Acamados e à espera pelo fim da vida, João e Clementina são dois dos doentes apoiados pela fisioterapia paliativa de Torres Vedras, um apoio escasso no país mas indispensável para minimizar a dor e evitar a hospitalização destes doentes.

O projeto de fisioterapia em cuidados paliativos “Humanizar o fim de vida” da Associação de Solidariedade e Ação Social de Ponte Rol ganhou recentemente o prémio de boas práticas “Diversificar para inovar”, atribuído pela Câmara Municipal de Torres Vedras, que este ano passou a distinguir os melhores projetos do Plano de Desenvolvimento Social do concelho.

João, 89 anos, está acamado há um ano após ter sido vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de cancro e a sua perda de autonomia levaram a família a recorrer ao projeto. Em estado muito debilitado, a intervenção da fisioterapeuta Dina Dias resume-se agora a aliviar a infeção respiratória, mas chegou a integrar alongamentos dos membros inferiores e superiores para impedir o agravamento de problemas de circulação e falta de movimento.

“Ele fica mais aliviado e deveríamos ter mais apoios nesta área, porque sem esta equipa não estávamos tão descansados em tê-lo em casa”, explicou a filha Engrácia.

Clementina, 81 anos, acamada há quatro por AVC é outra dos dez doentes das freguesias de Ponte Rol, Silveira e São Pedro e Santiago abrangidos pelo projeto.

Com vista a melhorar a resposta do apoio domiciliário, o projeto consiste em “Aplicar técnicas de eliminação de secreções para alívio respiratório, manobras respiratórias, drenagens linfáticas dos membros inferiores, mobilizações e alongamentos dos músculos, posicionamentos, massagens para alívio de tensões e ensino da família sobre como sentar o doente”, explicou a fisioterapeuta.

Um apoio considerado indispensável e escasso no país sobretudo para os chamados doentes terminais, a quem os hospitais dão alta médica face ao prognóstico e por falta de camas, enviando-os para casa sem cuidados de saúde, para além da enfermagem.

“Junto dos nossos utentes do apoio domiciliário começámos a perceber que acabavam por falecer não pela sua doença mas por múltiplas infeções respiratórias, renais, linfáticas, cardíacas”, justificou a assistente social e coordenadora do projeto, Susana Neves.

“Estes doentes pediam-nos para morrer em casa, pediam para não sofrer tanto”, sublinhou, acrescentando que foi decidido avançar para uma terapêutica não farmacológica complementar para controlar a dor e problemas como os associados à dor óssea, dispneia ou magreza extrema.

A instituição de solidariedade social está à procura de financiamento para abranger um médico e um enfermeiro e adquirir uma viatura para alargar o projeto a 132 doentes paliativos existentes em todo o concelho de Torres Vedras.

Desde 2006 o projeto chegou a 87 doentes, cuja média de idades é de 78 anos.

17 de outubro de 2011

Fonte: Lusa