A confiança excessiva nos equipamentos digitais pode afetar a forma como pensam os jovens. O especialista Mal Fletcher avisa que o que é hoje um sinal de demência pode transformar-se no estado normal da mente em 2022.

Mal Fletcher, que vai estar hoje no porto e no domingo em Lisboa, defende que a oportunidade tecnológica pode ser aproveitada, mas com disciplina e confinada a algumas áreas da vida.

O especialista em tendências da comunicação veio a Portugal a convite da Jervis Pereira e da MTW - Media Training Worldwide Portugal para participar em conferências sobre o registo cada vez mais assíduo do digital na vida das pessoas, principalmente dos jovens, substituindo o contacto presencial pela comunicação através dos ecrans.

Os jovens adultos, com menos de 30 anos, são "nativos digitais" e adeptos da utilização de instrumentos digitais, não só como forma de estar em contacto com os amigos, mas também como um mecanismo para "produzir alterações sociais", disse à agência Lusa o especialista.

“The Future is Y - Engaging the Millennial Generation” é o tema das intervenções de Fletcher, que defende que "os jovens adultos vão tirar o maior proveito da experiência digital se disciplinarem o seu uso e, de vez em quando, tornarem livres de 'gadgets' algumas áreas da suas vidas".

Fletcher exemplifica com um estudo onde se sugere que os estudantes que usam regularmente a rede digital podem atingir níveis escolares mais baixos do que aqueles que não o fazem. Os psicólogos referem-se a uma "presença ausente" relacionada com a ideia de muita gente na mesma sala, mas sem contacto entre si, porque estão ocupados no ciberespaço.

"A experiência digital não nega a necessidade de contacto físico, antes realça esta necessidade", salienta Mal Fletcher, que aconselha os pais a criarem em casa zonas livres de aparelhos digitais para evitar que as crianças se tornem "desastradas" na interação social, uma capacidade que inclui a leitura e compreensão da linguagem corporal e que exige prática.

Questionado sobre a possibilidade da "sobrecarga" de opções digitais - no trabalho, em casa, na vida social e nas relações entre as pessoas - tornar-se doentia, Mal Fletcher diz que qualquer comportamento humano, se levado a extremos, pode ser, "se não uma doença, uma fraqueza habitual".

E acrescenta mesmo que pode levar à crescente incapacidade de concentração, dificuldade em interpretar a linguagem corporal das pessoas ou mesmo à inaptidão para gerir as finanças pessoais.

Num dos seus artigos, o especialista afirma que aquilo que é atualmente encarado como sinal de demência pode vir a tornar-se no estado normal da mente em 2022, com a população a evidenciar um declínio das funções mental e social.

As tecnologias "vêm e vão, como sempre aconteceu ao longo da história, mas os seres humanos mantêm-se essencialmente os mesmos. Aprendemos coisas novas e adaptamo-nos ao ambiente de vários modos, mas as questões fundamentais que colocamos sobre a vida, o seu significado, não mudaram muito através dos tempos", explicou à agência Lusa, em resposta a questões enviadas por escrito.

Atualmente, a diferença é que a tecnologia permite juntar a parte fisiológica e a mecânica e já parece estar a entrar não só no trabalho e no lar, mas também no corpo humano, através de chips.

Mal Fletcher lidera o 'Think Tank 2020Plus', sedeado em Londres, e investiga as tendências sociais há mais de duas décadas.

10 de fevereiro de 2012

@Lusa