"Cada vez mais deixamos de ter agentes antimicrobianos que consigam combater as infecções, principalmente ao nível das bactérias multirresistentes", disse hoje à agência Lusa o professor Nuno Azevedo, do Departamento de Engenharia Química da FEUP.

O ritmo de aparecimento de estirpes resistentes aos antibióticos "é bem maior do que o desenvolvimento de novos antibióticos", havendo necessidade de "arranjar novas maneiras de as combater", frisou o líder do projeto.

Financiado pelo programa Horizonte 2020 (H2020), este projeto assume, assim, "particular importância, numa altura em que as notícias de surtos de bactérias resistentes a antibióticos são cada vez mais recorrentes", indicou o também investigador do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), da FEUP.

Segundo Nuno Azevedo, o grupo de investigação que lidera tem-se dedicado a estudar e a desenvolver métodos alternativos de tratamento antibacteriano, através do uso de "mímicos" de ácidos nucleicos (macromoléculas que formam o DNA e o RNA).

A equipa pretende "desenhar moléculas compostas por esses mímicos, que se conseguem ligar ao ADN ou RNA do microorganismo em locais específicos, provocando a inibição de determinados genes essenciais à sobrevivência do microorganismo e levando, por consequência, à sua morte", disse.

Uma das vantagens deste método, explicou, é trabalhar com moléculas que se comportam da mesma maneira que o ADN e o ARN presentes em todos os organismos, mas que não são degradadas por enzimas bacterianas.

Além disso, "se o microrganismo tiver uma mutação que lhe confira resistência à molécula, muito facilmente conseguiremos redesenhá-la e alterá-la para combatê-lo novamente", indicou o investigador.

Os investigadores da FEUP estão igualmente a desenvolver sistemas de entrega desses mímicos no interior dos microorganismos, recorrendo ao uso de nanopartículas.

Esta trata-se de uma abordagem que tem sido utilizada para o tratamento de células cancerígenas, mas cuja aplicação em micoorganismos não foi ainda testada, "o que poderá representar uma importante alternativa ao tratamento tradicional com antibióticos neste tipo de infeções", acrescentou o professor.

O projeto terá a duração de três anos, durante os quais a equipa procurará estabelecer a área de investigação, desenvolvendo as capacidades ao nível da tecnologia e logística.

No futuro, com base nos resultados obtidos, o grupo tenciona desenvolver novos agentes antimicrobianos, que possam ser adaptados consoante as mutações das bactérias, mantendo assim a eficácia.

Este projeto conta com a colaboração do Nucleic Acid Centre of SDU, da Dinamarca, que desenvolve mímicos de ácidos nucleicos, e do Laboratory for General Biochemistry and Physical Pharmacy, da Universidade de Ghent (Bélgica), que cria estratégias para a entrega de ácidos nucleícos em células animais.