Beber muita água é um conselho recorrente ouvido de médicos e nutricionistas. E o que pode acontecer se bebermos demasiada água? A desidratação pode fazer-lhe mal, mas o excesso de água também.

"A percentagem de pessoas que bebe menos água do que deveria é muito maior do que o número de pessoas que a excede. Mas é curioso que, nos últimos anos, observamos este fenómeno de pessoas que seguem certos hábitos de vida saudáveis e levam a garrafa de água para todo o lado", explica o professor Lluís Serra-Majem, professor de Hidração na Universidade de Las Palmas, citado pelo El País.

A recomendação da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) de beber dois litros e meio de água por dia pode não fazer sentido se a pessoa em causa consumir grandes porções de alimentos ricos em água ao longo do dia, como sopa, fruta e legumes, escreve o jornal, que adianta que contar os copos de água não tem qualquer efeito prático.

Do ponto de vista metabólico, beber mais água do que o recomendado não deveria representar um problema, porque o corpo humano é capaz de filtrar e expelir quando esta predomina em demasia. No entanto, um estudo da Universidade de Monash, na Austrália, chegou a conclusões diferentes: através de ressonâncias magnéticas, os cientistas mediram a atividade cerebral e o esforço envolvido na ingestão de água.

Os cientistas dividiram os voluntários do estudo em dois grupos e analisaram dois cenários: ingestão de água com sede, após a prática de exercício físico; e consumo de água sem sede, depois do consumo de grandes quantidades de água.

Segundo o estudo, o cérebro ativa determinados mecanismos de defesa quando ingerimos líquidos em excesso. Por isso, os testes revelaram que nos casos de consumo excessivo o cérebro manda encerrar a garganta fazendo triplicar o esforço para engolir líquidos. E o problema agrava-se porque muitas vezes essa sensação é erradamente interpretada como a necessidade de ingerir mais água, explica o El País. "Isto significa que temos de superar algum tipo de resistência cerebral" para continuarmos a beber água, esclarece Michael Farrell, líder da referida investigação.

Mortes por excesso de água

O jornal espanhol recorda ainda vários casos de desportistas que morreram por excesso de hidratação. A este fenómeno chama-se Hiponatremia Associada ao Exercício. A norte-americana Cynthia Lucero é um desses casos. Ficou em coma e morreu depois de terminar a Maratona de Boston em 2002.

O excesso de hidratação provoca um distúrbio hidroeletrolítico e um aumento da pressão intracraniana, dores de cabeça, náuseas, vómitos, confusão mental e pode causar convulsões, coma e até morte.

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