Contaminação de rios, aquíferos, solos e ar com partículas radioativas, além do risco de doenças respiratórias e oncológicas, são alguns dos "sérios perigos" apontados à Lusa por Nuno Sequeira, membro da direção nacional da Quercus - Associação Nacional da Conservação da Natureza.

Face aos riscos, a Quercus entende que o governo português deve pedir esclarecimentos ao congénere espanhol e manifestar a vontade de participar na discussão pública do projeto, uma vez que, adiantou, se trata de três áreas de exploração de urânio a céu aberto, situadas a 20 a 100 quilómetros de Portugal, de localidades dos distritos da Guarda e de Bragança.

Confrontado pela Lusa com o assunto, o Ministério do Ambiente indicou que solicitou uma atualização da informação à Agência Portuguesa do Ambiente.

Populares e ambientalistas de Boada, em Salamanca, pediram hoje aos portugueses, residentes em zonas fronteiriças próximas, que os ajudem a travar o projeto de exploração de urânio, previsto para o território de Retortillo/Villavieja.

Segundo o secretário da plataforma espanhola Stop Uranio, José Sánchez, é um território "muito próximo" de uma das entradas do Parque Natural do Douro Internacional.

Dois cursos de água atravessam território

O ambientalista disse que "há dois cursos de água que atravessam o território onde vai ser instalada a exploração mineira de urânio, que vão desaguar no rio Douro, junto ao território de Saucelle (Espanha) e Freixo de Espada a Cinta (Bragança), a jusante da barragem espanhola de Saucelle".

Para o dirigente da Quercus Nuno Sequeira, "os impactos negativos são muito grandes", não só para o ambiente e a saúde, mas também para a agricultura e o turismo.

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"[O projeto] é incompatível com o desenvolvimento do interior de Portugal", sustentou, assinalando que os resíduos de urânio "são dos mais perigosos".

De acordo com documentos a que a Lusa teve acesso, a instalação mineira conta com Declaração de Impacto Ambiental favorável, aprovada pela Conselharia de Fomento e Meio Ambiente da Junta de Castela e Leão, com data de 08 de outubro de 2013.

Ambientalistas e representantes dos municípios espanhóis abrangidos pelo projeto mineiro, da empresa Berkeley Minera España, SA, admitiram já ter recorrido a instâncias europeias, por o mesmo se encontrar em zonas de proteção especial, como a Rede Natura 2000.

Em nota enviada à Lusa, o Partido Ecologista "Os Verdes" indicou ter interpelado o governo português sobre os impactos ambientais e de saúde pública transfronteiriços que poderão advir da instalação de uma unidade de processamento de urânio na província espanhola de Salamanca.