
A disparidade é grande, reconhece Fatumata Baldé, presidente da comissão guineense que luta contra a excisão, mas refere que o facto de haver alguém preso está a ser dissuasor.
“No sul, numa aldeia que decidiu abandonar a prática, houve um imã [líder muçulmano] que defendeu que a excisão devia continuar. Uma fanateca [mulher que executa a mutilação] entregou-lhe a faca e disse-lhe que, se quisesse, que a fizesse ele, porque ela não queria ir presa”, descreve.
No Dia Internacional de Tolerância Zero para a Mutilação Genital Feminina (MGF), que se assinala no sábado, Fatumata quer visitar as pessoas que estão presas por cometer o crime.
“Apesar de violarem a lei, merecem ser tratados com respeito por todos os direitos humanos”, sublinha à Lusa.
A visita serve para verificar as condições em que se encontram e até que ponto estão arrependidos do que fizeram.
A presidente da Comissão Nacional para o Abandono de Práticas Nefastas quer que estas pessoas sirvam de referência e como líderes de opinião para acelerar o abandono de um hábito ancestral, sobretudo junto das comunidades muçulmanas.
Essa é a mesma razão pela qual a data vai ser assinalada na Guiné-Bissau com atividades na tabanca (aldeia) de Bidjini, no centro do país: “é uma tabanca com influência”.
Fatumata Baldé diz que a MGF está a diminuir na Guiné-Bissau de forma notória.
Este ano deverá ser realizado um novo estudo para complementar as informações recolhidas no Inquérito aos Indicadores Múltiplos (MICS) promovido pelo Governo e Nações Unidas – e cuja última edição corresponde a 2014.
Os dados do MICS são os únicos disponíveis e mostram que a percentagem de mulheres da Guiné-Bissau com idades entre os 15 e os 49 anos afetadas pela excisão desceu de 50 para 45% entre 2010 e 2014.
Há um senão: com medo da lei, há cada vez mais pais a sujeitar as filhas à MGF quando ainda são bebés, para haver menos possibilidades de denúncia.
De acordo com os testemunhos das mães recolhidos em 2014, 49,7% das raparigas guineenses ainda são alvo de alguma forma de MGF, desde que nascem até aos 14 anos.
E aos recém-nascidos nada resta senão depender dos adultos, num país em que ainda há quem defenda publicamente a mutilação.
Em julho, um grupo encabeçado por líderes muçulmanos divulgou um abaixo-assinado entregue na Assembleia Nacional Popular para reverter a lei que desde 2011 criminaliza a mutilação.
A iniciativa não avançou, mas para Fatumata Baldé mostra a luta que ainda está pela frente para mudar mentalidades.
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