Na história do futebol, muitos lembram da imagem de alguns jogadores em campo claramente acima do peso, como Diego Maradona, Antonio Cassano, Adriano ou Ronaldo. Os quilos a mais costumam ser um problema para alguns atletas depois das férias e, desta vez, a causa não será o excesso de caipirinhas durante as noitadas, mas sim as delícias da cozinha caseira e a tentação de ter um frigorífico sempre por perto, além da redução da atividade física."Eu sigo o programa de exercícios que o clube nos enviou, mas não é o mesmo que um treino coletivo. Tenho que ter cuidado para não engordar. A minha esposa gosta de cozinhar e eu gosto de comer, é uma combinação perigosa. Temos muitos biscoitos em casa para as crianças e como sempre cada vez que tomo chá", admite o médio galês da Juventus Aaron Ramsey.Com a degradação dos treinos e a manutenção do aporte calórico, os atletas correm o risco de perder massa muscular e aumentar o percentual de gordura, algo contra o qual combate Xavier Frezza, preparador físico que trabalha com jogadores profissionais.

'Lidam bem com isso'

"Os atletas fazem muitas atividades físicas, então têm uma alimentação bastante rica, ligada à sua disciplina. Se a atividade for mais leve, como acontece agora, e mantiverem o mesmo regime alimentar, caem numa armadilha. Eles podem ganhar rapidamente um pouco de peso, combinado com a falta de forma física", explica o especialista.

A ameaça é especialmente séria para os atletas com planos nutricionais preparados para treinos intensos, como ocorre por exemplo com os nadadores.

"O meu grande problema é a comida, porque sou um guloso", explicava o nadador francês Florent Manadou à AFP no início do confinamento, que em França começou em março. "Quero manter-me em forma, porque sei que o regresso à água será difícil", continuou o campeão olímpico dos 50 m nos Jogos de Londres-2012.

Por outro lado, muitos atletas têm o hábito de cuidar do peso, seja para manter o rendimento ou para entrar dentro de parâmetros em desportos em que a estética importa. Ou até para terem a autorização para competir em categorias divididas por pesos, explica Eve Tiollier, nutricionista no INSEP, o Instituto Nacional do Desporto francês.

"Por enquanto, estão a lidar bem com isso e o indicador que temos - o peso - mantém-se relativamente estável. Há um programa de treino e não vejo sinais de que a ansiedade ou o tédio ligados à situação tenham um grande impacto no seu compromisso", completa.

Não à dieta

"Veremos depois como estamos de verdade no momento em que for possível sair" depois do confinamento, continua Tiollier. O mais importante não será tanto o peso, mas sim as proporções de massa muscular e gordura corporal, que podem ficar desequilibradas sem que o número que aparece na balança se modifique muito.

Para Jean-Jacques Menuet, médico da equipa de ciclismo Arkea-Samsic, os atletas devem conservar "um peso que será compatível com o reinício das corridas".

"Eu aceito que ganhem um, dois ou três quilos. Sabemos que poderão recuperar o peso para estar em forma, progressivamente, durante as cinco ou seis semanas que precederão o reinício das corridas", completa.

"Eu faço-os descobrir verduras novas, receitas novas. Alguns antioxidantes, o zinco, algumas vitaminas, especialmente a vitamina D, que tem propriedades que estimulam as defesas imunitárias", explica o médico.

Mas também é preciso ter cuidado com a vontade de emagrecer neste período de paralisação, avisa Tiollier: "A mensagem é dizer aos atletas que tenham cuidado. Sabemos que o déficit energético é um dos motivos que pode fragilizar o sistema imunitário. Não é o momento para isso".