Em comunicado, o Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) afirma que o conselho de administração do Hospital Garcia de Orta, em Almada, distrito de Setúbal, "deu mais uma prova de gestão autocrática e antidemocrática, ao demitir, na semana passada, o diretor do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia por delito de opinião".

Por isso, solicita a intervenção do Ministério da Saúde e exige uma lei de gestão democrática, com base na governação clínica e concurso público para os cargos de direção técnica.

O SMZS afirma também que a política do conselho de administração “prejudica o funcionamento do hospital” e põe “em risco a qualidade da medicina praticada, o que impõe o seu imediato afastamento”.

Em comunicado emitido na sexta-feira, o conselho de administração do hospital de Almada afirma que “num ato de gestão interna e na sequência de uma atuação institucionalmente incorreta da exclusiva iniciativa do diretor do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia para com o conselho de administração, que o próprio tornou pública, teve que agir em conformidade, decidindo a cessação da sua comissão de serviço”.

Hoje, o SMZS refere que a “demissão ocorreu após o diretor do serviço de Ginecologia e Obstetrícia ter manifestado o seu desagrado perante a diretriz emanada pelo diretor Clínico do hospital – que acumula também o cargo de diretor do serviço de Infeciologia de forma ilegal – de internar na mesma enfermaria grávidas com e sem infeção por covid-19, apesar de existirem vagas em serviços exclusivamente destinados a doentes” infetados com o vírus.

Com esta atitude, sublinha o sindicato, o presidente do conselho de administração do Hospital Garcia de Orta “evidencia, mais uma vez, o caráter autoritário que já tinha demonstrado enquanto diretor executivo do ACES [Agrupamentos de Centros de Saúde] Almada-Seixal”.

No entendimento do sindicato, a gestão do hospital durante a pandemia por covid-19 “tem sido desastrosa, com claro prejuízo dos doentes no acesso a cuidados de saúde”.

De acordo com o SMZS, os tempos de bloco operatório foram drasticamente reduzidos, nomeadamente para os serviços de ginecologia e obstetrícia, ortopedia e neurocirurgia, que têm acesso ao bloco apenas de três em três semanas.

“Por isso, os doentes oncológicos da ginecologia (13) e neurocirurgia (14) continuam a aguardar tempos para ser operados”, adianta.

O sindicato diz também que a ortopedia tem 40 doentes com fraturas a aguardar sala operatória.

Esta decisão, segundo o sindicato, resulta no agravamento das listas de espera para cirurgia e promove o recurso aos hospitais privados através dos cheques-cirurgia.

“Durante este período epidémico, também de forma prepotente, os jovens médicos internos da Formação Geral foram obrigados a cumprir horários excessivos e ilegais no serviço de urgência, sem apoio qualificado”, destaca o sindicato.

O SMZS lembra ainda que a “atitude autoritária e persecutória” do conselho de administração do hospital “tem levado à saída de vários médicos, nomeadamente do serviço de pediatria, cuja urgência se mantém encerrada no período noturno desde novembro de 2019 por falta de médicos”.

A demissão do diretor do serviço de Ginecologia/Obstetrícia do Garcia de Orta já tinha sido criticada pelo Sindicato Independente dos Médicos, que considera que a decisão foi tomada de forma “leviana”, e pela Ordem dos Médicos que pediu explicações à administração.