José Rocha Almeida, “com a integração os serviços nas ARS, é altura dos cuidados primários e as áreas hospitalares trabalharem em rede para melhor detetar, intervir e referenciar estes utentes”.

Para o psiquiatra, a rede vai permitir que o médico de família possa “detetar estas situações, intervir imediatamente e ao mesmo tempo sentir que pode contar com o apoio de estruturas especializadas e dos hospitais, caso seja necessário internamento”.

Uma intervenção mais precoce possibilitará “um grande avanço no sentido de prevenir comportamentos de risco mais avançados que possam surgir à medida que os consumos se vão intensificando.

Já a intervenção do médico de família poderá permitir um corte neste tipo de dependência e evitar comportamentos de risco que se podem agravar no futuro, acrescentou.

Lusa