HealthNews (HN) – O que são o microbioma e os probióticos?
Maria Inês Antunes (MIA) – A microbiota é a comunidade de microrganismos – que inclui bactérias, fungos e protozoários – que habitam naturalmente no corpo humano, principalmente no intestino, pele e outras mucosas. Estes microrganismos desempenham papéis importantes na digestão, absorção de nutrientes, no sistema imunitário e têm um papel muito importante na prevenção de doenças crónicas.
Os probióticos são microrganismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, oferecem benefícios à saúde, especialmente ao equilíbrio da microbiota intestinal. Geralmente são famílias de bactérias benéficas, como os Lactobacillus e Bifidobacterium, que podem ser encontradas em suplementos e em alimentos fermentados.
HN- Qual a relevância de ambos para a nossa saúde?
MIA – Os probióticos podem ajudar a restaurar ou manter um equilíbrio saudável da microbiota intestinal, auxiliam na digestão, fortalecem o sistema imunitário, previnem infeções intestinais e promovem o equilíbrio emocional, através do eixo intestino-cérebro.
HN – A SPIMP é uma sociedade científica recente. Quais os principais objetivos que conduziram à sua criação?
MIA – A criação da SPIMP foi impulsionada por diversos objetivos que visam promover a pesquisa, o desenvolvimento e a disseminação do conhecimento científico no campo do microbioma e dos probióticos.
HN – Atualmente, quais são as prioridades da Sociedade?
MIA – A SPIMP tem como prioridade educar e informar o público, criar campos de pesquisa, comunicação e discussão científica multidisciplinar, abertos a profissionais de diversos campos que contribuam para o conhecimento sobre microbioma e probióticos.
HN – Hoje, em Portugal, apela-se frequentemente à promoção da saúde e prevenção da doença. Isso implica cuidarmos melhor do nosso microbioma a partir de casa?
MIA – O intestino é o órgão responsável pela seleção do que absorvemos a partir de tudo o que comemos e por isso é dotado de um papel fundamental na saúde e na resposta à doença. É uma barreira que nos protege de bactérias patogénicas, mas contém também as suas próprias bactérias naturais e essenciais, responsáveis pelo funcionamento do metabolismo, equilíbrio do sistema imunitário e resistência a doenças, às quais chamamos de microbiota. São milhares de espécies de bactérias que habitam no nosso intestino, formando uma flora simbiótica que separa e seleciona o que vem de fora daquilo que efetivamente absorvemos. São estas bactérias que gerem o sistema imunitário, através do controlo de determinadas células imunitárias e das vias inflamatórias responsáveis por quase todos os tipos de doenças crónicas; desempenham um papel direto na síntese de vitamina B e K, bem como na absorção de cálcio e ferro; e produzem substâncias qualificadas para degradar o que consumimos em pequenas partículas capazes de nos nutrir.
O desenvolvimento destas bactérias depende de uma série de fatores entre os quais as nossas escolhas alimentares, multiplicando-se e reproduzindo-se ou reduzindo o seu número consoante as estimulamos através daquilo que comemos. Elas utilizam algumas partículas que o nosso organismo não digere nem absorve, fermentando-as para produzir substâncias mediadoras de funções importantes para o nosso organismo, os ácidos gordos de cadeia curta. É cada vez mais evidente que estas substâncias contribuem para a estabilidade da microbiota intestinal, diminuição da inflamação, estabilização do metabolismo e até a perda de peso. Para além disto, a nossa predisposição para determinadas doenças, alergias e intolerâncias alimentares é também, em parte, consequência de uma microbiota desequilibrada.
O eixo cérebro-intestino é uma rede de comunicação constante, ou seja, o intestino consegue comunicar com o cérebro, da mesma forma que o sistema nervoso central consegue comunicar com o intestino. Ambos interferem nas funções um do outro, conectam-se e comunicam o tempo todo. Desta forma, alterações do sistema nervoso podem interferir na movimentação de todo o sistema digestivo e interferir na secreção de enzimas digestivas ou até nas sensibilidades intestinais a alguns alimentos. Por outro lado, as alterações intestinais (disbiose intestinal: alteração da microbiota intestinal) podem interferir na parte neurológica. Para além do eixo intestino-cérebro, que é o mais conhecido, existem outras relações do intestino com muitos outros órgãos, como o sistema cardiovascular, o sistema endócrino (influenciando a tiroide, a fertilidade, por exemplo), doenças reumáticas e até resistência à insulina.
HN- Como podemos preservar o nosso microbioma?
MIA – Apesar de as primeiras bactérias boas dos intestinos se formarem durante o nascimento e a amamentação, somos nós os responsáveis por modelá-la ao longo da vida, através das escolhas alimentares que fazemos. A resposta para muitos dos problemas de saúde está no intestino e a chave para os resolver está naquilo que comemos.
Por isso, a alimentação é fulcral para tornar este órgão num aliado para a vida.
Alguns exemplos de alimentos que são benéficos para o bom funcionamento do intestino são: alimentos com propriedades prebióticas, como a cebola, o alho, o alho francês, os espargos, as alcachofras, o inhame, entre outros; alimentos probióticos como os vegetais fermentados, o kefir, o miso.
Atualmente também estão a ser desenvolvidos produtos alimentares que contêm posbióticos. São produtos resultantes da fermentação de probióticos ou outros substratos alimentares, submetidos ao processo de tindalização para eliminar bactérias vivas, mas preservar os componentes benéficos produzidos durante a fermentação.
Os mais prejudiciais são sem dúvida o açúcar, os adoçantes e as gorduras hidrogenadas.
Entrevista de Rita Antunes
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