O estudo, integrado no projeto VIDAS - Valorização e Inovação em Demências, depois de uma investigação que demorou cerca de dois anos, envolveu 1.503 idosos de 23 instituições, avaliados por psicólogos e neurologistas para detetarem a existência de demências e o seu grau.
No final, foi possível ficar a saber que 90% dos idosos nos lares tem alterações cognitivas que sugerem demência, sendo que dentro deste grupo, 78% tem efetivamente um quadro de demência. Por outro lado, a maioria dos lares não estão preparados para dar tratamento a este tipo de doença.
Constatou-se ainda que apenas três por cento dos idosos nos lares não tem alterações cognitivas e 8% tem alterações cognitivas, mas sem demência.
Em declarações à agência Lusa, o coordenador do estudo explicou que, numa primeira fase, foi pedido aos diretores técnicos e aos responsáveis das unidades para identificarem os idosos com e sem alteração cognitiva e aqueles com e sem demência.
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Segundo Manuel Caldas de Almeida, havia entre 25% a 30% de idosos com demência, 5% de idosos sem alterações cognitivas e 6% com alterações cognitivas sem demência.
Os dados mostram também que 70% dos idosos naqueles lares não estavam detetados como tendo defeitos cognitivos.
Estes números alteraram-se significativamente na segunda fase do estudo, em que seis psicólogos avaliaram os 1.503 idosos e cujo diagnóstico foi posteriormente comprovado por duas neurologistas, tendo então revelado que a maioria dos idosos nos lares tem demência.
Entre os idosos avaliados, em 48% os sintomas iniciais da doença manifestaram-se na memória, mas em 55% afetou outros domínios cognitivos e em 33% alterou o comportamento.
Se na maioria (80%) a forma de início da demência foi progressiva, em 20% manifestou-se de forma aguda. Já a evolução da doença aconteceu em 67% dos casos de forma progressiva e apenas em 2% havia tendência a melhorar.
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“Existe um número muito importante de pessoas com demências nos lares, e um número importante de pessoas com demência em que essa demência não é reconhecida”, apontou Caldas de Almeida.
O psiquiatra admitiu que o número final ultrapassou as expectativas iniciais e defendeu, por isso, que é preciso transformar os lares, já que estas instituições não estão a prestar um bom serviço em matéria de demências.
“Não [estão a prestar um bom serviço] porque não estão preparados para ter pessoas com demência”, apontou.
A demência é uma doença que "não é provocada por uma pessoa estar em casa ou num lar", explicou Caldas de Almeida, salientando que uma tão elevada percentagem de pessoas com demência nos lares tem a ver com o envelhecimento da população e com o facto de serem as pessoas mais frágeis e mais dependentes que são referenciadas.
“Obviamente, os lares têm uma percentagem muito maior de pessoas com demência do que a sociedade em geral”, acrescentou.
No estudo da UMP participaram 1.503 pessoas, com idades entre os 46 e os 105 anos, a maioria (709) dentro dos 80 aos 89 anos, 30% do sexo masculino e 70% do sexo feminino.
Um total de 94% tem a escolaridade primária, 83% foram operários, trabalharam no setor primário ou eram trabalhadores não qualificados. Em matéria de estado civil, 57% é viúvo e 21% é solteiro.
Antes da institucionalização, 30% dos idosos tinham estado num centro de dia e 30% tiveram apoio domiciliário.
O motivo da institucionalização num lar teve a ver, em 42% dos casos, com uma dependência e em 30% com o isolamento ou solidão. 35% dos idosos tinha uma doença neurológica prévia, sendo que 65% destes ficaram com sequelas.
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