“Vivência do cancro da mama na relação mãe e filhos e no exercício do papel parental” é o nome do estudo científico realizado na Universidade do Porto (UP) a 17 famílias do Norte do país, no qual se concluiu que a relação parental “muda, a longo prazo, quando há cancro da mama nas mães”, mas muda para melhor.

Segundo Rita Tavares, psicóloga e autora do estudo da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UP, foram entrevistadas mães com cancro de mama diagnosticado há três anos e outras que receberam aquele diagnóstico há 13 anos. O que se verificou é que a notícia do cancro da mama foi um “acontecimento marcante”. Mas quando é ultrapassado, e as mães se conseguem distanciar, conseguem ver que aquela “vivência fez com que a relação mães e filhos melhorasse”.

As mães passam, por exemplo, a estar mais disponíveis para os seus filhos, porque como estão em tratamento acabam por ficar desempregadas ou estão de baixa médica.

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Há outras mães que tentam manter ao máximo as rotinas, mesmo que isso as prejudique, como por exemplo ir levar os filhos à escola que envolve um grande esforço para continuar a ir.

Em algumas famílias, as crianças foram envolvidas no processo da própria doença, como por exemplo, fazerem os curativos às mães ou um caso em que uma mãe deixou que o filho se envolvesse quando teve de rapar o cabelo.

“O filho cortou-lhe o cabelo e depois ele também cortou”, conta Rita Tavares, referindo que as famílias também tentam aligeirar a vivência do cancro, usando muito o humor, como foi o caso de uma mãe que brincou com o filho quando o cabelo lhe estava a cair e lhe disse: “Desta vez podes puxar-me o cabelo, que a mãe não se zanga”.

No estudo qualitativo verificou-se também que na maioria das famílias, o pai, que não tem cancro, passa a ser “mais ativo na educação dos filhos do que era anteriormente”, avançou Rita Tavares, contudo não se podem generalizar estes comportamentos parentais, porque a amostra é reduzida.

O estudo, realizado entre maio e julho de 2015, revela também que neste período da descoberta de cancro, as mães preocupam-se muito com os seus filhos, principalmente quando são menores de idade, e os próprios filhos passam a preocupar-se mais com as mães.

“Quando estas mulheres recebem o diagnóstico do cancro da mama, focam-se muito nos seus filhos” e têm medo de que possam andar mais ansiosos, que possam andar mais deprimidos. Têm medo que o seu rendimento escolar possa diminuir, têm medo que possam não conseguir lidar com as exigências laborais, por estarem muito focados na mãe”, conta a psicóloga.

Segundo Rita Tavares, ser mãe é um “fator protetor para a vivência do cancro da mama”, porque, defende só o facto de serem mães faz com que elas sintam que têm uma maior motivação para “superar a doença”.

“Sentem que têm de estar cá por causa dos filhos. Têm de estar presentes no desenvolvimento deles”.

Os filhos, por seu lado, também acabam por ser uma fonte de “grande apoio”, tanto ao nível “mais instrumental”, como por exemplo nas tarefas de casa, mas também dão “muito apoio emocional”, designadamente quando as crianças são mais pequenas ficam muito afetivas com as mães, acabando por dar mais mimos.

O estudo foi realizado com famílias muito diversificadas, oriundas essencialmente do Norte de Portugal, designadamente de Espinho, Lousada, Porto, Santa Maria da Feira e todas as mulheres entrevistas viviam som os seus filhos em casa.