A relação entre a saúde oral e a saúde cardiovascular tem sido cada vez mais abordada por profissionais do ramo da saúde, sendo reconhecida como um fator crucial para o bem-estar geral. De facto, embora a boca e o coração possam parecer órgãos muito distintos, estão intrinsecamente ligados, uma vez que o incorreto funcionamento de um impacta o funcionamento do outro. Compreender esta relação bilateral é, por isso, essencial para entender a saúde de forma mais holística, onde comportamentos preventivos se tornam centrais para o correto funcionamento de todo o corpo, desde a boca ao coração.

“Complicações na saúde oral podem ter fortes consequências na saúde do coração, e vice-versa. Na verdade, ao contrário do que ainda se possa pensar, manter os cuidados com a saúde oral não só previne problemas dentários como pode também desempenhar um papel importante na proteção do coração e na prevenção de doenças cardiovasculares. Por este motivo, assegurar certos hábitos de higiene como a escovagem dos dentes ou a realização de consultas de rotina com o médico dentista é fundamental para promover uma saúde geral equilibrada e integrada”, começa por explicar Pedro Cosme, Médico Dentista na Malo Clinic Lisboa.

Desta forma, com a chegada do Dia Mundial do Coração, que se comemora a 29 de setembro, Pedro Cosme revela três relações entre a saúde cardiovascular e a saúde oral:

Problemas orais podem levar ao aumento de complicações cardíacas

Uma saúde oral precária pode contribuir para problemas na saúde cardiovascular, contribuindo para a formação de placas de aterosclerose ou trombos, aumentando o risco de enfarte ou acidentes vasculares cerebrais (AVC). Certas infeções orais como a periodontite, que afetam as gengivas e tecidos que suportam os dentes, libertam bactérias que podem entrar na corrente sanguínea, prejudicando a capacidade de os vasos sanguíneos dilatarem corretamente.

Isto pode levar ao desenvolvimento de condições cardíacas, tais como hipertensão, aterosclerose ou disfunção endotelial, exacerbando o risco de ataques cardíacos e derrames. Em casos graves, essas mesmas bactérias podem alojar-se nas válvulas do coração, levando a infeções graves e potencialmente mortais. O mesmo pode acontecer após pequenas intervenções cardíacas, como a aplicação de stents, próteses valvulares ou pacemakers, cujo risco de complicações aumenta exponencialmente como consequência de uma má saúde oral.

Doenças cardiovasculares aumentam a vulnerabilidade a infeções orais

Ao mesmo tempo, doenças cardiovasculares podem também diminuir o fluxo sanguíneo destinado aos tecidos orais, prejudicando a nutrição e oxigenação das gengivas e outros tecidos. Este fenómeno compromete também a capacidade do corpo de responder eficazmente às inflamações e combater as bactérias na boca, aumentando a sua vulnerabilidade a infeções, tais como a periodontite, criando um círculo vicioso de problemas inflamatórios com consequências graves na saúde sistémica. Por esse motivo, pacientes com problemas cardíacos apresentam um maior risco de complicações periodontais.

Medicamentos para tratar doenças cardiovasculares podem impactar a saúde oral

Para tratar certas complicações cardiovasculares, os doentes recorrem frequentemente a medicamentos que podem ter efeitos secundários na saúde oral. Os diuréticos ou anti-hipertensores, por exemplo, usados para controlar a pressão arterial, podem levar à secura da boca (xerostomia). Esta complicação aumenta o risco de problemas orais como cáries e doenças gengivais, devido à diminuição da produção de saliva. Além disso, os vasodilatadores, antiagregantes plaquetários (aspirina) ou anticoagulantes, usados para fluidificar o sangue e facilitar a circulação e prevenir enfartes ou AVCs, aumentam o risco de hemorragia e inflamação gengival e tornam mais complicada qualquer intervenção ou tratamento dentário, sobretudo os cirúrgicos, aumentando o risco de complicações com extrações ou implantes.

Para assegurar uma saúde plena em todas as suas vertentes, é essencial assegurar hábitos saudáveis tais como uma alimentação equilibrada, a prática de exercício físico e a manutenção do acompanhamento médico para detetar e prevenir qualquer complicação.

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