“Trata-se de um pico de procura que tradicionalmente só costuma ser atingido no inverno, em janeiro. Há, portanto, uma antecipação em dois meses que coloca mais pressão ao Serviço de Urgência”, de acordo com uma resposta enviada hoje à agência Lusa pelo Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra).

Os doentes atendidos na Área Dedicada a Doentes Respiratórios representam, neste momento, apenas 12,4% na urgência geral, enquanto que os utentes que procuram a urgência pediátrica já têm um peso de 63%.

Verifica-se, no entanto, uma afluência “muito significativa” de doentes que não configuram casos de urgência hospitalar: Seis em cada 10 doentes que ocorrem às urgências (Básica, Respiratória, Pediátrica e Ginecologia/Obstetrícia) têm atribuída uma pulseira verde e azul, segundo a Triagem de Manchester.

“Esta é uma questão estrutural, em grande parte devida aos constrangimentos existentes nos cuidados de saúde primários”, refere o hospital, observando que, “praticamente 150.000 utentes dos concelhos de Amadora e de Sintra não têm atribuído médico de família e encontram no HFF o último reduto para os seus problemas de saúde”.

Os centros hospitalares universitários Lisboa Central (CHULC) e Lisboa Norte (CHULN) também têm registado uma afluência de doentes não-covid às suas urgências, muitos em situação grave, a precisar de internamento, aumentando a pressão sobre as unidades de saúde.

No CHULC, que integra os hospitais São José, Curry Cabral, D. Estefânia, Santa Marta, Capuchos e Maternidade Alfredo da Costa, o número de doentes internados por via da urgência aumentou “quase o dobro em relação àquilo que é a norma”, segundo Paulo Espiga, vogal executivo do Conselho de Administração, adiantando que são “doentes complicados” que implicam “muitos cuidados” e internamento.

Também no CHULN, que engloba os hospitais Santa Maria e Pulido Valente, apesar de continuar a haver doentes com pulseiras verdes e azuis nas urgências, está a assistir-se a aumento de doentes com pulseiras amarelas e vermelhas (casos urgentes) que chegam a ultrapassar, às vezes, 70% do total da afluência à urgência, adiantou o diretor clínico do centro hospitalar, Luís Pinheiro.

Tal como nestes centros hospitalares, também no HFF os doentes internados com covid-19 não representam atualmente uma grande pressão sobre os internamentos.

“A pressão covid está controlada” no hospital, que na quarta-feira tinha 13 doentes internados em enfermaria e um em cuidados intensivos, muito longe dos níveis atingidos no final de janeiro deste ano, quando teve perto de 400 doentes internados.

Segundo o hospital, este número de internamento é “compatível com os planos de recuperação da atividade cirúrgica” em curso”.

No atual nível do plano de contingência covid, o hospital tem alocadas a esta doença uma enfermaria (30 camas) e três camas de Unidades de Cuidados Intensivos, o que “de toda a forma” limita a capacidade de internamento no HFF, que serve dois concelhos e uma população de mais de 550.000 habitantes.

Dados da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo avançados na quarta-feira à Lusa indicavam que estavam internados nos hospitais desta região 159 doentes com covid-19, sendo 138 em enfermaria e 21 em Unidade Cuidados Intensivos.